Arábia Saudita. Ondas que vão e vêm num mar negro de petróleo

Como todos os países islâmicos, divididos por fortes poderes religiosos que se confundem com territórios, a Arábia Saudita só se tornou verdadeiramente uma nação em 1932.

Ao contrário do que aconteceu a muitos dos governantes dos países vizinhos, o fundador da Arábia Saudita nunca foi um beduíno errático ou um líder tribal. Era apenas o chefe de uma região relativamente próspera, de agricultura fértil e que se chamava Diriyah, mais tarde rebaptizada de Riyadh, e o seu nome completo é próprio para quem quer apanhar uma cãibra na língua: Muhammad bin Saud bin Muhammad Al Muqrin Al Muridi. Podia não ter sido educado para actividades bélicas mas, mal teve a oportunidade certa, trocou a enxada pelo sabre. E deu-se bem com isso. Alargou francamente a sua zona de influência, ocupou os territórios vizinhos, fundou a dinastia dos Saud e orgulhou-se por o seu reino ser o único que tinha dois lugares sagrados: a mesquita de Meca e a mesquita de Medina. E assim, degrau a degrau, consolidou a sua influência: emir de Riyadh, emir de Nejd e Hasa; sultão de Nejd; Rei de Hejaz e Nedj; primeiro Rei da Arábia Saudita, de 1932 a 1953, ano da sua morte. Actualmente o Rei da Arábia Saudita acumula as funções de primeiro-ministro. É Mohammed bin Salman Al Saud, uma espécie de faz-tudo já que também se encarrega de tomar conta dos Conselhos de Economia e Desenvolvimento e do Conselho dos Assuntos Políticos e Militares. Vá lá saber-se como é que arranja tempo para tudo, mas é um problema lá deles. É filho de Salman bin Abdulaziz Al Saud, que reinou de 2015 até agora e continua a ser, na verdade, o Rei da Arábia Saudita, embora esteja tão debilitado que o filho trata de tudo o que é preciso por sua conta e risco. O pai é tido como um dos 25 filhos do fundador da pátria, o Rei Abdulaziz, embora haja quem considere o número um pouco escasso.

 

Ouro negro

Durante centenas e centenas de anos os árabes fomentaram guerras entre si por mais um punhado de areia. É uma zona do globo que caiu no esquecimento – o Ocidente encolhia os ombros para os emires e para os sultões, muitos deles de pacotilha – mas, em 1938, alguém descobriu que, por debaixo da areia, se se fizesse um buraco com a devida profundidade, encontrava petróleo aos borbotões e isso mudou de uma vez por todas a história dos países do Golfo Pérsico.

 

Cadeia de interesses

Os sauditas não estavam de forma alguma preparados para sacar do solo tanto petróleo. À fase do encantamento e da alegria seguiu-se a fase de ter de trabalhar a sério, erguendo infraestruturas para poderem beneficiar de toda essa riqueza. Em breve a Arábia Saudita se tornou no maior produtor de petróleo do mundo a seguir aos Estados Unidos, estando, nesta época em que vivemos, a encher 11.039 barris por dia, ou seja, 12,5% do total do planeta, só abaixo dos americanos, que enchem, por sua vez, 16.476 barris/dia.

Demorou o seu tempo até que os sauditas tenham tido capacidade para tirar verdadeiramente proveito da sua gigantesca produção. De início só a região de Al-Hasa começou a ser invadida pelas torres metálicas com a chama a brilhar-lhes no topo como um chapéu flamejante. Em 1941 a exploração já se tinha estendido a todo o país e passara a ser um maravilhoso produto de exportação. Oito anos mais tarde o boom atingiu o seu auge: não havia lura de coelho que não atraísse os prospectores. O Rei Abdulaziz esfregava as mãos de contentamento e não tardou a usar a sua mão direita para apertar, num vigoroso shake-hands, o Presidente dos Estados à época, Franklin D. Roosevelt. Este histórico acordo foi assinado a bordo do USS Quincy, estando o navio a flutuar sobre as águas do Canal do Suez. Abulaziz não se sentia muito seguro no posto que ocupava até porque o homem que afastara do poder para ser ele a sentar-se na cadeira do rei do petróleo, Abdul Rahman bin Faisal, tinha, após a sua morte, em 1928, deixado muitos seguidores que se opunham ao novo rei. Todas as cortes de todos os reis do mundo têm a sua dose de maledicência e de conspiração. Era preciso agarrar o trono fosse lá como fosse. Roosevelt fez-lhe uma daquelas propostas que não se podem recusar, tal como afirmava Marlon Brando Corleone na primeira saga de O Padrinho. Em troca de oferecer aos Estados Unidos uma percentagem na produção do petróleo saudita, o exército americano estaria disposto a defender a dinastia Saud. O tempo passou e o acordo continua em vigor.

 

A bandalheira

Como já vimos, Abulaziz morreu em 1953. Saud bin Abdulaziz Al Saud, o seu herdeiro, era um prepotente e não fora preparado para assumir o trono. Só que a morte do seu irmão mais velho, o príncipe Turki I bin Abdulaziz Al Saud, o transformou em herdeiro legítimo. A sua opção governativa foi manter-se em cima do fio do trapézio: recebia com gosto o apoio americano mas juntava-se aos restantes países muçulmanos no contínuo conflito contra Israel, que era protegido pelos EUA. Fez entrar a Arábia Saudita no grupo dos Países Não Alinhados, mas o seu governo desbaratou a economia do país. Usava e abusava dos dinheiros públicos de tal ordem que conduziu a uma guerra com o seu irmão, o príncipe Faisal._No dia 2 de Novembro de 1964, acompanhado pela família exilou-se em Atenas, onde veio a morrer cinco anos mais tarde sem conseguir avançar com a sua pretensão de conduzir o seu filho mais velho ao trono. O sucessor de Faisal seria outro dos filhos de Abulazis, e portanto irmão de Faisal e de Al_Saud, exemplo muito forte da forma como a Arábia Saudita tem sido governada desde a independência. Acima de tudo está a família. E se alguém resolver impor o contrário, os Estados Unidos estão aí para apoiar a família.