A Arábia Saudita tem 36 milhões de habitantes, sendo que 70% da população tem idade inferior a 35 anos e é apaixonada por desporto. Além da forte aposta na principal liga de futebol, paga e muito para ter o Grande Prémio de Fórmula 1, o Mundial de Fórmula E e o Dakar, a maior prova de todo-o-terreno do mundo. Os sauditas criaram também um novo circuito de golfe com o apoio do Public Investment Fund (o mesmo fundo que está ligado ao futebol), e o ATP Tour pode ser o próximo grande investimento extra futebol. O presidente da Associação de Tenistas Profissionais (ATP) confirmou que já houve conversas “positivas” com o fundo soberano saudita, bem como com outros possíveis investidores. A isto chama-se sportswashing, termo usado para a utilização de eventos desportivos por parte de um Governo ou de uma empresa com o objetivo de promover ou limpar a sua reputação, especialmente quando envolta em controvérsia ou escândalo.
Mas nem todos se sentem atraídos por esta nova realidade. O ano passado, o golfista norte-americano Tiger Woods recusou uma proposta superior a 700 milhões de euros para competir na LIV Golfe – a nova liga de golfe financiada pelo fundo saudita – e decidiu permanecer no clássico PGA Tour. O novo circuito começou a atrair os principais jogadores com prémios milionários, e o PGA Tour teve de ceder por uma questão de sobrevivência. Depois de várias trocas de acusações e de ações em tribunal, aconteceu o impensável. O PGA Tour, o LIV Golf e o DP World Tour chegaram a um consenso para formar uma nova entidade comercial com vista a unir o golfe. Uma vez mais os sauditas saíram a ganhar.
O MotoGP é outro exemplo surreal. Os sauditas construíram um circuito provisório só para garantir um lugar no calendário de 2024. Depois vão construir outra pista, que foi apresentada como a maior e a melhor do mundo. Mais difícil de concretizar é a vontade de ficar com a Fórmula 1. O fundo de investimento apresentou à Liberty Media uma proposta de compra superior a 20 mil milhões de euros que foi imediatamente rejeitada pelos americanos, que adquiriram os direitos da Fórmula 1 em 2017 por 4,4 mil milhões de euros. Vamos ver até quando aguentam a pressão árabe. Os sauditas têm também um acordo com a WWE para a realização de provas de wrestling.
A Arábia Saudita já garantiu a Taça das Nações Asiáticas de 2027 e os Jogos Asiáticos de Inverno de 2029 e querem organizar também os Jogos Olímpicos. Pelo meio deixaram cair a candidatura ao Campeonato do Mundo de futebol de 2030, mas tudo farão para organizar o Mundial de 2034. “A Arábia Saudita deve aguardar pelo momento certo para que a sua candidatura tenha pelo menos 90% de possibilidade de êxito”, referiu o presidente da Confederação Asiática de Futebol. Os sauditas já começaram a trabalhar nesse sentido, e são os principais financiadores (200 milhões de euros) da Super League africana, que tem a primeira edição em outubro deste ano.