Os donos da Nação…

O estado da Nação degradou-se e aqueles que a pastoreiam ‘perderam o pé’ e a vergonha.

O ano político – que teve ontem o debate habitual no Parlamento antes dos deputados partirem de férias -, correu mal ao Governo e ao PS e cavou marcas muito negativas no país. O estado da Nação degradou-se e aqueles que a pastoreiam ‘perderam o pé’ e a vergonha.

A aprovação do relatório da CPI da TAP só com os votos socialistas, – juntando contra, em uníssono, as oposições, da esquerda à direita -, é apenas o episódio mais recente de um Governo desorientado, consciente dos sarilhos que o atravessam, e que deita a mão a todos os expedientes para garantir a sua sobrevivência e o controlo do poder.

O ano político que ora finda não podia ter sido mais desastroso para as ambições de António Costa, cuja autoridade ficou manchada, quer pelo desafio de Pedro Nuno Santos – ao anunciar, na sua ausência, a suposta localização do novo aeroporto de Lisboa -, quer por Marta Temido, ao ‘bater com a porta’ na Saúde, de uma forma incomum, pela madrugada, alegando não ter condições para continuar, sem reconhecer a culpa pelo estado lastimoso em que deixou o SNS.

Ambos, por acaso, são vistos como fortes candidatos à cadeira de S. Bento no ‘pós-costismo’. A mediocridade não tem fronteiras. 

O desgaste precoce do Governo foi tal que António Costa sentiu necessidade de travar um ‘braço-de-ferro’ com Marcelo Rebelo de Sousa, para mostrar ‘quem manda’, ao recusar a demissão de João Galamba, outra escolha infeliz.

O Presidente não escondeu o seu agastamento, prometeu maior vigilância ao governo, enquanto o primeiro-ministro ‘assobiou ao cochicho’ e fingiu que não percebeu.

 

O mal-estar do país começou a transparecer nas sondagens, cada vez menos favoráveis ao Governo e ao PS, fazendo soar os alarmes em S. Bento.

A fechar o ano político, a última demissão de um governante, a exalar o perfume das suspeitas de corrupção, foi ‘compensada’ pela megaoperação desencadeada pelo Ministério Público e Judiciária, envolvendo o PSD e o seu antigo líder, Rui Rio.

Entretanto, o primeiro-ministro, amnésico, entreteve-se a garantir, por escrito, que «não desvalorizo a corrupção», completamente esquecido da Entidade para a Transparência e do Mecanismo Anti-Corrupção, organismos que o seu Governo aprovou há anos e que ficaram a ‘marinar’ até hoje. 

Ninguém foi capaz de explicar nem o modo nem a dimensão da operação do MP e das polícias – invasiva do principal partido da oposição -, a começar pela PGR, Lucília Gago. Neste contexto, foi compreensível a indignação, à flor da pele, de Rui Rio, um dos visados pelas buscas domiciliárias, com as televisões à porta.

As autoridades agiram mais uma vez, mediante ‘fuga’ de informação para levar as televisões a reboque – uma prática abusiva, que não abona o MP nem as polícias -, e demonstraram, ao menos, que não lhes faltam recursos humanos, ao contrário do que tem sido invocado, vezes sem conta, para justificar a paralisia operacional.

O debate sobre o estado da Nação estava, por isso, inquinado à partida, com o Governo à defesa, fustigado por uma série de ocorrências que o enfraqueceram, incluindo greves a esmo, desde a inevitável CP aos professores e médicos.

Diga-se de passagem, que o ano político foi fértil em histórias mais do que suficientes para Marcelo ‘dar um murro na mesa’. Por muito menos, Sampaio apeou o Governo de Santana Lopes e a maioria parlamentar que apoiava a coligação.

Mas Marcelo pôs a dissolução ‘no tinteiro’, enquanto Costa retribuiu a ‘bondade’ presidencial impondo um ministro indefensável.

O país continuou a perder terreno no clube europeu, ultrapassado no PIB per capita por vários recém-chegados, com o primeiro ministro empenhado numa campanha, nem sequer subtil, para se convencer e nos convencer de que tem um cargo internacional à espera. 

 

Em cima das férias, com os principais setores mergulhados em crise – desde a Defesa, à Educação, à Saúde ou à Justiça -, a ‘cereja em cima do bolo’ seria uma inopinada sondagem, a pretexto das presidenciais de 2026, onde reapareceu António Guterres, como ‘candidato’ mais bem colocado para suceder a Marcelo, arrasando Santos Silva, relegado para uma posição irrelevante.

A sondagem não foi inocente. De facto, Guterres terminará o segundo mandato na ONU a tempo de ser candidato, caso queira. Tal como Marcelo, também não precisará sequer de fazer campanha, após dois mandatos agitados em Nova Iorque, iluminados com a ‘catástrofe climática’, uma prioridade a superar a invasão russa da Ucrânia ou as outras guerras que dilaceram o planeta.

A cartada de Guterres, a confirmar-se, destronaria, obviamente, qualquer outra pretensão na área socialista, incluindo Santos Silva.

Moral da história: mesmo com o Governo na ‘mó de baixo’, o PS não desiste de voltar a tomar conta do Palácio cor de rosa em Belém. 

Os ‘donos da Nação’ não perdem tempo…