“Avós e Netos”

por Nélson Mateus e Alice Vieira

Querida avó,

Esta semana celebramos o Dia dos Avós. Sou muito grato à vida por te ter colocado na minha vida. Assim como ao Ruy de Carvalho. Aqueles que, hoje, considero avós.

No entanto, nunca esqueço os meus quatro avós de sangue. Aliás, foi graças a eles que dei início ao projeto Retratos Contados. Esta experiência de valorização intergeracional tem sido um trabalho bastante árduo mas com o qual tenho aprendido imenso.

Acho que um dos momentos mais tristes da nossa vida é quando a porta da casa dos avós se fecha para sempre. Por isso temos que valorizá-los enquanto os temos junto de nós!

Quando essa porta se fecha, encerramos os encontros com todos os membros da família, que se juntavam na casa dos avós.

Não voltamos a estar com os tios e primos da forma como acontecia até à data. As celebrações de aniversário, Natal, Pascoa e afins nunca mais voltam a ser as mesmas.

Os avós carregam-nos de amor, são culpados de toda a união familiar e cúmplices das aneiras dos netos.

Os anos passam rapidamente. Em menos de nada, quase sem nos apercebermos, passamos de crianças a abrir presentes, a sentarmo-nos ao lado dos adultos na mesma mesa.

Um dia os avós já não fazem parte das pessoas que se sentam junto de nós. Só vão habitar nas nossas memórias e nas fotografias que, religiosamente, guardamos.

Fechar a casa dos avós é dizer adeus às canções com a avó e aos conselhos do avô, ao dinheiro e doces que nos dão secretamente, como se fosse ilegal. É dizer adeus à emoção de chegar à cozinha e descobrir o que está dentro das panelas, e saborear a comida dos avós.

É doloroso descobrir que as portas das casas dos nossos avós estão fechadas para sempre! No entanto, o mais importante é no nosso coração, e nas nossas memórias, as casas dos nossos avós permanecerem eternamente com as portas e as janelas abertas de par em par!

Obrigado por seres minha avó.

Feliz Dia dos Avós.

Bjs

 

Querido neto,

Quando eu nasci, a minha avó materna já tinha morrido, e a paterna vivia longe e tive sempre pouco contacto com ela. Mas, apesar disso, estou sempre a repetir uma frase que lhe ouvia: «Saúde e paz, que o resto a gente faz». O meu nome vem da minha avó materna, e deito as mãos ao céu por isso porque, se herdasse o da avó paterna, seria “Gertrudes”. Além do nome, sou parecidíssima com a avó Alice.

“Avó Alice” que é o que hoje os meus netos me chamam – até porque há outra avó, evidentemente. De quem todos gostamos muito. Há dias ela veio à Ericeira, e fomos o tempo todo, até minha casa, a gabar as grandes avós que os nossos netos tinham…

Mas quando falo de avós é sempre em relação aos meus netos. Passei muito tempo com eles, quando eram pequeninos e viviam em Inglaterra, na cidade de Leicester, (a mais nova até nasceu lá) onde o meu filho era professor na Universidade. E aí aprendi uma grande lição – que sempre segui. Diante da casa onde eles viviam havia uma grande livraria que, na parede de fora tinha uma grande placa ande se lia : «As 3 regras de ouro de uma grande avó : 1 – dá-lhes amor: 2 – dá-lhes doces; 3 – manda-os para casa». Todas as avós deviam seguir estas regras.

Um dos meus netos acordava sempre a meio da noite com perguntas extraordinárias. Eu chegava ao pé dele, e «avó, estive a “pinsar”»… (De noite era quando ele “pinsava” mais), «no tempo dos dinossauros, já havia homens?». E eu, «não, querido!», e ele «então como é que a gente sabe que eles se chamavam  dinossauros?». E por aí fora.

E sempre arranjei tempo para brincar com eles—brincadeiras malucas que eu e eles adorávamos.

No Verão, a sala era transformada numa praia improvisada e ficava a ver os netos a chapinhar em piscinas insufláveis (debaixo de uma chuva de regador).

Mas nunca fui uma “avó a dias”!

Falta só dizer que dos meus netos “postiços” tu és o meu neto preferido.

Mas isso tu sabes!

Bjs