A dimensão da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) começa agora a ser bem visível nas cidades portuguesas, com milhares de peregrinos a serem recebidos e a participarem em atividades religiosas, e não só, quando faltam três dias para o ‘arranque’ oficial da Jornada. O Papa, esse, continua a surpreender, não tendo aceite reduzir a sua agenda em Portugal, quando até chegou a ser anunciado o contrário (ver infografia). De todas as ações previstas, e são largas centenas, há uma que tem passado despercebida, mas que é vista como uma espécie de desafio à comunidade evangélica portuguesa. No dia 4, sexta-feira, o estádio da Luz será o palco do ‘The Change 2023’, organizado por membros da Aliança Evangélica Portuguesa, a Catholic Charismatic Renewall (CHARIS) e os serviços do Patriarcado de Lisboa. E qual é a grande novidade neste encontro? É que quer os carismáticos católicos, como os evangélicos, que estarão presentes, gostam de animação na suas preces. Isto é: levantam os braços, cantam num linguajar impercetível, tudo por, supostamente, terem uma grande sensibilidade ao Espírito Santo.
A história tem ainda mais alguns ingredientes curiosos, pois o Papa, quando ainda era o cardeal Jorge Mario Bergoglio, dizia que os cristãos carismáticos, uma das correntes da Igreja Católica, eram umas figuras extravagantes e que, por isso, achava que os seus encontros eram do tipo de escolas de samba. Depois, Francisco mudou de ideias e passou a reconhecer que os carismáticos católicos são uma mais valia. «Isto é muito curioso, pois o Papa, sendo considerado um progressista, acabou por acolher os carismáticos católicos, que vão buscar as suas práticas aos primeiros livros do Cristianismo, em concreto Os Atos dos Apóstolos. Isso só demonstra que é impossível categorizar o Papa Francisco», diz ao Nascer do SOL, fonte eclesiástica.
Para apimentar a história, diga-se que Austen Ivereigh, escritor e jornalista, e figura conceituada na ala conservadora da Igreja católica, escreveu: «Francisco pode não rezar em línguas, mas nenhum Papa jamais se identificou tão de perto com a Renovação Carismática Católica, nem foi tão ansioso para movê-la para a frente e para o centro da Igreja».
Diga-se que as semelhanças com os evangélicos tem mais a ver com a tal aproximação ao Espírito Santo, fazendo com que abram os braços e cantem no tal linguarejar estranho, que, visto de fora, se parece com as seitas religiosas espalhadas pelo mundo. Ah! Resta acrescentar que o Papa depois de se ter arrependido de ‘gozar’ como carismáticos católicos, os passou a receber anualmente no Estádio do Roma, tendo, por norma ao seu lado, o cardeal Cantalamessa. E será, pois, muito curioso ver o que se vai passar no estádio da Luz, no próximo dia 4. Braços no ar, gemidos, cânticos esquisitos é o que um não crente irá encontrar, já um católico faz uma leitura diferente: «Têm uma oração muito fervorosa, ardente, inclusive, aceitando que o Espírito Santo os faz orar em línguas desconhecidas».
Papa contra selfies
Antes de chegar a Portugal, o Papa apresentou um vídeo onde respondeu ao Movimento Eucarístico Jovem. A uma pergunta de um jovem da Costa do Marfim, sobre o que espera desta JMJ de Lisboa, Francisco foi claro. «Gostaria de ver em Lisboa uma semente do mundo do futuro. Um mundo onde o amor esteja no centro, onde possamos nos sentir irmãs e irmãos. Estamos em guerra, necessitamos de outra coisa. Um mundo que não tenha medo de testemunhar o Evangelho. Um mundo com alegria, porque os cristãos se não temos alegria, não somos críveis, ninguém acredita em nós».
Uma brasileira também questionou o santo Padre: «Quando vou à Igreja do meu bairro, vejo somente pessoas mais velhas. A Igreja agora é coisa de velhos?». A resposta não tardou. «A Igreja não é um clube para a terceira idade, e tampouco é um clube juvenil. Se se converte em algo de velhos, vai morrer. João Paulo II dizia que se você convive com os jovens, você se torna jovem também, e a Igreja necessita dos jovens para não envelhecer».
Mas a resposta que menos agradará ao nosso Presidente da República foi a de uma jovem filipina que questionou a razão do lema da JMJ. «Querido Papa, por que escolheu como lema desta JMJ ‘Maria levantou-se e partiu apressadamente’». O Papa Francisco não demorou a responder: «Porque Maria, quando sabe que vai ser a mãe de Deus, não fica parada fazendo uma selfie ou pensando o que fazer. A primeira coisa que faz é pôr-se a caminho, apressadamente, para servir, para ajudar. Também vocês têm que aprender a colocar-se a caminho para ajudar os outros».