Há pressa no ar. JMJ começa hoje em Lisboa

Agora é que é. A JMJ começa hoje em Lisboa com a missa de acolhimento no Parque Eduardo VII. O Papa Francisco chega amanhã, com mais de um milhão de peregrinos à sua espera.

Por Raquel Abecasis

Vão ser seis dias como Lisboa nunca viu. Um acontecimento que é também conhecido como o ‘Woodstok católico’, a Jornada Mundial da Juventude, vai juntar na capital portuguesa mais de um milhão de jovens vindos de todo o mundo. Até ao final da semana, o ambiente nas ruas, becos e jardins da cidade vai ser de festa. Como alguém já descreveu, “é um espécie de arraial de Santo António, só que alargado a toda a cidade”. A Jornada Mundial da Juventude é um fenómeno que tem vindo a crescer desde que, pela primeira vez, o então Papa João Paulo II convocou os jovens para um encontro em Roma, em 1984. Logo nessa data, que foi o embrião daquilo que hoje são as JMJ, a realidade surpreendeu os organizadores. Esperavam-se cerca de 60 mil jovens, apareceram 250 mil, vindos de todo o mundo.

No ano seguinte, as Nações Unidas proclamam o ano de 1985 como o Ano Internacional da Juventude. João Paulo II associa-se, convocando os jovens mais uma vez para um encontro em Roma, no Domingo de Ramos. Desta vez, 500 mil marcam presença em resposta ao convite do Papa.

No livro Um longo caminho até Lisboa – Jornadas Mundiais da Juventude, Aura Miguel, vaticanista da Rádio Renascença descreve a reação do Papa polaco àqueles encontros e como daí nasceu a ideia de criar as JMJ: “‘Foi uma experiência maravilhosa e inesquecível’ – comenta o próprio Wojtyla -, ‘aquela assembleia não era uma massa anónima, nem um número, mas uma presença viva e pessoal’. A partir daí, João Paulo II decide celebrar, a cada dois anos, num país e num continente sempre diferentes, a Jornada Mundial da Juventude”.

Um marco para gerações

Buenos Aires foi a primeira paragem oficial da JMJ, em 1987. De Buenos Aires até Lisboa, as Jornadas passaram por: Santiago de Compostela, Czestochowa, Denver, Manila, Paris, Roma, Toronto, Colónia, Sydney, Madrid, Rio de Janeiro, Cracóvia, Cidade do Panamá.

Desde 1987, à medida que as Jornadas se foram realizando, várias gerações de jovens (os de Buenos Aires e Santiago de Compostela têm agora mais de 50 anos), começaram a viver uma experiência que só muitos anos mais tarde se tornaria comum, com o programa Erasmus e com a explosão das Low Cost. Ao mesmo tempo que respondiam ao convite do Papa, estes jovens aproveitavam o evento para trocar experiências com jovens dos quatro cantos do mundo. Ao longo de uma semana, os países que acolheram a JMJ transformaram-se numa enorme festa, com manifestações culturais, encontros com a população e muitas emoções. Muitas são as histórias de vidas mudadas, vocações descobertas, famílias que nasceram nas Jornadas.

Numa simples pesquisa no Youtube sobre as várias Jornadas, é fácil encontrar testemunhos sobre vidas transformadas ao longo destes anos, todas com o mesmo fenómeno em comum: tudo começou com a participação no evento. E o mais curioso é que muitos destes testemunhos começam com muitos destes jovens a dizer que não sabiam muito bem para o que iam. Em muitos casos foram desafios de amigos, noutros, o ambiente de festa prometido que levaram muitos deles a participar.

No livro que publicou por ocasião da JMJ de Lisboa, Aura Miguel conta: “Mergulhado no meio de milhares de jovens que vieram de Portugal está o António A., advogado em Lisboa, ‘fui para Cracóvia com o aguilhão da vocação. Tinha um emprego ótimo num bom escritório de advogados e namorada, mas também tinha inquietações sobre o sentido da vida. Apesar dos meus 25 anos, inscrevi-me para a JMJ de Cracóvia e encontrei lá um missionário australiana. Ele era engenheiro civil e, na JMJ de Sydney, diante do Santíssimo Sacramento, percebeu a sua vocação’. O António A. decidiu fazer o mesmo. Foi rezar, sem pressa, diante do Santíssimo. ‘Claro que, quando estava a rezar, não surgiu uma voz forte a dizer ‘vais ser padre’, mas ouvi dentro de mim: ‘Não tenhas medo, podes ter a certeza de que aquilo que quero para ti vai ser muito maior do que aquilo que podes fazer com as tuas mãos humanas’”.

O maior evento jamais realizado em Portugal

O evento que a partir de hoje começa em Lisboa, com a missa de Acolhimento no Parque Eduardo VII, presidida pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, não tem paralelo com nada que até hoje se tenha realizado no nosso país.

Oficialmente, estão 331 mil peregrinos inscritos de 151 países. Mas a organização nota que esta é apenas uma pequena parcela dos que realmente vão participar, porque a inscrição não é obrigatória. D. Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ, calcula, tendo em conta as Jornadas passadas, que em Lisboa vão estar ao longo destes dias, até um máximo de 1,5 milhões. A organização conta com a ajuda de 33 mil voluntários, vindos também de várias geografias, que, ao longo da semana, se vão desdobrar nas mais variadas tarefas.

A organização das JMJ em Lisboa têm sido acompanhadas de polémica, sobretudo, por causa do envolvimento e financiamento do Estado. A todas estas críticas, Governo, autarquias e os responsáveis da Igreja católica respondem com o impacto que o evento terá na projeção do país e também com o retorno esperado com a presença de mais de um milhão de peregrinos em Portugal. Os próximos dias serão a prova dos nove.