Novo verde ou sem verde nenhum

O apelo ao veganismo à boleia do evento religioso é só ridículo e insultuoso para o Mundo Rural português e para quem por todo o Mundo procura corresponder às necessidades alimentares com sustentabilidade e sentido de equilíbrio.

Pedro do Carmo   Presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura e Pescas

Os fundamentalismos não podem ter nenhuma cobertura religiosa.

A propósito das Jornadas Mundiais da Juventude, alguém terá sugerido que para compensar a pegada ecológica das viagens de avião, os peregrinos pudessem ‘ser vegetarianos durante um ano’.

O apelo ao veganismo à boleia do evento religioso é só ridículo e insultuoso para o Mundo Rural português e para quem por todo o Mundo procura corresponder às necessidades alimentares com sustentabilidade e sentido de equilíbrio.

Quando tantos não têm o básico, fazer apelos fundamentalistas não faz sentido, por lesar os equilíbrios frágeis dos sistemas de produção em muitos territórios e afetar a cadeia alimentar que sustenta os rendimentos das mulheres e dos homens que trabalham no campo e criam animais que fazem parte das tradições alimentares, marcas de identidade diferenciadoras como tantas outras na cultura ou no património histórico.

O apelo que deve ser feito é o de uma alimentação equilibrada, em linha com a dieta mediterrânica e com outras cozinhas assentes em alimentos diversificados.

O apelo que deve ser feito é para um consumo mais esclarecido e orientado para alimentos com baixas pegadas ecológicas entre a produção e o consumo.

O apelo que deve ser feito é para valorizar o espaço rural, as comunidades que nele estão presentes a valorizar o potencial produtivo e a contribuir para a coesão territorial.

Este tipo de fundamentalismos, alegadamente verdes, só contribuem para soluções desequilibradas, para o abandono dos territórios rurais e para a geração de riscos acrescidos nas terras não cultivadas e nas florestas por tratar.

Na ânsia de um novo verde, não teremos verde nenhum.

O Mundo Rural não o permitirá.

É no equilíbrio, na sustentabilidade e na diversidade das culturas e dos consumos que está o ponto.

Deixem-se de fundamentalismos ou pretensas modernidades!