As primeiras palavras públicas do Papa Francisco em Portugal foram de esperança nas gerações mais novas, mas também deixou vários alertas sobre os desafios atuais, como a guerra, a pressão de um ritmo frenético e a crescente desvalorização da família e da vida humana.
“Lisboa, abraçada pelo oceano, oferece-nos motivos para esperar. Há uma maré de jovens que se espraia sobre esta cidade acolhedora”, afirmou em italiano, o sumo pontífice, sentado ao lado do Presidente da República.
Na mesma ocasião, Marcelo Rebelo de Sousa disse que Portugal recebia Francisco de “braços abertos por cinco dias inesquecíveis".
Francisco respondeu com elogios à cidade e com várias referências à relação dos portugueses com o mar. "Estou feliz por estar em Lisboa, cidade do encontro que abraça vários povos e culturas e que, nestes dias, se mostra ainda mais universal. Torna-se, de certo modo, a capital do mundo", afirmou.
Evocou a frase, retirada dos Lusíadas de Luís de Camões, "aqui… onde a terra se acaba e o mar começa", lembrando que durante séculos se acreditou que tudo acabava aqui. "E, em certo sentido é verdade, porque este país confina com o oceano, que delimita os continentes (…) E, do oceano, Lisboa, conserva o abraço e o perfume", disse, pedindo emprestado um dos versos mais conhecidos de Amália: “Lisboa tem cheiro de flores e de mar”. Prosseguindo nas referências marítimas, citou Sophia de Mello Breyner Andresen, Daniel Faria, Fernando Pessoa e José Saramago.
Sobre os jovens salientou a importância da esperança, pois são muitos os fatores que os “desanimam”, como a falta de trabalho, os ritmos frenéticos em que se veem imersos, o aumento do custo de vida, a dificuldade em encontrar uma casa e, ainda mais preocupante, o medo de construir família e trazer filhos ao Mundo”.
O Papa deixou ainda duras críticas ao aborto e à eutanásia, cuja lei foi aprovada recentemente em Portugal. "No mundo evoluído de hoje, paradoxalmente, tornou-se prioritário defender a vida humana, posta em risco por derivas utilitaristas que a usam e descartam", lamentou.
"Penso em tantas crianças não nascidas e idosos abandonados a si mesmos, na dificuldade de acolher, proteger, promover e integrar quem vem de longe e bate às nossas portas, no desamparo em que são deixadas muitas famílias com dificuldade para trazer ao mundo e fazer crescer os filhos", disse, deixando a questão: "Para onde ides se, perante o tormento de viver, vos limitais a oferecer remédios rápidos e errados como o fácil acesso à morte, solução cómoda que parece doce, mas na realidade é mais amarga que as águas do mar?". "Penso em tantas leis sofisticadas da eutanásia", acrescentou.
Recorde-se que Francisco aquando da aprovação da eutanásia, a 13 de maio, disse que o Parlamento português tinha promulgado uma lei para matar.
"Hoje estou muito triste, porque no país onde apareceu Nossa Senhora foi promulgada uma lei para matar. Mais um passo na grande lista dos países que aprovaram a eutanásia", afirmou o Papa, no Vaticano.