“Férias (im)perfeitas”

por Nélson Mateus e Alice Vieira

Querida avó,                                                                                 

Passamos o ano inteiro à espera das bem-ditas, e merecidas, férias. No entanto, aquilo que é sonhado como período de relaxamento e diversão muitas vezes torna-se num pesadelo.

Muitas famílias trocam o stress e a confusão com que vivem diariamente para mergulharem, não em destinos paradisíacos, mas em filas intermináveis no trânsito para irem à praia e ao supermercado…

A pessoa grita por descanso mas acorda à mesma hora que costuma levar as crianças à escola. Vai para a cozinha para fazer comida para um regimento de pessoas, coloca tudo numa catrefada de sacos, agarra nas toalhas, chapéus e afins e vai para a praia…. Chega ao destino e dá pelo esquecimento do brinquedo preferido de uma das crianças, que chora como se a estivessem a matar. Passa o dia a besuntar as crianças com protector solar, desde as unhas dos pés até à ponta dos cabelos, a distribuir sandes e água, para ninguém desidratar, a tomar conta das criaturas na praia ou na piscina. Chega a casa dá banho a todos e vai fazer o jantar. No dia seguinte “vira o disco e toca o mesmo”. Uma canseira!

Muitos sonhamos com viagens românticas, e destinos de sonho, que fazem parte dos nossos desejos desde sempre.

Contudo, nem sempre tudo corresponde ao que vemos em lindos postais e na TV.

Não posso dizer que não gosto de Veneza. Aliás, já lá estive diversas vezes. Mas não deixa de ficar muito aquém das expectativas. Assim como o quadro da Gioconda, que está no Louvre, em Paris. Há quem não veja lá grande coisa, pois o quadro é mínimo. Por falar em Paris, muitos sonham em fazer um piquenique romântico junto da Torre Eiffel. No entanto os jardins junto da Torre estão sempre cheios de gente. A experiência romântica pode rapidamente transformar-se num pesadelo. Tal como a quantidade de pessoas que está sempre junto da Fontana di Trevi, em Roma.

Tudo isto deixou-me exausto. Com vontade de ir de férias.

Bjs

 

Querido neto,

Há muitos anos fui numa excursão a Marrocos. Fazia um calor insuportável, era Agosto. Ninguém, no seu juízo perfeito, vai a Marrocos em Agosto. (D. Sebastião foi, e o resultado viu-se) mas eu fui, e aguentei aquele forno com a ideia de, no fim da viagem – assim estava no programa – acabarmos em Casablanca.

Para mim, e para muitos da minha geração, “Casablanca” foi e continua a ser o filme da nossa vida.

Durante anos e anos tinha sonhado ir a Casablanca ver o bar do Rick. Sabia exatamente onde ficava, tinha na memória as suas paredes brancas, o portão de ferro forjado, os velhos sentados cá fora.

Assim que a excursão chegou à cidade, não pensei noutra coisa.

«Leva-me ao Bar do Rick!» – pedi ao guia, logo na primeira noite em Casablanca.

Nunca esquecerei a gargalhada que lhe ouvi.

«Outra!…» – repetia ele, sem parar de rir.

Quando finalmente se recompôs, informou-me que todos as estrangeiras, assim que chegavam a Casablanca, vinham doidas para se enfiar no bar do Rick.

«O pior…», explicou ele, «o pior… o pior é que não há nenhum bar do Rick em Casablanca! Nem nunca houve!»

«Como não há! Claro que há!», Insistia eu. «Sei perfeitamente onde é, acho mesmo que até passámos por ele no autocarro, quando chegámos esta tarde!»

Mas a verdade, a dura verdade, é que não havia mesmo.

Tudo tinha sido uma reconstituição. Tudo tinha sido filmado nos estúdios americanos, onde o filme era realizado.

Acho que nunca me recompus da desilusão. Pior: acho mesmo, à distância de mais de quarenta anos, que o guia me enganou escandalosamente, e que, lá bem pelo meio das sinuosas ruas de Casablanca, o bar do Rick continua ainda à minha espera, com os acordes da Marselhesa a darem-nos ânimo para fazermos muitas coisas heroicas e para que os maus não vençam. Nunca.

Gostaste de ir à Costa Nova?

Bjs