As greves públicas…

A instabilidade continuada na CP é bem o espelho dos servidores do Estado que se servem em vez de servirem, desde Pedro Nuno Santos a João Galamba…

A CP é uma lástima sobre carris, minada de greves nas mais variadas modalidades que a lei consente e que os seus 15 sindicatos agilizam, cujos prejuízos sistemáticos os portugueses pagam, utilizando os seus serviços cada vez menos. 

Só em 2021, a empresa agravou o défice em mais de 65 milhões. Já este ano, no primeiro semestre, as múltiplas paralisações custaram a supressão de cerca de 26 mil comboios, em mais de 100 dias de greve, recuando a taxa de pontualidade para os níveis de 2018.

A partir destes dados, podem imaginar-se os transtornos para os utentes, com sobrecarga de transporte próprio ou de transportes alternativos, e os custos inerentes. 

Claro que os ferroviários pouco se importam com isso e não estiveram sozinhos nos protestos do setor público. Os professores e, mais recentemente, os médicos, demonstraram também que, tanto nas escolas como nos hospitais do Estado, alunos e pacientes estão expostos às mais variadas incertezas. 

Por absurdo que pareça, é na administração pública – ou nas empresas estatais – que se contabiliza a maioria das greves.

Ainda em novembro do ano passado, a Frente Comum da CGTP considerava a greve convocada como ‘a prova dos nove’ da insatisfação do funcionalismo, e defendia, designadamente, além das queixas do costume, que o sistema de avaliação «não seja um empecilho à progressão». Este ano repetiram a dose. Percebe-se porquê.

A escalada de greves no setor público agravou-se, sem que isso tire o sono ao primeiro ministro. 

 

Moral da história: de um lado está o funcionalismo, sem risco de desemprego, com direito à ADSE, e horário de 35 horas, entre outras regalias; do outro lado, estão os trabalhadores no privado, com horário de 42 horas, correndo riscos de desemprego, sem proteção na doença, a menos que tenham contratado algum seguro de saúde ou recorram ao caótico SNS.

As diferenças são óbvias. Mas a contabilidade das greves pende, escandalosamente, a favor do funcionalismo e das empresas públicas.

A quem duvidar, recomenda-se uma simples pesquisa no Google e logo se verá, em todo o seu esplendor, onde prevalece o descontentamento, apesar do fosso existente entre o funcionalismo e o privado.

 

A instabilidade continuada na CP é bem o espelho dos servidores do Estado que se servem em vez de servirem, sem que os responsáveis pela tutela, desde Pedro Nuno Santos a João Galamba, façam mais do que ‘empurrar com a barriga’ até à crise seguinte.

Ou que na Educação, se assista a um incrível ‘jogo de sombras’ entre o Governo e o Presidente da República, com a cansativa ‘guerra’ dos professores de permeio.

Ou, ainda, que no SNS haja uma deterioração constante, com intervenções esfarrapadas do atual ministro, sem se avistar por onde anda e o que faz a famigerada comissão executiva.

Ou o que acontece na Justiça, com as greves dos funcionários judiciais a provocarem o adiamento de milhares de diligências e de julgamentos, remetendo para as calendas a resolução de qualquer querela.

Recorde-se que o país contava, no final de 2022, segundo números oficiais, com 742.260 funcionários públicos, representando um aumento de 14.559 postos de trabalho.

Curiosamente, de acordo com os mesmos dados, no final de 2016 – aquando da introdução do limite máximo de 35 horas semanais – contabilizavam-se 664.162 funcionários públicos.

Ou seja: graças à reversão demagógica implementada por António Costa, houve, desde então, um aumento de 78.098 funcionários públicos em Portugal.

Façam-se as contas às implicações desse crescimento no agravamento da despesa, sem a menor contrapartida na melhoria do funcionamento da administração central e local.

 

Se juntarmos ao funcionalismo, mais de 3,6 milhões de reformados e pensionistas, em finais do ano passado, segundo a Pordata, é quase metade da população residente. Uma realidade que qualquer partido não pode ignorar, e que o PS acompanha de perto, como um dos seus principais trunfos eleitorais. Ou ‘braço armado’, como há quem lhe chame.

E embora o funcionalismo não se mostre grato ao Governo, atendendo ao número de greves que desencadeia, no segredo das urnas, não falta quem repita o voto no PS.

Depois, são os reformados e pensionistas, dependentes do Estado, que temem qualquer mudança e a quem o Governo procura ‘adoçar a boca’ com pequenas benesses pontuais.

No meio disto, como escreveu António Barreto, «há desprezo pelos pobres, pelas filas de espera na saúde, pelo incómodo nos transportes, pela vida urbana desconfortável, pelos bairros suburbanos esquálidos e pelos imigrantes ilegais explorados».

O país ‘funcionalizou-se’, as esquerdas fracassaram, enquanto os guetos se multiplicaram, devido à política de ‘porta aberta’, enriquecendo os circuitos de traficância de gente. Mas o PS controla o poder. E é isso o que importa no Largo do Rato…