A forma lenta e babelesca como o país tem tratado a organização do Estado e da Administração Pública, desleixando a meritocracia, desleixando a senda de inovação que fervilha em vários setores da sociedade, desleixando a iniciativa e a responsabilização, hipotecando o desenvolvimento económico e o combate à pobreza, aborrece-me profundamente desde que me lembro de existir.
A origem desse enfado reside num conjunto variado de elementos dos quais destaco os seguintes: a noção do legado que alguns dos nossos antepassados nos deixaram, heróis de lutas e conquistas, e a demonstração de bem fazer que marcou o seu tempo; da noção clara que o povo português quando bem comandado e gerido é capaz de superar tudo e todos, e, por fim, da observação do que à volta do mundo vai acontecendo.
Chamo a atenção da falta de desígnio estratégico, faz décadas. Nesse processo de reflexão sobre as fragilidades da nação avancei, em 2007, com a escrita de um livro chamado Mudar Portugal, Uma Revolução Inteligente. Por considerar que o nó górdio emana do sistema político que a partidocracia, autocrata, quase hermética, impôs ao acesso aos cargos eleitos, decidi em 2008 fundar o MMS, um partido político que concorreu aos três atos eleitorais em 2009. Os que me acompanharam viram o seu esforço e a sua esperança desvanecer-se na incapacidade de, então, superarmos a indiferença a que a comunicação social nos remeteu e a consequente incapacidade de comunicar com o povo português. Escrevo estas linhas não para contar a história, mas apenas para enquadrar o grau de inconformismo critico e ativo que carrego na forma como interpreto e classifico o sistema político e uma parte muito significativa dos seus atores.
O evento Jornada Mundia da Juventude (JMJ) veio mostrar a impressionante capacidade mobilizadora que a igreja católica possui. Não tenho memória de um evento mobilizar tanta gente, tanta gente jovem, como o que a JMJ foi capaz. Verdadeiramente impressionante.
Ao compararmos com a incapacidade de mobilização que a generalidade dos políticos apresenta, facilmente concluímos quanto à relevância da mensagem e do estilo que os líderes partidários em Portugal apresentam. Um aborrecimento cinzentão a que alguns chamam de provincianismo.
Ainda a propósito da JMJ, não poderia deixar passar em branco o empenho e foco, discreto, da ministra Ana Catarina Mendes. Grande parte do sucesso do evento deve-se à sua capacidade mobilizadora e agregadora, nomeadamente no que respeita ao trabalho que os municípios de Lisboa, Oeiras e Loures dispuseram na organização de tão grandioso evento.
Num Governo carregado de trapalhadas e trapalhões pretensiosos, que tudo faz para superar em petulância o já distante governo de José Sócrates, assistir à forma como Ana Catarina Mendes atuou é digno de registo e de parabenização. Haverá esperança para o futuro do PS ou as atuais regras e modelo de funcionamento dos partidos, controlados por grupos bem organizados, encarregar-se-á de a impedir de assumir, no futuro, a liderança?
Em Lisboa e na semana anterior ao evento, o posto de atendimento da CML no Campo Grande, com mais de 20 guichets tinha apenas um em funcionamento. Esperava-se mais desta Câmara que, indiscutivelmente, aposta muito na comunicação e na notoriedade, mas falha na organização e gestão. Uma câmara que gradualmente tem vindo a distanciar a sua atuação dos interesses dos cidadãos e utilizadores da cidade, cada vez mais caótica, cada vez mais suja, cada vez mais desorganizada, com cada vez mais sem abrigo e com cada vez maior gasto em comunicação, relações publicas, eventos e comunicação e mais comunicação. Uma câmara que, não sendo, quase parece socialista e muito pouco abençoada…
Por uma semana, a festa e a celebração fez-nos esquecer esse triste cenário.