por Raquel Paradela Faustino
Jurista e Porta-voz do CDS-PP
Caro leitor, este vai ser mais um artigo com um cunho muito pessoal, porque é impossível passar ao lado da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
É, para mim, um enorme orgulho ver Lisboa como centro do mundo, por estes dias. Faz recordar um tempo em que fomos efetivamente o centro do mundo e de nós partiu o início da globalização.
O Santo Padre enche o coração destes jovens com uma imensa felicidade e estes jovens contagiam a cidade e o mundo com a demonstração da sua fé.
Confirmam que a igreja, que somos cada um de nós, está bem viva e repleta de uma força extraordinária. Numa sociedade, onde comum seria ouvir que a Igreja está cada vez mais afastada dos jovens e ultrapassada na sua linguagem, esta magnitude só nos pode trazer humildade nas críticas e inquietude na sabedoria.
Estas são as raízes de uma Europa que encontra os seus pontos de união na Democracia Cristã, base da nossa matriz axiológica. A ideologia que estruturou e construiu a sociedade como a conhecemos, aberta ao conhecimento e à inovação e em constante comunhão com a liberdade, a dignidade do ser humano, a solidariedade, a compaixão e a justiça social.
Sem esta modulação nos valores éticos e morais compartilhados com o Cristianismo, a Europa não seria o que é hoje. Não seria uma casa de justiça e solidariedade. Tudo se concretizava para que no fim do século XIX, sem o surgimento da Democracia Cristã, tivéssemos uma sociedade que caminhava a passos largos num capitalismo desenfreado sem princípios éticos e valores morais.
Quando ouvimos o primeiro discurso do Santo Padre na JMJ, no CCB, onde nos pergunta ‘Para onde navegais?’ é impossível não nos recordarmos que há muito por fazer e por trabalhar no caminho de uma sociedade perfeita, orientada pelos pilares da Democracia Cristã.
Recorda-nos que 25% dos jovens portugueses estão em risco de pobreza. Um quarto do nosso futuro. Se nada fizermos, navegamos, assim, para uma sociedade com ainda mais dificuldades do que as que teve no passado. Recorda-nos as dificuldades que encontramos na integração dos migrantes que chegam ao nosso país, no sistema de previdência e de apoio dos nossos idosos e tantos outros problemas que seguem desde a justiça à educação.
Com Francisco recordamos a matriz social com que a Democracia Cristã concebeu e traçou a nossa sociedade na visão da defesa de um Estado social e na conceção de um capitalismo personalista humanista, capaz de criar oportunidades para todos. Com sua Santidade recordamos com preocupação o quanto está por fazer. O quanto, muitas vezes, falhamos nessa contribuição para a construção de uma sociedade justa e onde nos queiramos rever. Mas com ele recordamos também a esperança e a certeza que mais e melhor conseguimos alcançar.
Estes dias são dias profícuos para uma reflexão e humanização dos nossos problemas enquanto país e enquanto sociedade. Com apenas as Maldivas ausentes deste encontro, cuja prática de outras religiões é impedida pelo Estado, Portugal assume, uma vez mais, o papel central nas relações diplomáticas e no impulso humanista que imprimiu no mundo. A partir daqui, vamos almejar mais e melhor.