"Teremos todo o gosto em continuar a contribuir, direta ou indiretamente, para dar voz às vítimas. Não tendo previstas mais ações neste momento, também não as descartamos", diz o movimento 'This Is Our Memorial' ao Nascer do SOL, depois de, ontem à noite, ter explicado, em comunicado, que "depois do infeliz episódio no qual foi retirado do seu suporte sem aviso prévio (…) e da consequente onda de protestos" congratula-se pelo facto de a Câmara Municipal de Oeiras (CMO) "ter aberto diálogo e demonstrado junto dos orgão de comunicação social vontade de repor o referido cartaz, parte desta campanha fundada por mais de 300 pessoas e apoiada por muitas mais", adiantando que durante a tarde desta quinta-feira voltou ao contacto com a autarquia, "propondo a reinstalação do cartaz num local próximo ao original".
"Recebendo feedback positivo da Câmara Municipal de Oeiras e confirmação da sua reposição, aguardamos agora que esta seja efectuada conforme prometido", diz, concluindo, no comunicado enviado aos órgãos de informação: "Esperamos que, uma vez recolocado o cartaz, o foco mediático volte a ser a solidariedade com as vítimas dos abusos pela Igreja Católica e a falta de uma resposta adequada face aos acontecimentos descritos no relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica Apostólica Romana Portuguesa".
O grupo 'This Is Our Memorial', que declara ao Nascer do SOL que encara o alcance desta campanha de crowdfunding e o resultado da mesma como "uma agradável surpresa", comunicou que tomou conhecimento da vontade da CMO em repor o cartaz, que relembrava as conclusões do relatório sobre os abusos sexuais de crianças na Igreja Católica, via comunicação social. A CMO concordou em ceder uma posição de suporte físico para o cartaz. Como é possível ler no site oficial do movimento, "o conceito inicial foi publicado no Twitter, por uma designer. Pouco tempo depois, outro utilizador dessa rede sugeriu que se criasse um outdoor, financiado numa campanha de crowdfunding. O objetivo inicial, para um cartaz, foi atingido em três horas e, na manhã seguinte, duplicou-se o valor inicial, permitindo a impressão de dois cartazes". "Abrimos um segundo crowdfunding, que também atingiu os objectivos e nos vai permitir a impressão de um terceiro cartaz", escreveram.
Francisco Rocha Gonçalves, vice-presidente da CMO, afirmou ao Diário de Notícias que considera a mensagem do cartaz "nobre, justa e importantíssima" e esclareceu que poderia ter sido colocado sem custos, como acontecerá agora. O problema que levou à remoção do cartaz parece ter sido a falta de comunicação entre os promotores da iniciativa e a autarquia. Rocha Gonçalves explicou que os serviços municipais não receberam nenhum pedido formal para a colocação do cartaz, o que levou à decisão de removê-lo. Segundo ele, só após confirmar que os promotores não haviam entrado em contacto com a Câmara, a ordem para retirar o cartaz foi dada, e a responsabilidade recaiu sobre a Polícia Municipal.
No entanto, o Diário de Notícias relatou que teve acesso a pedidos de esclarecimento por escrito que os promotores fizeram à autarquia em 31 de julho, e a Câmara só respondeu após o cartaz ter sido retirado pela Polícia Municipal. Segundo Rocha Gonçalves, o problema não é o conteúdo do cartaz em si, mas sim o suporte no qual foi colocado, que considera "ilegal", mencionando que a empresa responsável pela colocação do cartaz não está licenciada, e nem mesmo o nome da empresa está identificado no suporte. Esclarece também que a remoção da lona do cartaz foi realizada para evitar danos quando os serviços municipais fossem desmontar a estrutura não licenciada.
Em relação às acusações de censura, o vice-presidente assegura que a autarquia respeita a liberdade de expressão. No entanto, enfatiza que a mensagem não deve ser comprometida ou manchada por uma empresa que age de forma ilegal e enganosa, recebendo dinheiro para colocar um cartaz numa estrutura sem licença. Em comunicado, o Presidente da CMO, Isaltino Morais, descreveu a situação como “um episódio lamentável, que mancha uma causa justa e digna, a da defesa das vítimas da pedofilia”.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, recebeu um total de 564 testemunhos relacionados com casos de abusos sexuais que ocorreram no período entre 1950 e 2022, sendo que 512 desses testemunhos foram considerados autênticos e válidos. Com base nessas amostras, a Comissão utilizou técnicas de extrapolação para estimar o número mínimo de vítimas de abuso sexual, chegando a uma estimativa de cerca de 4.815 vítimas no total.