O Estado é laico, não é ateu

A vinda do Santo Padre a Portugal, torna-se um acontecimento relevante para o Estado, porque a autoridade do Estado é dada pelo povo e o povo português é cristão.

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) teve a capacidade de desmascarar falsos embaixadores da tolerância, comunistas disfarçados de sociais-democratas, jacobinos disfarçados de democratas. Cedo se percebeu que o encontro mundial da juventude católica, entraria como um tsunami na sociedade portuguesa. No fundo, a vinda do Papa a Portugal, lembra uma tese identificada por George Weigel, a História é muito mais conduzida pela cultura e espiritualidade do que pela política e a economia. É muito mais determinada por aquilo que o Homem considera ser bom, belo e verdadeiro do que por todas as engenharias sociais. 

Ninguém sabe ao certo os frutos que a JMJ trará ao nosso país, mas decerto que muitos já perguntam: que Igreja é esta que junta em Lisboa mais de 1 milhão de jovens de todo o Mundo? Que Cristo é este que move montanhas de juventude ao seu encontro?  

 

A onda de contestação à JMJ trouxe os argumentos mais absurdos de alguns setores da sociedade.  Não quero perder muito tempo com esses argumentos. No entanto, parece-me paradoxal que quem nada disse sobre os mais de 3000 milhões de euros dos contribuintes desbaratados na TAP, escandalize-se agora com a estimativa de que a JMJ custe cerca de 80 milhões de dinheiro público. Sabendo até que, desses 80 milhões de euros, quase metade será aplicado na requalificação da cidade que ficará para todos mesmo após a JMJ. Ou quem lança cartazes a dizer, ‘Mais habitação, menos Papa’, ignora que a Igreja é a instituição mais importante em Portugal e no mundo, no combate à fome e à pobreza. Que a Igreja é a instituição que conseguiu tirar mais pessoas da miséria no século XXI e que vai às periferias mais escondidas onde muitas vezes mais ninguém quer ir. 

 

No entanto, admitindo que houve incompetência na gestão de dinheiros públicos com a JMJ, isso não é culpa da Igreja. Quando muito será de quem gere mal a saúde, a educação, a segurança social e tantas outras coisas neste país.

Esgotada a coerência de todos os argumentos, o que resta? A laicidade do Estado. O Estado deve ser neutral em matéria religiosa. Sou fervorosamente defensor da separação entre o Estado e a Igreja, isso salvaguarda tanto o Estado como a Igreja. Contudo Estado laico, não significa Estado ateu. A palavra laico provém do grego laikós, que significa: ‘Do povo’. Se interpretarmos à letra a origem etimológica da palavra, ficamos com um conceito belíssimo para Estado Laico: o Estado do povo. Mais do que a sua imparcialidade, é a sua independência. De onde vem a legitimidade do Estado laico? Do povo. Se o Estado ignorar a matriz do seu povo, passa a ser uma coisa completamente diferente, deixa de ser laico. Se a identidade de Portugal passa pelo cristianismo, se o povo português é um povo cristão, então, o Estado laico tem toda a legitimidade para se envolver na JMJ. A vinda do Santo Padre a Portugal, torna-se um acontecimento relevante para o Estado, porque a autoridade do Estado é dada pelo povo e o povo português é cristão.  

 

Parece-me muito mais limitador a visão do Estado laico à luz das lentes do Humanismo Ateu que quer uma Europa descristianizada, fechada sobre si própria, refém da secularização e da burocracia. É um ataque a Jerusalém, deixando Roma e Atenas sozinhas a sustentar a Europa. Porque é que o Humanismo Ateu se levantou contra a JMJ em Lisboa? Porque tem medo e fica exposto. Um dia falaremos aprofundadamente sobre as mentiras trágicas do Humanismo Ateu. Por agora parece-me que para o Humanismo Ateu, o Estado já não pode ser laico, tem de ser ateu e se isso não for suficiente, então, farão de tudo para que seja um Estado anticristão.     

 

José Maria Matias

Aluno do mestrado de Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Nova de Lisboa