Peregrino da esperança em Portugal, rezo e faço votos para que este país de corações jovens continue a alargar-se a horizontes de fraternidade; Lisboa, cidade do encontro, inspira caminhos para enfrentarmos juntos as grandes questões da Europa e do Mundo».
A mensagem com que o Papa Francisco assinalou a sua chegada à Jornada Mundial da Juventude na capital portuguesa, na quarta-feira, é o mais simples e eloquente resumo do maior acontecimento jamais organizado neste país.
Sim, este encontro do Papa com mais de um milhão de jovens em Lisboa é um acontecimento extraordinário.
Desde logo, pela alegria contagiante e emocionante dos jovens católicos vindos de todo o mundo.
Não apenas em Lisboa, mas pelo país de norte a sul por onde passaram nos últimos dias a caminho da cidade anfitriã da JMJ.
Basta observar a expressão de felicidade nos olhares e nos sorrisos estampados nos rostos dos peregrinos, mas também das dezenas de milhares de voluntários e de todos os muitos outros, católicos e não católicos, que se lhes juntaram, a recebê-los ou a com eles partilharem estes momentos, estes dias.
A juventude invadiu Lisboa pela fé, pela paz, pelo diálogo, pela fraternidade, pela solidariedade, por Bem.
Este encontro, esta Jornada afirma esta geração como geração da esperança, como geração da crença e da confiança num mundo melhor.
Uma «geração de professores da mudança», como referiu Francisco no encontro com estudantes na Universidade Católica. Uma «geração que pode vencer o desafio» e que «tem instrumentos científicos e tecnológicos para isso».
Francisco deixa em Lisboa um apelo aos jovens para que não fiquem na sua «zona de conforto» e passem à ação, façam-se «ao caminho» e «não sejam administradores de medos, sejam empreendedores de sonhos».
Porque o mundo está louco. Perdido de valores. Em guerra. Com a democracia em estado comatoso. E com uma gigantesca ameaça ao equilíbrio ambiental.
Em Lisboa, perante o Presidente da República, o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro, membros do Governo e deputados, o Papa Francisco assumiu com franqueza a condenação da nova lei da eutanásia, não escondendo a sua tristeza por Portugal, um país inspirador, ter enveredado por soluções «negativas e erradas» que tornam «mais fácil a morte» em vez de promoverem o pacto intergeracional e cuidarem de acompanhar os mais velhos.
O Presidente Marcelo, sentado a seu lado no Centro Cultural de Belém, teve de aplaudir – e se lhe deve ter custado a censura do Papa.
Augusto Santos Silva e António Costa não reagiram a esse trecho da primeira intervenção de Francisco nesta sua viagem a Portugal – é para o lado que dormem melhor.
Mas aplaudiram Francisco quando citou Saramago, Sophia, Amália, Camões, Pessoa… uma vez mais, a dar os melhores dos exemplos.
Francisco está velhinho. Mas a sua já tão longa caminhada, com evidente esforço e sacrifício, é em si mesma um grande exemplo.
Como a sua humildade, a sua simplicidade, o seu saber, a sua permanente defesa da inclusão, da compaixão e da família, e o seu inconformismo e amor à vida.
«A vida sem crises não sabe a nada. É como a água destilada. Temos é de enfrentá-las e saber ultrapassá-las».
Francisco é sábio.
Ancião, como ele próprio se autointitula, deu mais uma lição ao mundo e à Igreja, que sai revigorada desta Jornada Mundial da Juventude.
Até porque – citando uma vez mais o Santo Padre que gosta de dizer que não é santo, mas «só Papa» – «ao pé dos jovens nunca se envelhece». E Lisboa está cheia de jovens, com fé, muita alegria e uma enorme esperança.