Desde 1997 – em Paris – que participo nas Jornadas Mundiais da Juventude como peregrino. Nesta Jornada, sou eu a receber. A acolher. A amar. Sou eu que me preocupo com os peregrinos: se estão bem, se precisam de comer mais ou beber mais alguma coisa, sem têm o material necessário. Hoje sou eu que procuro ver se os voluntários estão bem e antecipar-me ao necessário.
Abro a porta da Igreja de Santiago, em Lisboa, a primeira no caminho para Compostela, e aguardo que chegue o grupo e o bispo para dar a catequese. O grupo vem do Camboja – um país distante, com dezasseis milhões de habitantes, dos quais vinte mil são católicos.
Chegam os jovens e entram na Igreja. Uma língua estranha, para mim! Não compreendo nada. Cantam o Hino da Jornada, mas com sons que não consigo mesmo entender. Rezam e falam entre eles, falam com o bispo com uma relação de proximidade muito grande.
Fico a pensar: ‘Como é bonito ver centenas de milhares de jovens que partem dos seus países para conviver com outros jovens, para cantar, celebrar, viver, partilhar a sua fé!’ Aliás, é este o espírito das Jornadas, possibilitar o encontro a milhares de jovens que, de outra forma, nunca poderiam ter a oportunidade de conhecer outros países e outras culturas, outras formas de viver a fé.
Conhecer outras pessoas, outras culturas e outras maneiras de estar na vida, ajuda-nos, naturalmente a amar ainda mais a nossa cultura, mas também a relativizar muitos aspetos que nos pareciam essenciais para podermos viver.
Os jovens, com mochilas às costas, saco-cama na mão, aprendem que não precisamos de ter muitas coisas na vida para sermos felizes e realizados. Precisamos apenas de viver em sociedade, de viver em comunhão, amparando-nos uns aos outros no percurso das nossas vidas. É isto que nos diferencia de muitos outros… queremos viver os laços da comunidade, que se expressa no amor!
Por estes dias, também, ao abrir a porta da Igreja, abro o telemóvel e vejo o que se diz de nós. É maravilhoso ver o quão redutor é. Um dos nossos famosos dizia que tinha passado pela praia e que muitos dos peregrinos que ali estavam pareciam muito pouco católicos. Não sei o que lhe disseram deste encontro ou dos católicos, mas se os jovens foram à praia, não estariam à espera que andassem de burkini, espero!
Uma notícia dava conta dos jovens e padres, também, (imagine-se) que iam aos bares do bairro alto aproveitar a noite! Eu nem imagino o que escreveriam se tivessem vindo comigo nas seis jornadas em que fiz como peregrino. Quando foi em Colónia, lembro-me de querer provar todos os dias duas ou três cervejas alemãs. Meu Deus! O que é que isto tem de novo? Somos católicos! Podemos beber álcool! Gostamos de cerveja! As jornadas também foram feitas para podermos conhecer as praias, beber umas cervejas e conhecer novas comidas!
Depois abro a televisão e em cada local por onde passa o Papa fala-se dos custos associados. Sim! O dinheiro! Esse é mesmo o mais importante da vida, porque sem dinheirinho, nada se faz na vida! Principalmente, porque é isto que temos dito aos jovens nos últimos anos: ‘Estuda, para ganhares muito dinheiro e seres alguém!’. Como se a nossa dignidade adviesse do dinheiro!
Muitos destes comentadores parecem padres do passado: não se pode vestir biquíni, porque é pouco católico e provoca a luxúria; não se pode comer e beber, porque estimula a gula; não se pode gastar dinheiro, porque é coisa do demónio e faz falta para todos – a grande avareza!
Eu, sinceramente, prefiro, abrir a porta e ver o sorriso de milhares de jovens que se juntam para dançar, cantar e divertir-se do que jovens que se juntam para recordar, constantemente, com os azedumes do costume, o mal que as coisas fazem…
Precisamos, mesmo, de nos desprender dos muitos preconceitos e mesquinhezes que temos no nosso coração, para que possamos, todos, abrir o coração e deixar-nos surpreender uns pelos outros. No fundo, o que todos precisamos é de amor! E aqui, tenho-me sentido amado, ao longo destes mais de vinte e cinco anos de Jornadas em que participo!