Por Carlos Carreiras
A pandemia, que fez o seu caminho num clima de dinheiro barato e procura intensa de bens de consumo, provocou enormes disrupções nas cadeias de abastecimento globais. As pressões inflacionistas já tinham começado, acelerou e não terminariam, aí. Em fevereiro do ano passado, a bárbara invasão da Ucrânia por parte da Rússia provocou uma tragédia humanitária de proporções inimagináveis na Europa e um aumento brutal no custo das matérias-primas. As ondas de choque sentiram-se em todas as latitudes económicas.
Crise inflacionista. Crise energética. Crise alimentar. Crise migratória. Crise climática. A múltipla crise em que vivemos criou muitas nuvens negras no horizonte de nações, empresas e famílias.
E são os próprios banqueiros centrais mais poderosos do mundo a admitir que encontrar um novo equilíbrio para a estabilidade de preços – isto é, controlar a inflação – não será fácil, nem imediato.
Com uma pequena economia muito exposta ao exterior, altamente endividada e a precisar de reformas, mais cedo do que tarde Portugal tende a pagar com juros altos as crises globais.
Com uma inflação historicamente alta, os rendimentos a serem engolidos e a carestia de vida a democratizar-se pela pobreza, as famílias e as empresas portuguesas estão a passar por grandes dificuldades.
Desta forma, para fazer face às necessidades do presente, lançámos, no passado dia 20 de julho, a 2.ª edição do ‘Cartão Mais Solidário’ em Cascais.
Este apoio, fruto de uma parceria com as juntas de freguesia do concelho e através de concurso público, com o Pingo Doce, visa garantir aos cidadãos do município, que enfrentam carência económica, o acesso a bens essenciais de maneira autónoma e digna.
O ‘Cartão Mais Solidário’ é uma iniciativa que reflete o compromisso de Cascais em promover a solidariedade e o bem-estar de todos os munícipes. Reconhecendo que certas pessoas e famílias enfrentam grandes dificuldades financeiras.
Com este cartão, os beneficiários têm a oportunidade de adquirir produtos considerados de primeira necessidade, como alimentos, produtos de higiene e limpeza, com total autonomia e liberdade de escolha. O objetivo é proporcionar uma experiência de compra semelhante à de qualquer outro cliente, garantindo assim que a dignidade e a autoestima daqueles que o utilizam sejam preservadas.
O bem-estar coletivo é uma responsabilidade partilhada e, através do ‘Cartão Mais Solidário’, continuaremos a espalhar a esperança e a ajuda aos que mais precisam.
Os agregados familiares do concelho que aufiram rendimentos até ao 6.º escalão do IRS (valor máximo de 38.632€ anuais) e cujo rendimento mensal per capita tenha um valor máximo equivalente ao valor do IAS (480,43€) podem recorrer a este apoio que é também acumulável com outro tipo de apoios.
Lançada pela Câmara Municipal de Cascais pela primeira vez em 2020, esta iniciativa vê-se agora reforçada com um aumento de verbas – na 1.ª edição foram destinados a este programa 450 mil euros, e nesta 2.ª edição a quantia é de dois milhões de euros – e está integrada no pacote de medidas de combate à inflação que o município criou para que ninguém fique para trás.
No entanto se for necessário reforçaremos as verbas de apoio alimentar e de bens de primeira necessidade à população de Cascais que continue a necessitar.
É fundamental todos os líderes cooperarem para dar respostas aos anseios e emergências das famílias.
Cascais, como eu sempre garanti, ergueu nos últimos um Estado Social Local robusto, proteção para todos os que se encontrem em dificuldade. Nacionais ou estrangeiros, refugiados da Ucrânia ou vizinhos do outro lado da rua. Porque mais apoio de circunstância para uns nunca significou perda de apoios de longo prazo para outros. Somos uma sociedade solidária que encontra um sentido e um propósito quando não deixamos nenhum dos nossos para trás.
Definimos já no passado as prioridades nos apoios e continuamos a considerar os que estão mais fragilizados, mais novos e mais velhos, alargando os apoios a escalões superiores de rendimentos.
Este tempo, o tempo da ‘grande volatilidade’, exige escolhas difíceis. As pessoas não esperam que os políticos acertem sempre. Mas esperam, legitimamente, que as suas lideranças lhes apontem um caminho, lhes induzam esperança, ajam sobre os problemas e mostrem empatia e compreensão pelas dificuldades do cidadão comum.