por Eduardo Baptista Correia
O jornalismo e os profissionais da informação têm ao longo da história desempenhado funções fundamentais na defesa da liberdade, da verdade e dos valores éticos. Muitas das importantes conquistas da sociedade democrática contemporânea têm contributos riquíssimos desta tão importante classe profissional. Mas tal como nem toda a filosofia política é venerável também o jornalismo não está acima das falhas e, em demasiadas circunstâncias, peca pela incapacidade de equilíbrio e equidade na forma como analisa determinadas situações tendo por consequência a adulteração das realidades, destruindo verdades e em demasiadas circunstâncias substituindo o essencial pelo acessório.
As últimas semanas, trouxeram-nos, em minha opinião, vários exemplos dessa aparente desatenção. A avidez de protagonismo político da câmara de Lisboa no que à Jornada Mundial da Juventude (JMJ) diz respeito, remeteu para segundo plano o profissionalismo das suas equipas técnicas e fez esquecer todos os obstáculos que a mesma câmara colocou há menos de um ano à realização deste evento. O sucesso da organização do evento deveu-se essencialmente a agentes políticos fora da câmara de Lisboa, aos técnicos das várias câmaras e das várias empresas envolvidas e da própria igreja católica e menos a quem durante o evento quis para si reclamar o ‘corpo às balas’. Pena é que a comunicação social corra mais atrás deste tipo de postura e seja bondosamente complacente com a falta de trabalho e falta de resultados da câmara de Lisboa no que respeita aos verdadeiros problemas do dia a dia da cidade de Lisboa. Pior que a incompetência é a falsa competência que faz lembrar o pior dos tempos de Fernando Medina. Ainda no que diz respeito à JMJ foi dada, em minha opinião, menos relevo à mensagem de força e esperança que, num mundo meio desvairado, é essencial que invada os espíritos de todos, com particular relevância para as gerações mais novas.
Também no que respeita ao caso Altice, do qual nada mais sei do que é prenunciado pela comunicação social, me choca o excesso de imprudência informativa no que respeita a um dos profissionais mais competentes e conceituados que Portugal já produziu. Alexandre Fonseca, de quem sou amigo, e com quem tenho partilhado responsabilidades profissionais, demonstrou sempre um elevado sentido ético em todas as situações em que o vi atuar. Muito se tem escrito e dito sobre ele na sequência do caso Altice. Ainda não vi, e quando vir, será certamente em nota de rodapé, nenhuma declaração do próprio quanto às suspeitas que sobre si têm sido lançadas. Apesar da consciência da falta de impacto deste testemunho, tenho a obrigação meritocrática e ética de aqui, e em contra corrente, deixar vincado o meu testemunho quanto às qualidades éticas do Alexandre Fonseca.
O jornalismo e os jornalistas têm o dever de investir no apuramento da verdade e no contributo para um mundo e uma sociedade mais justa, mais transparente e mais inovadora. Para isso é absolutamente necessário discutirmos e tratarmos muito mais de ideias e projetos, do que de pessoas e eventos. Na generalidade, e em minha opinião, falta mais jornalismo de investigação, mais estudo, maior intervenção em favor do desenvolvimento da sociedade em detrimento do constante empolamento de eventos e casos menores. É a difícil tarefa de reforçar a cultura da filosofia por contraponto ao murmúrio.