Nacional. Um Céu Vermelho

Começa hoje, em Braga, o Campeonato Nacional de Futebol. E após a vitória do Benfica sobre o FC Porto na Supertaça o favoritismo impõe-se.

O Campeonato está de volta! Hoje mesmo, por sinal, com o Braga a receber o Famalicão na Pedreira pelas 20h15 e ficando nós à espera se será este o ano em que os bracarenses se vão imiscuir de corpo e alma na luta pelo título, uma promessa que já foi feita mas tem custado a cumprir. Vamos e venhamos: não há qualquer motivo para exigir à equipa da cidade dos arcebispos que faça mais do que tem feito. Ainda na época passada foi capaz de deixar o Sporting para trás na classificação final, ganhando o direito de disputar as pré-eliminatórias da Liga dos Campeões e obrigando os leões a (des)contentarem-se com a presença na cada vez menos interessante Liga Europa.

Na verdade é sobre o Sporting que se acumulam as maiores dúvidas quando gastamos algum tempo a observar as entradas e saídas de jogadores. A política adotada para esta época é decididamente agressiva. Mantendo a estrutura básica da época anterior, alguns elementos estratégicos têm sido injetados. Ruben Amorim baixou os seus níveis de teimosia em relação à aquisição de um avançado-goleador e, finalmente, aceitou que Paulinho precisava de concorrência bem mais efetiva do que o ainda demasiado verde Chermiti que irá tentar ganhar corpo e espírito no futebol britânico, no Everton. Viktor Einar Gyökeres, nascido em Estocolmo a 4 de junho de 1998, foi a escolha para ponta-de-lança e não restam muitas dúvidas que vai empurrar Paulinho para o banco de suplentes. Na sua Suécia natal nunca o levaram muito a sério apesar das suas 13 internacionalizações (3 golos). Arrastou-se num clube medíocre, o Brommaprojkarna até que, em 2018, se transferiu para o Brighton & Hove Albion com cuja camisola não fez mais de 8 jogos. Depois entrou no inferno rotativo dos empréstimos: St. Pauli, da Alemanha (2019-20), Swansea, País de Gales (2020-21) e Coventry City (2021) onde, finalmente convenceu os dirigentes das suas capacidades de tal forma que lhe puseram um contrato na frente, contrato esse que foi interrompido com a vinda para Lisboa. Com outro jogador nórdico – parece que agora ficaram outra vez na moda –, o dinamarquês de 24 anos, Morten Blom Due Hjulman, vindo do Lecce, um trinco como o Sporting não voltou a ter desde a saída de Palhinha, o leão mostra que foi em busca de uma nova estrutura física. Pode ser essa a solução para resolver o ror de golos perdidos na época passada e, principalmente uma resposta à quantidade de pontos desperdiçados em Alvalade ao longo de um ano em que nunca foi, verdadeiramente, um candidato ao título.

 

Os candidatos

Antes de a bola começar a rolar pelo relvados do país não custa nada largar a papaia costumeira e dizer que Benfica voltam a ser os grandes candidatos a ganharem o campeonato. No caso do Benfica, a dinâmica, agressividade e intensidade que o alemão Roger Schmidt impôs ao futebol coletivo dos encarnados não se limitou a surpreender críticos e espetadores. Surpreendeu, e bem, os adversários. Tanto internos como externos. Quando o campeão FC Porto começou a querer ir atrás do adversário limitou-se a assobiar-lhe às botas (com a ligeira exceção das duas derrotas – FC Porto e Chaves – e o empate (Sporting) que pareceu querer dar nova vida à competição. Mas não havia nada a fazer nem que morresse o Guedes. E o Guedes não morreu, continuou a espernear vivinho da Silva, e o avanço conquistado pelo encarnados logo de início foi suficiente para lhes garantir o 38.º título de campeão nacional da história do encarnados.

Um a azia monumental, à qual nem toneladas de sais de frutos poderiam pôr um ponto final, tomou conta do FC Porto e dos portistas. O seu grande mentor, José Maria Pedroto , já partiu há uns anos largos, mas o seu aprendiz, Pinto da Costa, continua a ecoar os discursos bafientos de quem não percebe que o mundo vai bastante para além da Serra do Pilar. Sérgio Conceição é um homem que tem mundo, passou vários anos em Itália, e no topo do cálcio, podia servir de controlo para a verborreia de disparates que só demonstram um muito arreigado complexo de inferioridade, mas preferiu seguir o chefe. Entende-se a opção: ficou do lado de uma franja profundamente reacionária mas que apoia tudo o que é contra o «inimigo externo» de quase forma, dir-se-ia, glandular. Ora, para quem assim age e para quem absorve esta idiossincrasia a dor é incomensuravelmente maior nos momentos de cada derrota. Facto: o Benfica ainda não consegue lidar com este problema de forma compacta. Os insultos, as ameaças, os discursos bélicos têm uma influência nítida na forma como cada vez que entram em campo para defrontar o FC Porto. Além disso, a política de contratações desta época recaiu sobre jogadores sobretudo técnicos se com poucos argumentos físicos. Na minha opinião, era preciso mais gente adulta, mais gente sem medo, mais gente preparada para fazer frente aos que transformam o jogo em batalhas campais. Mas, vendo bem, o que é que eu percebo disto? Tenho apenas um conhecimento acumulado em cerca de 40 anos de profissão…