Tensão no Cáucaso

O conflito na região do Nagorno-Karabakh, território entre o Azerbaijão e a Arménia, continua vivo e simboliza uma histórica disputa territorial entre os dois Estados. Marcado por avanços e recuos, trata-se do embate mais antigo no espaço pós-soviético.

por Gonçalo Nabeiro
Texto editado por J.S.

A disputa por este território, onde a maioria dos habitantes são de origem arménia, teve ínicio quando foram definidas as novas fronteiras após a queda do Império Russo, em 1918. O fim do império multi-étnico fez eclodir os confrontos, uma vez que o estabelecimento de amplas fronteiras seria incompatível com as divisões étnicas.

 Com a criação da União Soviética, a região ficou sob a alçada azeri e com o seu desmantelamento a Arménia ocupou parte do território pertencente ao Azerbaijão, incluindo o Nagorno-Karabakh, em 1992. Desde então não foi possível uma coexistência pacífica.

O corredor de Lachin, única ligação terrestre entre Nagorno-Karabakh e a Arménia representa um dos maiores focos de tensão do conflito. O Azerbaijão construiu um posto de controlo no corredor, alegando o direito de controlar as entradas no seu território.

 Já a Arménia, através do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, acusou o Azerbaijão, perante Josep Borrell, de estar a proceder a uma «limpeza étnica» na região e exigiu o fim do bloqueio em Lachin. Nikol Pashinyan, disse à Euronews que vê neste posto de controlo um condicionamento da mobilidade e antecipa uma possível crise humanitária dado ao escasso fornecimento de aliementos, medicamentos e gás natural.

Em contrapartida, o Presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, garantiu, também à Euronews, que a situação é diferente daquela que Pashinyan descreve,  defendendo a abertura controlada do corredor para evitar problemas de segurança para o Azerbaijão, como o contrabando.

A Rússia tem sido o ator principal no processo de manutenção de paz, com a mediação do cessar-fogo de 2020 e com a presença de tropas no corredor de Lachin. Porém, o conflito militar na Ucrânia forçou a retirada dos militares russos e abriu caminho para o estabelecimento do posto de controlo por parte do Azerbaijão. Isto fez com que o Ocidente assumisse um papel mais ativo, com os Estados Unidos, a União Europeia e a França a liderarem os esforços de pacificação.

Os EUA acreditam numa resolução pacífica e o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, anunciou que «um acordo de paz está ao alcance» e que continuarão «a trabalhar com ambas as partes para que isto aconteça». Já a UE abriu recentemente observatórios de missão na Arménia com o apoio de França, o que, segundo o embaixador francês na Arménia, «contribui para a estabilidade e uma abordagem imparcial da situação».

Em maio deste ano, com a mediação da UE e dos EUA, os dois países  comprometeram-se a cumprir a Declaração Almaty de 1991, que visa respeitar a integridade territorial de ambas as partes.

O Azerbaijão reclama vitória, colocando pressão na Arménia para que aceite um acordo sob as condições de Baku. A comunidade internacional espera uma resolução diplomática do histórico conflito, para que seja evitada uma crise humanitária na região.