Chegou Papa, partiu Santo

A Jornada Mundial da Juventude foi a melhor campanha promocional da imagem de Portugal e dos portugueses no mundo.

Conseguimos! Conseguimos! Conseguimos!» – foi assim que Marcelo Rebelo de Sousa reagiu quando o Vaticano anunciou que Lisboa acolheria a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) imediatamente seguinte à do  Panamá, em 2019. 
Cumpridos os seis dias da JMJ na capital portuguesa, vale a pena repetir com o mesmo entusiasmo do Presidente: Conseguimos! Conseguimos! Conseguimos!
O sucesso da Jornada colhe unanimidade, porque incontestável, mesmo que o retorno económico imediato tenha ficado muito aquém das estimativas iniciais. Porque a esmagadora maioria dos peregrinos não trouxe dinheiro para gastar. 

Mas não há razão para queixas, queixumes ou lamúrias. 
A Jornada Mundial da Juventude foi a melhor campanha promocional da imagem de Portugal e dos portugueses no mundo. 
A organização, a competência, o cumprimento de horários, a eficácia e o rigor não são propriamente qualidades reconhecidas ao Estado, às autoridades e aos cidadãos de um país mais associado ao desenrascanço, à bonomia, aos brandos costumes e, até, à capacidade de sacrifício.
Tudo junto e aliado ao clima, às paisagens da Lisboa reconciliada com o Tejo e, ainda e sobretudo, ao sentimento de segurança vivido na capital portuguesa e no país é o melhor cartão de visita que podíamos ter; sendo que a nossa magnífica e variada gastronomia, o vinho e a hospitalidade fazem o resto.

De facto, em matéria de organização, nada poderia ter corrido melhor, mesmo com condições nada fáceis – como o calor extremo dos últimos dois dias, coincidentes, aliás, com a transição dos principais acontecimentos da arborizada Colina do Encontro, no centro da cidade, para o Campo da Graça, sem qualquer zona de sombra.
Basta comparar com o exemplo que nos chegou de Seul – curiosamente, palco da próxima Jornada – e do encontro mundial de escuteiros: foram cerca de 50 mil os que se juntaram na Coreia do Sul praticamente ao mesmo tempo que decorria a JMJ em Lisboa e ao fim de dois dias já os britânicos tinham regressado a casa e os americanos preparavam-se para fazer o mesmo dada a falta de água e de comida para os jovens participantes. 

Portugal estava a precisar de uma ação assim. Principalmente, depois de nos últimos anos ter sido notícia por escândalos como o do roubo de armas de guerra dos paióis de Tancos ou o aparecimento à venda na dark web de documentos secretos enviados pela NATO a Portugal.
É verdade que nem tudo correu afinado pelo mesmo diapasão no relacionamento entre as forças de segurança portuguesas e os elementos que acompanham e garantem a vigilância permanente do Papa. Pormenores sem relevância de maior quando o resultado foi o que toda a gente viu e o mundo comprovou.

O Papa Francisco circulou sempre no papamóvel sem a cobertura blindada, teve inúmeros momentos de quebra do protocolo para se aproximar e interagir com os fieis, chegou mesmo a beber chá oferecido por um peregrino no meio do Parque Eduardo VII.
E foi também assim em Fátima, como foi igual em Cascais ou em Oeiras.
A segurança, ou melhor, a perceção ou sentimento de segurança é, na atualidade, um dos fatores mais valorizados pelas pessoas e, como tal, pelos turistas ou viajantes.
Daí que, apesar do retorno económico não ter sido aquele que a maioria dos operadores estaria à espera, seja na hotelaria, nos bares e na restauração ou no comércio e serviços em geral, esta Jornada Mundial da Juventude valeu mesmo pelo impacto que há de ter, não só para Lisboa, mas para Portugal no seu todo, no médio e no longo prazos.

Isto, claro, para além do retorno espiritual e humano, para as centenas de milhares de peregrinos, para a Igreja Católica e para a Comunidade.
Aí, então, ultrapassou todas as expectativas.
Particularmente pela incrível força do Papa Francisco, que as dificuldades de mobilidade em nada diminuíram, e pela magnitude das mensagens que trouxe a Lisboa… para o mundo.
Francisco chegou Papa e partiu Santo. Com os jovens do seu lado e toda a gente a seus pés.
Se ele fosse mesmo ouvido…