Por Alexandre Faria, Escritor, Advogado e presidente do Estoril Praia
Nem o Papa Francisco escapou à intolerância e aos discursos violentos nas redes sociais. Quer fosse pelo elevado investimento financeiro nas Jornadas Mundiais da Juventude ou por um país suspenso durante uma semana, com vias e transportes públicos sobrecarregados, um forte sentimento pessimista não deixou de se revelar com significativa frequência nos meios tradicionais onde proliferam textos de revoltas.
A religião e a política continuam a ser os temas tabu favoritos para quaisquer discussões acérrimas protegidas pela distância dos ecrãs, criando visões maniqueísticas, fomentando barricadas de opiniões e misturando factos desconectados entre si, de forma a baralhar argumentos ou visões distintas da vida.
Do pouco que se foi percebendo, a questão não está na crença, mas numa genuína descrença nas instituições, sobretudo numa Igreja Católica carenciada de se adaptar às exigências dos novos tempos. E o maior paradoxo aparenta residir precisamente aí. Num dos momentos de maior tensão dentro da própria Igreja, onde o Papa Francisco procura gerir da melhor forma a sua perspetiva mais moderna e corajosa, nada alheia às suas origens sul-americanas, por contraposição ao pensamento conservador e ortodoxo de vários setores do Vaticano, a melhor resposta surgiu pela espontaneidade de uma juventude anónima, trazendo consigo uma curiosa esperança e a confirmação de quem tem razão no caminho vindouro a percorrer.
Perante um Papa fisicamente frágil, numa sociedade portuguesa debilitada e carenciada de valores, chegado a um país também ele frágil, a sua força foi surpreendente e os jovens ajoelharam-se sem hesitações, deixando para trás os seus teclados, preferindo absorver as mensagens deixadas para o seu futuro.
As instituições que gerem as religiões tendem a esquecer a sua autêntica essência, não ficando, por isso, incólumes à indignação dos cidadãos e das sociedades. A verdade é mais profunda e foram necessários centenas de milhares de jovens para o revelar. Como se fosse necessário, passados tantos séculos. O ser humano não abdica de acreditar no que o transcende. Precisa de fé e de expectativa, de devoção e de confiar, precisa de crer e de se rodear de tolerância. Precisa de um Deus tornado Natureza, presente em tudo o que nos envolve e nos circunda, com ensinamentos solidários e sinceramente humanos. O que se rejeita e se critica são as instituições paradas no tempo e os seus dogmas, porque a fé não deveria ter dogmas.
Como sucede em relação à Lusofonia para quem se expressa na língua portuguesa, não se pode rejeitar o que se encontra tão incutido dentro de nós, pelo que as referências positivas não devem ser colocadas de lado, caindo no erro de confundir a árvore com a floresta.
Depois desta visita a Portugal do Papa Francisco, não podem ficar apenas as frases intensas. Será necessário colocá-las em prática, dia após dia. E esse desafio cabe às instituições públicas e às eclesiásticas, assim como às pessoas em geral. Nesta oportunidade de aprendizagem, são orientações que não fazem mal a ninguém, sejamos crentes ou não de uma determinada religião.