Húbris? A arrogância do primeiro-ministro

Segundo dados divulgados pelo prol Rui Albuquerque, viviam em Portugal, em 2021, 2312 mil pessoas em risco de pobreza ou exclusão social, com rendimento disponível médio inferior a 560 euros, dos quais 775 mil com rendimento inferior a 370 euros.

Na última crónica referia-se que: «A pobreza afeta hoje uma parte considerável da população portuguesa…..e a classe média luta desesperadamente para fugir a esse destino».

A classe média é constituída pela grande maioria de pessoas que pagam impostos, vivem em casas, supostamente próprias, lutam todos os meses para pagar as crescentes rendas aos bancos, devidas pelos empréstimos contraídos e abdicam de muitas coisas para proporcionarem aos filhos uma formação escolar, na esperança, progressivamente frustrada, que obtenham um lugar decente no chamado elevador social.

Atualmente este extrato social corre o risco de caminhar progressivamente para um estado de pobreza relativa.

Segundo dados divulgados pelo prol Rui Albuquerque, viviam em Portugal, em 2021, 2312 mil pessoas em risco de pobreza ou exclusão social, com rendimento disponível médio inferior a 560 euros, dos quais 775 mil com rendimento inferior a 370 euros.

Informa o mesmo investigador que, nesse ano, havia, próximo do limiar da pobreza (rendimento médio inferior a 650 euros, cerca de 776 mil indivíduos.

Estes números tem aumentado todos os anos, o que demonstra que parte da classe média (os que pagam impostos) se tem deslocado para a zona da indignidade social.

Com estes ou números parecidos iremos comemorar o 50° aniversário do 25 de Abril o que não pode deixar de ser considerado um falhanço histórico face aos propósitos iniciais da Revolução, em especial quanto ao do desenvolvimento.

 

Em contraponto da fantasiosa afirmação ‘a culpa é do Passos’ podemos, concluir, que, nos últimos 8 anos, com Costa no poder, pouco ou nada se fez para inverter esta situação.

Acresce que a degradação afeta a posição externa do país na UE que será, dentro de cinco anos, segundo o FMI, o mais pobre ou, na melhor das hipóteses, o segundo mais pobre desse espaço económico.

Portugal representa hoje, 1,6% da União Europeia ou 2,1% da Zona Euro.

Entretanto vamos conhecendo informações que só podem causar perplexidade.

Os aeroportos portugueses receberam, no primeiro semestre deste ano, mais 28,4% de passageiros do que em igual período do ano anterior e os estrangeiros representam 70% do turismo nacional, ou seja, o país é refém de um único setor.

Em dois anos foi anulado (também por razões externas) todo o alívio de juros conseguido no pós-troika que tão útil foi para os ‘êxitos’ da ‘geringonça’.

O custo de emissão da dívida pública saltou para 3,5% em oposição aos 0,9% de 2021, o que, sem as reformas necessárias, vai colocar a economia portuguesa sob uma pressão insuportável.

 

As rendas de casa na cidade de Lisboa são este ano (em valores absolutos) as mais altas da Europa, e no resto do país seguem uma trajetória semelhante, o que, em conjunto com as baixas remunerações oferecidas, explica o êxodo da maioria dos mais qualificados recursos jovens.

Os salários médios perderam valor em termos reais, não apenas pela inflação mas também pela pressão fiscal e pela baixa produtividade (turismo incluído) que é condicionada por políticas públicas ineficientes.

E, verdadeira cereja em cima do bolo, a nação ‘ganhou’, no espaço de dois anos, 31 mil novos milionários.

Este retrato ‘imperfeito’ que podia ser complementado com muitos mais dados de idêntico valor, revela, sem margem para dúvidas, a péssima qualidade da governação exercida em Portugal, a partir de 2015.

É inquestionável que se está à beira do fim de um ciclo, bem percetível no antagonismo crescente entre PR e Governo que é incapaz de lidar com uma maioria absoluta.

Com o PRR, a popular bazuca, mal concebido e em derrapagem (a economista Susana Peralta previu há meses que «a verdadeira ‘geringonça’ é a governança do PRR, a ‘última oportunidade’» está a ser apenas o meio para fazer crescer o grau de dependência das empresas e dos cidadãos em relação ao Estado, aumentando exponencialmente, a fidelização do voto, com enfraquecimento da democracia.

 

Timothy Garton Ash, o historiador britânico que se orgulha de ser europeu (Pátrias) explica o processo de ascensão de Orbán ao poder, e a sua análise permite- nos perceber que uma mudança, por dentro, de um regime não é uma hipótese excluída para Portugal.

A arrogância (Húbris) revelada ultimamente pelo primeiro-ministro, começa, aliás, a ser preocupante.

Sentimento negativo que se manifesta com a recusa em proceder a uma ampla remodelação, como a maioria dos eleitores reclama, com a reação de ‘desprezo-estudado’ sobre as últimas decisões políticas do PR, com o anúncio da confirmação da legislação ‘Mais Habitação’ sem qualquer alteração, enfim, com a reação primária e negativista (antes, durante e depois) à apresentação de propostas alternativas em matéria de fiscalidade.

 

É óbvio que perante sintomas tão nocivos é preciso encontrar uma solução

A saída só pode assentar no estabelecimento de um pacto de regime que permita ‘construir’ uma nova Administração do Estado eficiente e moderna ao serviço do tecido empresarial e dos cidadãos.

Mas esta tarefa, provavelmente ciclópica e inatingível a curto prazo, só é possível com uma profunda mudança de protagonistas e depois de um forte sobressalto da cidadania.

A política tem de servir as pessoas e não servir-se delas.