O SNS está nos Cuidados Paliativos, mas necessita de Cuidados Intensivos

É urgente atrair profissionais para o setor público e, não menos importante, reter os que ainda vão resistindo. Agora, deixar sair os profissionais portugueses que, como sabemos, têm uma formação muito exigente, para contratar profissionais de outras nacionalidades é bem elucidativo do desnorte que paira na gestão do SNS.

Por Fernando Camelo de Almeida, Gestor

O Serviço Nacional de Saúde é uma enorme mais valia para os Portugueses, tem excelentes profissionais e é a opção mais segura tanto em episódios de urgência como, por exemplo, em problemas do foro oncológico ou cardíaco. Por essa mesma razão, não podemos continuar a assistir passivamente à contínua e preocupante degradação do SNS.

O Estado gasta uma fortuna a formar médicos, referi ‘gasta’ em vez de ‘investe’, porque o custo com a formação dos profissionais de saúde deixou de ser um investimento como seria desejável a partir do momento em que após a sua formação saem para o privado por falta de condições de trabalho competitivas no setor público.

Há uma enorme carência de profissionais no SNS, colocando em causa o normal funcionamento de várias valências em muitos hospitais do país e dessa forma falhando nos serviços de saúde prestados às pessoas. 

Nos últimos dois anos, o número de utentes sem médico de família aumentou cerca de 30%, as listas de espera nos hospitais para primeira consulta e cirurgia também aumentaram, há concelhos, como é o caso de Ovar, que tem mais de 55.000 habitantes fixos e uma elevada população flutuante durante a época balnear e o período do Carnaval que nem um Serviço de Urgência Básico tem no hospital, como se não bastasse, foi colocada em cima da mesa a possibilidade de passar a integrar a ULS da Região de Aveiro que fica mais distante do que a ULS de Entre o Douro e Vouga para onde os utentes têm sido reencaminhados até então, este é apenas um exemplo da displicência com que os portugueses estão a ser tratados no que a cuidados de saúde diz respeito.

Por essa razão, há cada vez mais gente a fazer seguro de saúde, só que para além de pagarem o seguro, continuam a descontar da mesma forma para o Estado.

A solução não pode passar por encerrar serviços, contribuindo desta forma para o definhamento da maior conquista que tivemos após 1974, mais concretamente em setembro de 1979. A solução tem que passar pela devida valorização dos profissionais de saúde no SNS. 

Poderá sempre dizer-se que não há viabilidade financeira para aumentar salários e assim atrair mais médicos para o SNS, mas esse argumento não colhe. Mandam as regras da boa gestão que pessoas motivadas produzem mais e melhor, por outro lado, aumentando os recursos humanos afetos ao SNS, o Estado para além de melhorar a qualidade dos serviços prestados também iria poupar na despesa com serviços extras que têm um custo muito elevado.

 

Segundo o relatório do Conselho das Finanças Públicas (CFP), o SNS gastou 170 milhões de euros com prestadores de serviços em 2022, mais 22,4% que no ano anterior. Estes números são preocupantes e reveladores do problema real cuja resolução tarda em chegar. 

Que raio de gestão é esta que resiste a aumentar salários de forma a tornar as carreiras mais competitivas e atraentes, incentivando os profissionais a trabalhar no Serviço Público, mas em alternativa gasta 170 milhões com prestadores de serviços que não conseguem colmatar a falta de recursos existente e não evitam o encerramento de serviços nos hospitais públicos? No fundo, não resolvem coisa nenhuma…

É urgente atrair profissionais para o setor público e, não menos importante, reter os que ainda vão resistindo. Agora, deixar sair os profissionais portugueses que, como sabemos, têm uma formação muito exigente, para contratar profissionais de outras nacionalidades é bem elucidativo do desnorte que paira na gestão do SNS.

O SNS está gravemente doente e necessita de mais médicos Portugueses para o assistir!