Todos, todos, todos!

Como católico, foi para mim uma honra muito grande receber o Santo Padre no meu país.

Através da televisão, segui atentamente os momentos mais marcantes da presença em Portugal de Sua Santidade, o Papa Francisco, por ocasião das Jornada Mundial da Juventude – acontecimento que, acrescente-se, foi um êxito sem precedentes.

Como católico, foi para mim uma honra muito grande receber o Santo Padre no meu país. Como português, sinto um orgulho enorme em ver Portugal chegar aos quatro cantos do mundo e deixar de estar só para ficar orgulhosamente acompanhado por todas as nações do planeta. Uma vez mais se confirmou que este país é exímio em receber bem quem nos visita e nunca abdicou dessa tradição histórica, o que é da maior justiça realçar.

 

O futuro nos dirá qual o efeito da sua mensagem a longo prazo no coração dos homens após esta jornada. Uma coisa, para já, é certa: pelo que se tem ouvido nas muitas entrevistas aos peregrinos e pessoas em geral, algo vai mudar; e a presença do Sumo Pontífice contribuiu para que nos sintamos rejuvenescidos e possamos partir para o futuro com mais entusiasmo, força anímica e amor ao próximo.

Sou suspeito ao falar do Papa Francisco. Já escrevi um artigo sobre ele, aquando da sua primeira visita a Portugal, e fiz a letra para um hino em sua honra, com música do padre António Cartageno, gravado em CD em 2017, pois trata-se da personalidade que mais admiro a nível mundial. O que penso acerca dele pode resumir-se ao refrão do hino com o seu nome: ‘Francisco tu és para nós/ Aurora de um tempo novo/ A força da tua voz /É a esperança do teu povo!’. 

Ao ouvir agora as suas palavras, bem como a mensagem que nos deixou, continuo a considerar aquele refrão muito atual. Francisco, para além da posição em que se encontra, é uma pessoa diferente, um homem bom, um irmão, um amigo especial em quem muita gente, como eu, se revê. 

 

Aplaudi com emoção os seus discursos, mas gostei ainda mais daquilo que ele improvisou e, em minha opinião, foi aí que penetrou no nosso coração.

Abriu as portas da Igreja a todos os que quiserem lá entrar, dizendo bem alto e claramente que todos são bem-vindos e ninguém deve ser excluído. Insistiu na palavra ‘todos’ por diversas vezes, para que não ficassem dúvidas de que o convite é mesmo universal. Aos jovens, tal como um irmão mais velho com a sua experiência e sabedoria, encorajou-os: não tenhais medo. E lembrando a necessidade do amor, frisou: «Quem ama não desiste».

Cada um interpretará a mensagem de Francisco de acordo com as suas convicções, mas, se quisermos transportá-la para fora do contexto religioso, ela continua a fazer todo o sentido – pois vivemos num mundo onde as desigualdades são cada vez maiores e também aí encontramos razões para dizer «Todos, todos, todos!». 

Vejamos: nem todos têm condições para viver condignamente, a paz não chega a todos, a discriminação entre as pessoas continua, o direito à saúde é só para alguns – basta olhar para o que se passa entre nós com a falta de reposta do SNS -, a maioria dos idosos passa por dificuldades e as novas tecnologias deixam para trás quem não as consegue acompanhar.

 

Quanto aos pontos altos deste Encontro, registo aquele mar de gente no Parque Tejo, facto inédito no nosso país; o Papa em Fátima, com crianças deficientes que o abraçavam; e a Via Sacra no Parque Eduardo VII, um espetáculo fantástico que a nossa memória nunca esquecerá. 

Ninguém pode ignorar o trabalho invisível dos voluntários e das famílias de acolhimento, sem os quais nada disto teria sido possível. Aqui fica o meu apreço e elogio. O grupo coral, sob a batuta da categorizada Joana Carneiro, dispensa comentários, pois foi mais do que evidente a excelência da sua atuação. Carminho, com a sua voz inconfundível, cantou e encantou peregrinos e todos os que tiveram o privilégio de a poderem ouvir. A cobertura televisiva da RTP esteve no seu melhor nível. Apreciei os comentários oportunos e esclarecedores do padre José Carlos Nunes e da minha colega, irmã Ângela Coelho. Fiquei sensibilizado com a grande humanidade dos elementos da segurança do Papa, em especial para com as crianças e doentes, o que nem sempre se verifica naquelas forças.

Vamos acolher a mensagem do Papa Francisco que nos visitou como peregrino da esperança. O nosso dever é espalhar a paz, o amor e a solidariedade. A quem? A todos, todos, todos!