O país não é para todos, todos, todos

O apelo à construção de uma nação para todos os portugueses é algo que deveria estar na mente de todos os líderes políticos. Um país para os jovens, trabalhadores e pensionistas. 

José Maria Matias

Aluno do mestrado de Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Nova de Lisboa

A Jornada Mundial da Juventude em Lisboa terminou. Tendo sido um sucesso, demonstrou que o povo português esteve à altura das responsabilidades. Penso até que já será seguro afirmar, este foi o maior evento internacional que teve lugar no Portugal democrático. No entanto, o real impacto do encontro vivido, ainda está para ser compreendido. Há muitas dimensões para abordar e várias coisas que mereceriam ser discutidas, sendo difícil, hoje, gostava apenas de focar-me num ponto. Para a história ficaram imortalizadas as palavras do Papa Francisco que fizeram eco em todo o mundo: «Todos, todos, todos». Este foi o grito do Papa a explicar que o Cristianismo era um convite para todos, que a Igreja era de todos, que a salvação é para todos.

Se isto era um apelo para todos pensarmos nos vários aspetos das nossas vidas, esta era uma oportunidade ideal para qualquer líder político olhar para o seu país. É seguro afirmar que no nosso caso, os líderes políticos puderam escutar as palavras do Papa na primeira fila. Não será legítimo perguntar-lhes: será que temos um Portugal para todos os portugueses? Todos, todos, todos? Será que temos líderes políticos que têm essa consciência de todos? Não falo de uma mentalidade coletivista, mas sim, se sentem um apelo à unidade nacional? 

 

Tenho as mais profundas dúvidas sobre se este país é para todos. Seguramente não é para os 4,5 milhões de portugueses que vivem com menos de 554 euros por mês. Não é para 40% das famílias portuguesas que têm rendimentos inferiores a 830 euros mensais. Certamente, não é um país para 1,6 milhões de pensionistas que recebem pensões inferiores ao salário mínimo. Não é um país para 16,4% da população que não consegue aquecer as suas casas. Não é um país para 22,4% dos trabalhadores que ganham o salário mínimo, o que deveria ser uma exceção, mas que em Portugal é uma regra. Não é um país para os jovens que, em média saem de casa dos pais, aos 33 anos de idade. Não é um país para quem queira estudar e fixar-se. Em média, todos os anos, 50 mil jovens terminam os estudos na Universidade, desse total, cerca de 20 mil, deixam todos os anos o país à procura de melhores oportunidades. Ou seja, o país perde anualmente quase 40% dos recém-formados. O país não é de todos, e feitas bem as contas, talvez seja um país para poucos, poucos, poucos. Portugal não é a casa para um grande número de portugueses e isso é uma realidade muito triste. 

O apelo à construção de uma nação para todos os portugueses é algo que deveria estar na mente de todos os líderes políticos. Um país para os jovens, trabalhadores e pensionistas. 

 

Temos sido governados maioritariamente pelo PS nos últimos 27 anos. Em 2015, António Costa ao formar a geringonça criou um precedente na Democracia portuguesa. O PS, o BE e o PCP não se entenderam naquilo que queriam construir para o país, entenderam-se naquilo que queriam destruir: o centro-direita. As feridas criadas por esse gesto poderão ser irreparáveis para a Democracia. Recentemente, os socialistas espanhóis seguiram o exemplo português de 2015. Neste caso, as alianças que o PSOE está obrigado a fazer, poderão colocar em causa a própria integridade do território espanhol. A forma como o socialismo português está a aplaudir isto, é de bradar. Infelizmente os socialistas relembram-nos da pior forma as suas lealdades: primeiro vem sempre o partido e a lógica da manutenção do poder. Se isso custar o país, que custe. Esta nunca será a forma de governar um país para todos, é a forma de garantir um país para os poucos. Para eles próprios.