‘Deve ser medida produtividade e não horas trabalhadas’

Um dos problemas de Portugal diz respeito à falta de produtividade, que em Portugal é inferir à média da zona euro. Especialistas explicam ao Nascer do SOL o que pode ser feito.

«A maneira mais fácil de aumentar a produtividade não é vender mais: é vender mais caro! Se um operário fizer apenas um par de sapatos mas o vender por mil euros a sua produtividade será dez vezes superior». A frase foi publicada recentemente pelo ex-ministro da Economia, Pedro Siza Vieira nas redes sociais, onde explica como aumentar a produtividade no país e defende que é um dos problemas ligados a Portugal. 

«A fraca produtividade não é um tema recente no que toca a Portugal», começa por explicar ao nosso jornal Vítor Madeira, analista da XTB, detalhando que ao longo das últimas décadas «foi-se observando esse comportamento que tem penalizado a economia portuguesa». E diz que o facto de os salários «serem baixos cria pouco incentivo a maior produtividade, mas por sua vez a fraca produtividade leva a salários baixos».

O analista é ainda da opinião que as condições de trabalho podem ser melhoradas, em termos de benefícios e equilíbrio para o trabalhador, práticas de gestão adequadas e de motivação. «A diminuição da carga fiscal relacionada com o trabalho daria margem às empresas para subirem e contratarem trabalhadores mais facilmente e, em simultâneo, aumentava os salários reais já existentes. Por último, o contínuo desenvolvimento da tecnologia e formação nas empresas».

Já Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, detalha que a produtividade «é basicamente definida como o rácio entre toda a produção de um país (PIB) e o seu número de trabalhadores, ou seja, quanto cada trabalhador gerou em média de riqueza». E deixa exemplos: «O PIB da Suíça é três vezes superior ao português e o país helvético consegue essa produção com quase o mesmo número de trabalhadores que Portugal, logo a produtividade média de um trabalhador suíço é quase três vezes superior à de um trabalhador português. No entanto, se um trabalhador português emigrar para a Suíça passa a ser três vezes mais produtivo», defendendo não ser apenas «o nível média de escolaridade inferior de Portugal relativamente à Suíça, mas os métodos de gestão, a organização de um país, a burocracia, a política, as instituições, o acesso a fontes de energia mais baratas e sobretudo a produção de bens competitivos extra-preço, personalizados e de elevado valor acrescentado que aumentam a produtividade do trabalho», destacando que aquilo que é produzido pela Suíça confere à economia suíça uma vantagem competitiva muito superior à portuguesa, «vantagens alicerçadas em margens de lucros». 

De acordo com os últimos números, o nível de produtividade do trabalho em Portugal é 28% inferior à média da Zona Euro. Pior só os gregos e os eslovacos. E há seis anos que o país está a cair no ranking. Vítor Madeira é claro: «Quando não se cria boas condições de trabalho, leva a que a mão-de-obra mais produtiva tenha incentivo em procurar novas oportunidades no estrangeiro, perdendo assim a mão-de-obra mais produtiva para outros países que conseguem oferecer melhores condições». Por isso, é da opinião de que devemos também «ter noção que em Portugal o Estado tem um papel muito importante como empregador, assim a fraca recompensa face ao esforço e a quase inexistente progressão de carreira podem ser as razões para que a produtividade no setor público seja ainda mais fraca. No entanto, o Estado não deve ser o único responsável nesta matéria».

Questionado sobre se uma das soluções poderia passar pela mudança do panorama da nossa economia, em que deveria estar assente em indústrias e negócios assentes em maior valor acrescentado em vez de estar assente no turismo, o analista da XTB defende que o nosso país «já aumentou drasticamente a exportação de alta tecnologia e o enfoque deve continuar nessa área, pois o valor acrescentado é muito mais alto do que exportar papel, cortiça, calçado, vestuário, etc. Deste modo, o foco deve ser em setores que criam mais riqueza». 

Por sua vez, Paulo Rosa diz ser certo que o turismo «tende a ser cada vez mais importante com o aumento do poder de compra global e maior tempo de lazer, mas é um setor assente em mão-de-obra mais barata que outras indústrias, não contribuindo para um aumento da produtividade do trabalho». E lembra que «a dependência do turismo mostrou bem a fragilidade da economia portuguesa aquando da pandemia e consequente confinamento e distanciamento social», sendo da opinião que a economia portuguesa «deve focar-se não só na produção de bens e serviços competitivos extra-preço, mas também menos dependentes de um maior ou menor distanciamento social» e que deve «abandonar gradualmente a competitividade via preço e centrar-se em mais valor acrescentado alicerçado na tecnologia e cada vez mais personalizado, salvaguardando também a diversificação da economia, não colocando os ‘ovos todos no mesmo cesto’». 

Mas há quem defenda que a produtividade não está associada às horas trabalhadas. Vítor Madeira diz que «as condições de trabalho são muito importantes, o ambiente na empresa, as técnicas de gestão, as tecnologias utilizadas, o salário, a carga fiscal, tudo isto tem impacto direto na produtividade». Conseguindo-se equilíbrio entre a vida pessoal e vida profissional, «aliado a boas condições de trabalho e uma carga fiscal baixa, estão as condições necessárias para tornar os nossos trabalhadores mais produtivos». Já o economista do Banco Carregosa defende que «quanto mais intensiva em capital for uma economia, menos dependente estará essa mesma economia do número de horas empregues na produção dos seus bens e serviços». Paulo Rosa defende que «deve ser medida a produtividade e não as horas trabalhadas. As empresas que vão gradualmente acabando com a “cultura das horas”, tendem a ser mais produtivas».