Crianças em risco nas praias portuguesas?

A Autoridade Marítima Nacional revelou, recentemente, que, este ano, já são 80 os casos de crianças desaparecidas nas praias portuguesas. Afinal, como se dão os desaparecimentos? Qual o caso mais ‘grave’ até agora? De que forma devem agir os pais e as crianças nestas situações?

A generalidade das crianças gosta de praia. Os mergulhos no mar, os castelos de areia, os jogos em família, a arca cheia de sandes, frutas, os gelados. Este é, por isso, muitas vezes, um momento de excitação para os mais novos. No entanto, ao que parece, mesmo sob os olhares mais atentos, são cada vez mais os desaparecimentos nos areais portugueses. Pais que perdem de vista os filhos, filhos que não encontram os pais. Mas afinal o que devemos fazer perante esta situação? Durante quanto tempo as crianças ficaram desaparecidas? De que forma atuam as autoridades?

 

Duração dos desaparecimentos

Segundo indicou a Autoridade Marítima Nacional (AMN) na semana passada, este ano já se contam pelo menos 80 casos de crianças que se perderam ou desapareceram nas praias portuguesas.

De acordo com os dados, em 2022 tinham sido registados, em todo o ano, 141 situações de crianças e jovens desaparecidos. No ano anterior tinham sido 120 casos e em 2020 – ano da pandemia da covid-19 –, 56. «Dos dados reportados à AMN, as praias pertencentes à Área Metropolitana de Lisboa, contam até ao momento com o maior número de ocorrências registadas de crianças perdidas durante o ano de 2023», revelou ao Nascer do SOL a própria AMN. No entanto, «os desaparecimentos verificam-se em todo o país».

As situações e dados reportados à AMN não permitem, pela complexidade e variabilidade do contexto de cada situação (como a idade da criança perdida, local do desaparecimento, ocupação da praia, extensão do areal, etc.), «aferir de forma inequívoca a duração média dos desaparecimentos», afirma a entidade que regula a atividade marítima. «Contudo, no contexto das situações mais frequentes (incidente ocorre entre as 10h00 e as 18h30) os dados apontam para que, tipicamente, a criança é encontrada e entregue aos pais/ responsáveis dentro dos primeiros 15 minutos após ser comunicado o seu desaparecimento», acrescenta.

Interrogada sobre o caso que, até agora, demorou mais tempo a ser resolvido, a AMN lembrou que na semana passada uma criança de 12 anos percorreu, perdida durante 4 horas, quase 10 quilómetros entre a Barra e a Vagueira, vindo a ser ajudado por nadadores-salvadores. «Dos registos existentes relativos aos desaparecimentos ocorridos em 2023, o verificado no dia 22 de agosto na praia da Barra, em Ílhavo, com uma criança de 12 anos, de nacionalidade francesa, foi o incidente em que demorou mais tempo a encontrar a criança», conta.

Tudo aconteceu quando os pais – a mãe portuguesa, residente em França, e o pai, de nacionalidade francesa, assim como as crianças – se ausentaram do local por momentos e, quando regressaram, se aperceberam da ausência do menino. O alerta foi dado ao nadador-salvador da praia da Barra pelas 12h50, mas a criança só acabou por ser localizada às 17h15, depois de ter pedido ajuda a um outro nadador-salvador na praia da Vagueira, em Vagos, a cerca de 10 quilómetros do local onde havia desaparecido.

Segundo o Notícias ao Minuto, como a criança não estava a ser encontrada nas imediações, foi montado um dispositivo de busca, quer em praia quer em terra, que envolveu elementos da Polícia Marítima, da Proteção Civil, do projeto ‘SeaWatch’, da GNR, e nadadores-salvadores. O projeto assegura a vigilância motorizada nas zonas balneares onde não existem nadadores-salvadores, «assim prevenindo a ocorrência de acidentes por afogamento». O ‘SeaWatch’ foi lançado há quatro anos, com o apoio da Siva Portugal, que efetua a cedência, durante a época balnear, de 28 carrinhas Volkswagen, do modelo Amarok, preparadas para assistência a banhistas e socorro a náufragos, as quais são operadas por militares da Marinha, da classe de Fuzileiros, a prestarem serviço nos órgãos da Autoridade Marítima Nacional.

No início do mês, uma outra criança de 4 anos perdeu-se na praia do Pedrógão, em Leiria. O acontecimento tornou-se viral depois de um militar da GNR dar-lhe colo durante cerca de uma hora, até ao momento em que o pai, no outro lado da praia, foi encontrado pelos nadadores salvadores. A imagem do momento foi partilhada nas redes sociais pela própria GNR e o post ultrapassou em muito o alcance habitual da força de segurança no Facebook.

De acordo com a AMN, os dados constantes dos relatórios de ocorrência, dada a sua natureza, não permitem aferir se os casos costumam ser parecidos ou não. Ou seja, se na maioria dos casos são as crianças que se afastam, ou os pais que se ausentam por alguns momentos deixando-as sozinhas.

 

Quais as medidas a tomar?

A Autoridade Marítima Local, através das respetivas Capitanias e/ou Comandos-locais da Polícia Marítima, recomenda que logo que tenha conhecimento da ocorrência «toma as diligências necessárias». «Que passam pela divulgação pelas restantes autoridades/ entidades e pelo dispositivo de Nadadores-Salvadores existentes no local, bem como o empenhamento de diversos meios nas buscas, articulando, se necessário com outras entidades», explica a AMN.

Relativamente à ação dos pais, estes devem «informar de imediato a Autoridade Marítima Local, o Nadador-Salvador ou outras autoridades presentes no local, ligando se necessário para o 112», frisa. «Acima de tudo, a AMN recomenda que sejam frequentadas praias marítimas vigiadas, e nestas situações, as crianças devem dirigir-se ao primeiro Nadador-Salvador ou ao Agente de autoridade que encontrem, que garantirá a sua segurança», acrescenta.

Uma outra questão prende-se com a confiança dos cidadãos nos agentes da autoridade. Regressando ao caso do GNR Tiago Seixal, que deu colo à criança de 4 anos que desapareceu na praia de Pedrógão, na altura, este contou: «Aproximei-me da criança, perguntei se ela queria dar uma volta no carro da GNR […]. Ela disse que se calhar era melhor não, pois não queria ir presa. Não a queria deixar fugir, então peguei nela ao colo e comecei a brincar, a fazer perguntas, para ela se sentir segura. Ela acabou por adormecer». «Espero sobretudo que a foto sirva para as crianças verem que somos uma força próxima e de confiança», afirmou. Já o capitão Rui Costa, também GNR de Leiria, disse, na altura, que o objetivo da partilha da fotografia passa também por «mudar a mentalidade sobretudo dos titulares de educação». Segundo a AMN, a particularidade do ambiente balnear e marítimo «é propícia a uma relação de confiança entre cidadão, AMN e Nadadores-Salvadores».

Recorde-se que a PSP disponibiliza todos os anos as pulseiras do programa ‘Estou Aqui! Crianças’. Este ano foram distribuídas 50 mil exemplares deste mecanismo que facilita o encontro das famílias com as crianças (dos dois aos 10 anos) que se percam. As pulseiras são grátis e válidas até final do ano. Podem ser pedidas quer por portugueses, quer por turistas estrangeiros.