“Iniciamos uma nova etapa do caminho pastoral e histórico da Igreja de Lisboa”

Na entrada solene como patriarca de Lisboa, D. Rui Valério discursou diretamente para os mais jovens e pediu-lhes que tracem um novo caminho para a Igreja depois da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

"Iniciamos uma nova etapa do caminho pastoral e histórico da Igreja de Lisboa, enriquecidos com o incomensurável dom da esperança, da renovada força da vida nova, comunicada nos últimos tempos, seja pelo caminho sinodal diocesano, seja pelo marco indelével da Jornada Mundial da Juventude, seja pelo testemunho profético e de santidade de tantos sacerdotes, de muitos leigos, de mulheres e homens de boa vontade, ou ainda pela capacidade de efetiva cooperação com as Entidades do Estado, Civis, Militares e também pelo espírito ecuménico de diálogo com outras religiões", começou por dizer D. Rui Manuel Sousa Valério na entrada solene como patriarca de Lisboa, tendo discursado diretamente para os mais jovens e lhes pedido que tracem um novo caminho para a Igreja depois da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

"Por isso, ao iniciar a missão que o Senhor me confiou, não posso deixar de expressar aqui um verbo de gratidão e de louvor — com Maria também eu digo: 'A minha alma exulta no Senhor, o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador' — pelo dom de integrar uma Igreja que, desde sempre, se plasmou na entrega incondicional à missão de servir o santo Povo de Deus, e fê-lo com particular vigor com os últimos Pastores que tive a graça de conhecer e de ter como Bispos: os Patriarcas Ribeiro, Policarpo e Clemente", continuou o patriarca nascido na véspera de Natal, a 24 de dezembro de 1964, na freguesia de Urqueira, no concelho de Ourém, cuja Profissão Perpétua ocorreu em outubro de 1990, na Congregação do Padres Monfortinos (Missionários da Companhia de Maria).

"A este último, aqui manifesto um sentido agradecimento pelas perspetivas de abertura que soube incrementar na vivência da fé face à cultura e aos plurais dinamismos da sociedade, mas também um reconhecimento porque, desde a primeira hora do seu ministério patriarcal, imprimiu no ADN do Patriarcado, não só uma palavra, mas um movimento, uma ação de sair, de ir ao encontro", disse o bispo cuja Ordenação Presbiteral deu-se a 23 de março de 1991, Nomeação Episcopal a 27 de outubro de 2018, para Bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança de Portugal e Ordenação Episcopal a 25 de novembro de 2018, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, tornando-se agora o 18.º Patriarca de Lisboa.

"À grandeza da sua espiritualidade, devemos a eleição de Lisboa a posicionar-se, uma vez mais, como marco de um novo recomeço de vida cristã. A Jornada Mundial da Juventude não representou só um encontro de jovens do mundo inteiro. Foi essencialmente o desconfinamento espiritual da humanidade. E essa circunstância representa uma acrescida responsabilidade para não deixar esfriar a sua pujança, nem mutilar o ardor do seu dinamismo", declarou, tendo indo ao encontro das palavras proferidas na Saudação na celebração de tomada de posse, que decorreu no sábado na Sé Patriarcal de Lisboa.

Nessa cerimónia, deixou claro: "(…) Saúdo o santo Povo de Deus, os seminaristas, os leigos, os jovens, todas as mulheres e homens de boa vontade. Obrigado pelo vosso testemunho de santidade e de amor a Cristo e à Igreja. Vós fostes constituídos os principais depositários da palavra que o Espírito Santo dirigiu à Igreja de Lisboa, no decorrer das JMJ. Estais convocados para a expressar. E nós, prontos para a receber. Saúdo todas as vítimas de todos os tipos de abuso. Não repito palavras já esmorecidas pelo uso, mas dou-vos, e darei sempre, a minha solidariedade, a minha presença e constante proximidade. Convosco carregarei o fardo do vosso sofrimento, acreditando na cura e redenção". Recorde-se que, durante a JMJ, o grupo 'This Is Our Memorial', composto por cidadãos que decidiram fazer um crowdfunding, nas redes sociais, para afixar três cartazes – sitos em Algés, na Alameda D. Afonso Henriques e em Loures – que relembram as conclusões do relatório sobre os abusos sexuais de crianças na Igreja Católica, deu que falar.

A Comissão Independente recebeu um total de 564 testemunhos relacionados com casos de abusos sexuais na Igreja Católica entre 1950 e 2022. Após cuidadosa validação, 512 desses testemunhos foram considerados autênticos e válidos. Com base nessas amostras, a Comissão estimou que existem cerca de 4.815 vítimas de abuso sexual no total. No entanto, esse número pode ser ainda maior, representando apenas uma parte do problema, constituindo a "ponta do iceberg". As palavras de D. Rui Valério levaram a que Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, destacasse as semelhanças entre ele próprio e o novo patriarca, enfatizando a importância da "proximidade" que caracteriza o novo líder da Igreja Católica em Lisboa. Moedas definiu D. Rui Valério como "um homem extraordinário" e enfatizou a qualidade da "proximidade" como um traço crucial, especialmente durante o período de guerra na Ucrânia. O presidente da Câmara elogiou as referências de D. Rui Valério – que realizou o curso de Filosofia na Pontifícia Universidade Lateranense, onde obteve o Bacharelato; licenciou-se em Teologia Dogmática na Pontifícia Universidade Gregoriana; fez uma pós-graduação em Espiritualidade Missionária na Bélgica e frequentou o Doutoramento em Teologia na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa – ao Papa Francisco, destacando a visão de uma igreja "para todos".

Em declarações à Rádio Renascença, Carlos Moedas considerou este um "momento único para a cidade" e relevante para os católicos em Lisboa, parabenizando a Igreja Católica pelo evento. Também ressaltou a capacidade de D. Rui Valério de envolver pessoas de outras crenças durante a sua homilia, apreciando a abertura da Igreja Católica à comunhão com outras religiões e com aqueles que não têm religião. No que diz respeito à questão dos abusos sexuais dentro da Igreja, Carlos Moedas elogiou a forma direta através da qual D. Rui Valério abordou o problema, afirmando que "ele teve as palavras certas" e enfatizando o compromisso de todos em abordar essa questão. D. Rui Valério sucedeu a D. Manuel Clemente como patriarca de Lisboa e prometeu ser um líder próximo do povo da cidade, incluindo as vítimas de abuso na Igreja Católica, declarando-se um "bispo de rua e de proximidade".

A entrada solene contou com a presença do Presidente da República, de Aníbal Cavaco Silva, de diversos ministros, autoridades civis e militares.

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