Bruno Cabrerizo: “O carisma não se explica nem se fabrica”

Diz não pertencer a lado nenhum, por mais que divida a sua vida entre o Brasil, Itália e Portugal. É de sorriso fácil, garante ser sempre ele próprio e nunca reclama, só agradece. Por cá, a sua carreira catapultou em 2014. Hoje, é uma das caras mais acarinhadas pelo público português. No dia 6 de…

É muito acarinhado tanto pelo público português como pelo brasileiro. As pessoas acham-no simpático e, na verdade, quando aparece está quase sempre com um sorriso no rosto. É uma pessoa feliz? (risos) Sim! Sem dúvida alguma! Tenho saúde, dois filhos maravilhosos, família e sou realizado no meu trabalho. Só por aí, eu sou feliz! E se eu sou acarinhado pelo público? Eu também acredito que sim, eu sinto isso. É uma coisa que vem de cada um. Acho que tem a ver com carisma e o carisma não se explica, nem se fabrica. Você gostou de mim? (risos) Então ‘tá bom!

É brasileiro carioca, com descendência italiana. Sente que essa alegria de viver é intrínseca a esses dois povos? Pode ser que sim! O brasileiro, por si só, independentemente de ser carioca, é feliz! O povo brasileiro é, em geral, um povo feliz! Um povo sofrido que aguentou e aguenta muita coisa, porém, que consegue viver feliz. Muita gente vive com pouco. O povo italiano também. É muito alegre, principalmente no sul da Itália. Pode ser que seja por aí…

Isso significa que a imagem que o público português acabou por criar de si é real. É o mesmo Bruno dentro e fora de casa? Talvez isso seja um pouco o segredo de eu me dar bem com todo o mundo, das pessoas gostarem de mim, da minha presença, de trabalharem comigo. Por conta de eu ser eu mesmo sempre. Sou sempre eu mesmo, não tenho uma divisão de mim. Claro que no trabalho tenho uma seriedade maior, porque trabalho é trabalho, inclusive ‘amigos, amigos, negócios à parte’. Se eu estou trabalhando há um limite entre a brincadeira e a seriedade. Eu imponho isso sempre, porque eu não sei trabalhar de outra forma. Sempre dentro do bom ambiente!

A sua vida é dividida, por isso, entre o Brasil, Itália e Portugal. Sente que pertence mais a um destes lugares? O que é que cada um lhe dá? Não sei se pertenço mais a um ou mais a outro. Eu tenho a base em Milão, onde eu moro por causa dos meus filhos. Tenho uma gratidão imensa por Itália porque foi onde eu comecei a minha carreira, me formei como ator e os meus filhos nasceram lá. 

Eu sou brasileiro e corre no meu sangue. Amo ser brasileiro. E Portugal foi onde eu tive a grande explosão da minha carreira. Depois de sair de Itália, vim para cá e só depois voltei ao Brasil em trabalho. Por isso acho que cada lugar tem um valor, um sentimento especial para mim. [Itália] Filhos, base. [Brasil] Raiz, origem. [Portugal] Carreira, o lado profissional… Além de que eu amo estar aqui. Considero Portugal um paraíso. Apesar de todos os problemas e aumentos [de preços], Portugal, principalmente Lisboa, acaba por ser para mim um paraíso. Acaba por parecer o Rio de Janeiro, onde cresci!

Antes da moda e da representação, a sua paixão era o futebol. Como defesa central, chegou a jogar no Japão, com 21 anos, no clube Sagan Tosu. Teve por isso de se mudar para a Ásia. Foi nessa altura que conheceu a solidão? Sim! Foi exatamente aí, quando eu fui viver para o Japão. Você fez bem o seu trabalho de casa! (risos) Foi a primeira vez que eu saí do país como jogador de futebol e fui morar numa cidade interior, para mim foi muito chocante. Fui do 8 ao 80. E eu não tinha estrutura nem mentalidade para isso. Foi o primeiro contacto que eu tive com a solidão… Eu moro sozinho desde os meus 17 anos, o meu pai foi transferido e a minha família foi toda para São Paulo. Como eu já jogava, fiquei no Rio de Janeiro. Não queria largar o clube. Mas foi no Japão que eu entendi o que é que era sentir-me só. Cuidado com o que eu vou dizer – porque depressão é uma coisa muito séria e maior do que o que eu vou dizer –, mas senti talvez o princípio de uma. Eu saboreei isso e não é legal!

O que é que mais o marcou desse choque cultural? É um país incrível, com uma cultura incrível. Completamente diferente da cultura ocidental, principalmente sul-americana. Mas lindo! Para morar? Como eu fui para uma cidade do interior do Japão, eu precisaria de viver numa cidade grande, como Tóquio. Mas o que eu tiro disso tudo foi o aprendizado. Eu dei um passo para trás na minha carreira como jogador e esse passo para trás foi o início do meu declínio. Eu abri mão de um bom salário na época, eu tinha um clube que já me queria, eu ia morar numa cidade maior que ia pagar o dobro do meu salário… Mas o dinheiro para mim… A minha saúde estava em risco e percebi que precisava de vir embora. Foi um projeto de vida e de carreira que falhou, mas por um bom motivo: a minha saúde mental. Quando eu fui morar para Itália, dois anos depois, eu já cheguei com outra cabeça, porque eu já tinha entendido o que é que era a tristeza. Quando eu tive o gostinho de novo da solidão e, de repente, me senti sozinho – porque eu fui também jogar à bola na Itália –, eu falei: ‘Dessa vez eu não volto! Dessa vez eu não posso ceder. Não posso ser fraco’. Porque antes eu não estava sendo fraco, eu estava ficando doente, mas na Itália seria fraqueza. Eu já cheguei com essa experiência. Fui-me agarrando a isso. Até que quando eu parei de jogar (2007/2008), não voltei para o Brasil. Foi aí que a vida começou a acontecer, que mudei completamente [de vida].

Acredita então que, às  vezes, as coisas para as quais não estamos prontos, nos ensinam mais do que aquelas em que nos sentimos confortáveis? A gente aprende sempre! Em qualquer situação, mas principalmente com os erros e com as coisas que não dão certo. Eu acredito muito que se não deu certo era porque provavelmente você não estava pronto. Mas você precisava de passar por aquilo para entender o que é, porque na hora em que chegar outra situação em que você merece ficar, já tem uma outra cabeça. Através de erros, de coisas que não estava pronto para suportar. Eu acredito que você sempre tira algo de bom dentro de situações que naquele momento não são boas e você não entende o porquê.

Esse gosto pelo futebol nasceu na infância quando brincava com os amigos na rua? O que é que ficou mais marcado dessa altura? Nós praticamente vivíamos na rua, não é como hoje! Não existia essa coisa do telemóvel, da internet. A gente brincava na rua, foi aí que eu cresci. Fica essa lembrança, a de passar o dia todo na rua, quando não tinha escola… Jogava com os amigos e fui percebendo que eu tinha uma qualidade maior do que os colegas. Até quando o professor na escola de futebol disse que eu podia tentar jogar num nível maior. Os meus pais levaram-me e as coisas foram acontecendo, como o percurso de qualquer atleta que começa na base e vai subindo de categoria. 

Mas não era só futebol… Também cresceu com uma ligação ao circo. Tem parentes que ainda hoje viajam pelo Brasil inteiro com a casa às costas. Nunca lhe passou pela cabeça seguir esse caminho? Não! Nessa altura eu já estava muito ligado ao desporto. Até porque quando a minha avó me levava, a mim e à minha irmã, ela já tinha saído do circo. Nasceu no circo, cresceu lá como toda a sua família… A minha avó era autodidata, aprendeu a ler e a escrever sozinha nas caravanas dos circos. A minha avó foi atriz circense. A minha tia-avó era equilibrista. Mas depois da minha avó ter conhecido o meu avô, abandonou o circo e casou-se. Na época era assim, um sistema patriarcal: ou você se casa e larga o circo ou então a gente não vai ficar juntos. A minha avó optou. Queria criar a sua família, na altura era status também. A família permaneceu, temos até hoje uma parte que continua com o circo. Quando ela nos levou ela já tinha saído há muito tempo. Por isso, a memória que eu tenho é estarmos no backstage, naquelas rulotes, onde o pessoal trocava de roupa. Lembro-me também do chão que era terra, que era lama quando chovia. Ficava aquele cheiro de esterco de animal. (risos) Um elefante ali, outro animal do outro lado.

E quando é que surgiu a decisão de ir morar para Itália? Dizia numa entrevista que a sua carreira já estava em fase descendente. Fugiu de alguma coisa? Sim! (suspiro) Eu estava a fugir do meu fracasso profissional. Eu sabia que a carreira estava em declínio e fugi por ansiedade. Já melhorei muito! (risos) A carreira é muito curta e quando voltei do Japão percebi que a minha carreira começou a ir cada vez mais para baixo. Eu não queria parar de jogar no Brasil. Por isso, um pouco por vergonha, por tristeza… Pensei: ‘Vou jogar as minhas últimas cartadas na Itália’. Tinha o passaporte, por isso as coisas foram mais fáceis. Fui para lá e continuei a minha carreira de jogador sem imaginar que estaria hoje aqui a falar de uma outra coisa, estando noutra carreira.

Confrontou-se então com um outro desafio… Nessa altura, depois de abandonar o futebol, teve inúmeras profissões. Foi motorista de hotel, modelo, relações públicas, empregado de mesa… Sim, porque as coisas não se acertaram assim tão rapidamente. Vida de emigrante… Quando decidi parar de forma consciente eu fiz muita coisa… Tudo isso e cheguei mesmo a ser assessor de um ex-jogador.

Como é que chegou ao teatro? Eu sempre gostei. Eu queria fazer teatro, mas não tinha tempo e tinha pouco dinheiro. Aí um amigo meu falou: ‘Porque é que você não vai ser modelo. Você vai ter mais tempo, ganhar mais e vai conseguir fazer o seu teatro’. Eu tranquei a licenciatura de fisioterapia no Brasil e queria voltar a estudar. Comecei então a fazer trabalhos de moda em Milão. À noite estudava teatro. Percebi que isso era a minha grande paixão. Eu passei um ano triste antes disso. Parei de jogar, engordei, estava em baixo. Mas fiquei e procurei outra coisa. Numa aula de improviso, vendo os meus colegas, sentado no chão, deu-se o ‘clique’. ‘É isso! É isso que eu quero para mim, para a minha vida’, pensei. Foi um pensamento tão puro… Eu não queria saber se eu ia ficar rico, se eu ia ter fama ou sucesso. Tudo o que eu queria no futebol e me gerava ansiedade. Eu não tive isso com a arte. Encontrei paz. Fui fazendo testes, ganhei 200 ‘nãos’ para meio ‘sim’… Normal, até hoje é assim. Mas com a paz de espírito de saber que era aquilo que eu queria. E olha só como as coisas foram acontecendo naturalmente. Ansiedade tem? Tem! Até hoje! Mas todo o mundo que trabalha nesta área (representação) sofre do mesmo mal. Hoje tem, amanhã pode não ter. É humano, é natural! Principalmente quando se tem dois filhos para criar. Gerir a ansiedade, a falta de trabalho… Mas eu não penso a longo prazo, não quero ficar rico. Não ligo para a fama! Eu quero estar bem e ter o sustento dos meus filhos.

Na sua opinião a formação de um ator é fundamental? É um debate bastante atual… Sim, mesmo que quem comece a trabalhar não tenha formação. Tem muita gente que trabalha por intuição, isso também é bom. Porém, a formação é importante. Estamos sempre em formação, a aprender. Então quem começa a trabalhar no setor e não tem uma formação académica, não vejo problema. Tem muitos atores que acham que isso só pode acontecer depois de estudar. Há quem não tenha oportunidade por muitos motivos. Mas se tem potencial e quer fazer um trabalho bem feito, por que não? A formação pode acontecer depois disso. É bom aprimorar. Não devemos viver apenas da intuição, temos de ter formação que nos dê técnica.

Surgiu mais tarde a oportunidade de ‘assistente de palco’ de um programa italiano. Como foi essa experiência?  Foi o meu primeiro contacto com o mundo do audiovisual. Já tinha entrado num estúdio, mas foi a primeira vez que me coloquei diante das câmaras. Comecei a entender como é que era o mecanismo de um programa televisivo. Tudo! Desde a produção, ensaios, câmaras, diretor, o trabalho que tem por trás… Eu era assistente de palco, não fazia quase nada! (risos) Ficava segurando o microfone, só sorrindo. Quase ganhei cãibra no maxilar de tanto sorrir! (risos) Pegava no microfone, entregava à apresentadora, entrava com os cartões, levava o microfone para as pessoas da plateia. Foi bom! Foram 2 ou 3 meses. Nesse programa viram-me e decidiram apostar em mim. Chamaram-me para apresentar um programa que se chamava ‘Salsa Rosa’. Era cómico. Um talk show. Eu também era gozado pela minha colega, por conta do meu sotaque. Tudo era motivo de riso. (risos) Aprendi muito! Era muita informação e eu não tinha formação. Mas tinha intuição e era ‘cara de pau’. Correu bem!

Sente que, no futebol, ou mesmo agora no meio artístico, existe preconceito para com a beleza? Há um descrédito maior? Tem de se provar mais qualquer coisa para não se ser apenas  ‘a cara bonita’? Sempre, em qualquer profissão. Hoje em dia já está melhor, mas antigamente era muito difícil. Eu jogava como defesa central, eu tinha de ser feio, cara de mitra para poder impor medo aos adversários. ‘O bonitinha não sabe jogar à bola’, ouvia. Mas sabe! Eu mostrei que jogava bem! Acabei por quebrar esse preconceito. No mundo do desporto não era uma mais valia. Agora é. Até porque agora vários jogadores acabam por fazer contratos com marcas. No mundo artístico isso já acontece há muito tempo. É natural que a beleza, sendo o teu cartão de visita, possa gerar dúvidas. Cabe a você, depois de te darem a oportunidade, provar que não é somente uma cara bonita. Para isso tem de ter força de vontade, trabalho e formação.

Em 2014 chegou a Portugal para as gravações da novela ‘Única Mulher’. No entanto, pouco depois, foi convidado para participar no programa ‘Dança com as Estrelas’. Vinha com expectativas de que ia ser bem sucedido por aqui? Ou foi surpreendido? Não pensei nisso. Eu queria muito trabalhar. Essa novela foi o meu primeiro trabalho assim em português. Eu trabalhava só em italiano e, nessa altura, estava muito contente por ter a oportunidade de trabalhar na minha língua mãe. Depois, quando aqui cheguei e vi como era realmente Lisboa, senti que não queria mais sair daqui. A meio da novela já estava ligando para o meu agente perguntando se alguém já me tinha convidado para ficar! Lá está, a ansiedade! (risos) Nunca me ofereceram contrato de exclusividade. Porém, deu certo! As coisas foram acontecendo porque eu amo o meu trabalho!

Mas quando entrou para o programa, já sabia dançar? Acha que é importante para um ator saber fazer o máximo de coisas possíveis? Quanto mais completo nós formos, mais opções de trabalho temos. Na vida, todo o mundo é capaz de fazer várias coisas ao mesmo tempo. Para um ator, saber atuar, cantar, dançar, produzir, dirigir, é muito importante. Ampliam as tuas possibilidades. Quando eu vim fazer o ‘Dança com as Estrelas’ para aqui, eu já tinha participado no programa na Itália. Eu nunca dancei fora dos programas. Eu tinha a base do outro programa e, talvez por ser um ex-atleta, o meu corpo se adaptou muito rápido. A minha memória muscular é muito boa. É importante também para o ator ter uma consciência corporal. A dança dá-te muito isso e eu pretendo voltar a dançar agora em setembro. Vou para Milão e quero praticar a dança de uma maneira constante.

E como foi passar de futebolista a ator? Um futebolista tem de ser estratega, racional. Um ator tem de estar despido de si, tem de ser sensível. São mundos completamente diferentes…  Não são diferentes… Pelo contrário! O mundo do desporto e da alta competição é muito difícil de alcançar. O funil vai ficando cada vez mais estreito e os que chegam lá têm de se manter! A disputa por um lugar é feroz! Os lóbis existem em ambos os lados. Os conhecimentos e as amizades…  A alegria e energia que você sente durante uma apresentação é muito parecida. Jogando no estádio e atuando… A perseverança que temos de ter no desporto, temos também de ter na arte. A dedicação igual! Se você não trabalha bem durante a semana, quando chega ao dia do jogo, da atuação, não tem milagre. Por isso, comparando, é parecido! Tudo o que eu aprendi no futebol, dedicação, regras, horários, resiliência, eu trouxe para o mundo artístico e funciona! Agora: garanto que seja num mundo ou noutro, não existe sorte! Existe trabalho!

E qual é a ponte entre aquilo que é e as personagens que faz? É fácil desprender-me delas porque eu tenho um lado muito ‘terra’, que me puxa e que me mantém muito presente aqui. Isso vem do desporto também. Se o emocional toma conta de você, esquece, você não joga mais! É importante ter este lado.

A forma de fazer televisão no Brasil é muito diferente da forma que se faz aqui? A ‘máquina’ é muito diferente? Quem trabalha no setor, é igual! A qualidade dos profissionais é igual. O método de trabalhar também. O que muda é a grandeza da produção. Lá é muito maior, é natural que a Globo tenha três pessoas para fazer uma função. É tudo à escala. Só por isso, porque o resto é igual. Muda a quantidade de dinheiro que tem envolvido.

E as questões salariais e de instabilidade? No Brasil é igual! Os salários são bons, mas o custo de vida é alto. Não adianta você trabalhar três meses e ficar desempregado outros três. Durante os três meses que trabalhou, você não ganha o suficiente para os meses que fica em casa. São poucos aqueles que conseguem dar o salto.

Acredita que o tempo o está a tornar o ator que desejava ser? Como se define enquanto artista? Vejo-me mais maduro, um ator mais consciente daquilo que está fazendo, mesmo amando fazer o que faço desde que comecei. Estou sempre no processo de formação, há sempre coisas para melhorar.

Sabendo o que quer e não quer fazer? Sim, porém, ansioso! (risos) A ansiedade aflora nos momentos de baixa [quando não surgem trabalhos]. E aí falo comigo mesmo: ‘Calma! Respira! Não aceita qualquer coisa’.

E como é que se lida com o mediatismo? Às vezes dá vontade de não ser uma cara conhecida? Eu lido bem com isso. Quando chegamos a um certo nível no futebol, por exemplo, aprendemos a lidar. Eu aprendi cedo. Hoje, ser conhecido, faz-me sentir grato. É sinal que está dando certo. Mas é uma consequência do meu trabalho, daquilo que eu amo fazer, não é algo que eu quero continuar sendo. Não ligo para isso e acho que é exatamente por isso que eu lido bem. Se eu não quiser lidar com isso, tenho de mudar de profissão.

Há também um lado perigoso nisso… Há quem se deixe deslumbrar. Isso nunca lhe aconteceu? Não porque eu comecei depois. Comecei com a experiência do futebol. Eu não julgo quem se perde, porque eu posso entender que, de repente, quem começa cedo e tem sucesso, dinheiro, pode se deslumbrar, é jovem! Quer curtir a vida… Eu sinto que, por ter começado mais tarde, cheguei com outra cabeça. Quando parei de jogar, tendo tido aquele momento de frustração, tendo feito outros trabalhos, tendo tido momentos em que acordava e só tinha 70 euros no bolso, fiquei com uma outra maturidade. Já vinha com uma grande bagagem. Não há deslumbramento! Sou um ator famoso, mas já trabalhei em restaurantes, no hotel… E aí? Eu valorizo muito o que tenho hoje e, principalmente, o importante é não reclamar.

Na nova série de humor da Netflix, ‘B.O.’, interpreta Azevedo, um polícia galanteador que tenta reconquistar a ex-amante, a inspetora Mantovani (Luciana Paes). A estreia está marcada para o dia 6 de Setembro. O que nos pode contar sobre este projeto? É uma série mundial, a primeira série na qual eu participo. Estou ansioso para assistir à série inteira. A história acontece numa esquadra da polícia, num bairro do Rio de Janeiro, da zona norte, com um humor parecido às séries ‘Brooklin 99’ e ‘The Office’. Eu faço de polícia principal e sou alvejado na luta contra a máfia. Vou parar ao hospital e entretanto chega o meu substituto que é o protagonista. São personagens cómicos que retratam um pouco a vida das delegacias nessa cidade brasileira. O que não deixa de ser uma crítica ao mundo policial. O meu substituto quer resolver tudo na paz e no amor, isso não existe. O delegado principal, eu, quero resolver tudo à porrada. Não posso falar mais, porque eu não sei me conter! (risos)

E no futuro? Tendo passado por tantas experiências, projetos, o que deseja fazer a seguir? Existe algum sonho profissional? Continuar trabalhando. Sempre! Um dia que eu perca o meu trabalho, aí sim… Como eu amo fazer isto, eu só espero poder continuar. E continuar com saúde. Eu não trabalho só por mim e pelo amor que eu tenho pela profissão, tenho os meus filhos!  l