Coimbra. 355 mil euros para reduzir risco de cheia do Mondego

Associação Milvoz denuncia que intervenção da APA “ignora toda a componente ecológica” dos bosques ripícolas que se foram estabelecendo nas margens do rio.

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) adjudicou por 355 mil euros (288 mil euros mais IVA) uma empreitada de reabilitação do rio Mondego, na zona de Coimbra, que tem em vista a redução do risco de inundação.

De acordo com a informação disponível no portal Base, a empreitada, que terá um prazo de execução de cerca de quatro meses, foi adjudicada à empresa Penela Terraplanagens, por concurso público, no qual participaram 11 entidades.

Os trabalhos de intervenção que se vão realizar numa extensão de cerca de 3,5 quilómetros, entre a ponte da Portela e o açude dos Palheiros, no concelho de Coimbra, arrancaram na passada quinta-feira.

De entre as ações previstas, encontra-se a intervenção na vegetação ribeirinha das margens, a regularização do curso do rio com eliminação dos bancos de areia, bem como o enrocamento de um setor de 350 metros de margem.

Contudo, o impacto da intervenção prevista está a deixar os ambientalistas preocupados. A associação de proteção e conservação da natureza Milvoz denuncia, em comunicado, que a obra segue uma “abordagem puramente hidráulica”, que “ignora toda a componente ecológica dos bosques ripícolas estabelecidos ao longo das últimas décadas”. 

 

Para além da perda de biodiversidade neste setor do rio, a associação receia que as intervenções projetadas poderão atuar como “polo de colonização e expansão futura de espécies exóticas invasoras como acácias, ailantos ou canas, tirando partido dos nichos perturbados que ficarão disponíveis”. 

A Milvoz alerta ainda que o volume de sedimento acumulado nos bancos de areia e margens “irá ficar desbloqueado e será arrastado pelo caudal em direção à cidade de Coimbra e ao açude imediatamente a jusante, acelerando a necessidade de operações de dragagem, nas quais foram recentemente investidos vários milhões de euros”.

Na mesma nota, a associação condena a intervenção, nomeadamente no que respeita à “não inclusão de critérios ecológicos por parte de uma instituição que deveria ser exemplar na sua atuação” e garante que está “pronta a atuar no caso de se confirmar a devassa do património natural” deste troço do rio Mondego, apelando aos cidadãos que se mantenham vigilantes ao avanço dos trabalhos.