O beijo da histeria

Mais uma vez, vejo-me forçado a remar contra a corrente, essa imensa maré que tende a transformar a população mundial num ordeiro rebanho, sem opinião própria e subjugada às tresloucadas ideias de uma minoria ruidosa que silencia quem ousa contrariar o pensamento único dominante na sociedade actual.

Deixámos de pensar pelas nossas cabeças e comportamo-nos de igual modo daqueles animais a quem são colocadas palas para seguirem na direcção que lhes é determinada, sem pestanejar.

A esta hora, a Espanha ainda deveria estar em euforia pela conquista do título mundial feminino de futebol e as suas jogadores, para além das equipas técnicas e dirigentes, a festejarem esta conquista inédita e a receberem as justas homenagens de um povo agradecido.

Mas não, um simples beijo, aparentemente sem qualquer maldade, foi o suficiente para o feito histórico da selecção feminina espanhola ter caído rapidamente no esquecimento e as suas atletas ignoradas por aquelas que deveriam ter sido as suas falanges de apoio.

O famigerado beijo tornou-se, num ápice, o principal assunto de interesse à escala global, ofuscando mesmo as notícias referentes à guerra que se trava no extremo europeu, sendo objecto de repúdio por parte de muitos governos dos países mais influentes do mundo, de diversas organizações internacionais, como a União Europeia e as próprias Nações Unidas, e, por cá, pelos habituais comentadores do sistema que enchem, em exclusivo, as diversas televisões.

Resta-nos a consolação de que a Santa Sé tenha ficado a salvo desta discórdia, pois Sua Santidade o Papa, num acto de bom-senso, absteve-se de fazer qualquer comentário nas suas habituais homilias dominicais.

E tudo isto por causa de um simples beijo, no qual não se vislumbra, por parte de nenhum dos intervenientes, qualquer tentativa de rejeição, nem mesmo um sinal de  repulsa.

Muito pelo contrário, a jogadora espanhola não escondeu a diversão que o momento lhe causou, tendo-se mesmo, mais tarde, quando se encontrava já no autocarro, divertido com a situação e comparado aquele beijo com um outro, celebrizado há uns anos quando a selecção congénere masculina se sagrou igualmente campeã do mundo.

As restantes jogadoras, nessa viagem rodoviária, divertiram-se com o insólito ósculo, incitando a colega a repetir a dose e gritando pelo presidente da federação.

No entanto, bastou que as costumeiras histéricas da ideologia do género tivessem entrado em campo para que o jogo tenha mudado radicalmente, tendo o inofensivo beijo, num ápice, transformado-se numa agressão sexual e os ecos de tão bárbaro assédio percorrido, em tempo recorde, os quatro cantos do mundo.

A esta festa juntaram-se, de imediato, as feministas do governo espanhol, as bloquistas lá do sítio, que procuraram logo capitalizar dividendos políticos em mais uma cruzada que tem como destinatário o homem branco!

O próprio presidente do governo, esse grande democrata que, apesar de derrotado nas urnas, procura perpetuar-se no poder, negociando concessões a terroristas e a inimigos declarados do Estado espanhol para lograr alcançar esse fim, em vez de enaltecer o feito das suas compatriotas e valorizar o orgulho que elas representam para uma Nação inteira, apenas teve cabeça para se intrometer no sistema judicial, procurando condicionar a decisão dos tribunais sobre um caso, que à partida, está destinado a não sair do foro disciplinar, e mesmo esse de duvidosa eficácia.

As jogadoras campeãs acabaram por se deixar cair nas malhas da instrumentalização política, porque a cobardia passou a ser a imagem de marca de uma maioria que receia enfrentar o histerismo libertário e fundamentalista dos ideólogos da igualdade de género, ficando agora reféns da agenda do governo espanhol que pretende reverter, a todo o custo, o resultado eleitoral do qual saiu derrotado.

Até o discurso da jogadora osculada mudou do dia para a noite, pois numa primeira fase desvalorizou o excesso de ternura do seu presidente, para depois dar o dito por não dito e vir a terreiro exigir que o agora agressor seja exemplarmente punido.

Claro que o dito já destituído presidente da federação não é flor que se cheire, considerando que o seu gesto foi despropositado, mas, mais grave, ao invés de se desculpar com a euforia do momento e pedir desculpas públicas a quem  eventualmente ofendeu, optou antes pela táctica da vitimização e catalogou de idiotas todos quantos o criticaram.

Ou seja, lançou mais achas para a fogueira onde agora arde em lume brando!

Há, no entanto, justificação suficiente para que a porta da demissão lhe tenha sido aberta, mas por outros motivos que não os invocados.

O rapaz revelou-se de uma ordinarice brejeira, nada condicente com a condição do cargo que ostentava, ao apertar os genitais em direcção aos adeptos ingleses quando a Espanha marcou o golo da vitória.

A agravar este seu gesto, o facto de estar sentado praticamente ao lado da Rainha do seu país!

Mas este comportamento indecoroso é de somenos importância para as dementes alminhas cuja única obsessão é destruir a civilização que herdaram dos seus antepassados, porque, para elas, verdadeiramente criminoso é um homem, branco, beijar uma mulher sem que esta, atempadamente e expressamente, o tenha permitido, mesmo que esse beijo se pratique às claras e sem qualquer tipo de resistência por parte da beijada.

E apesar do período temporal decorrido, este folhetim continua a absorver a atenção de uma sociedade irracional e empobrecida de espírito. Hoje mesmo foi demitido o seleccionador espanhol campeão do mundo, por, pasme-se, ter cometido o odioso crime de ter aplaudido o anterior presidente da sua federação no decorrer de uma conferência de imprensa!

O totalitarismo estende-se, como uma praga, por um mundo adormecido que se deixa conduzir para um abismo sem fim.

E os espanhóis na linha da frente desta loucura.

Começo, agora, a compreender as razões pelas quais os catalães aspiram à independência!