Os piolhos e as dores na coluna são dois problemas totalmente distintos, mas ambos afetam – e muito – a população estudantil portuguesa. Que o diga Mónica Santos, professora do 1.º ciclo do Ensino Básico, em Lisboa, e mãe de dois meninos (de três e sete anos). “Os miúdos sofrem muito com os piolhos porque, por mais que lhes digamos para não partilharem determinados objetos, não entendem ou esquecem-se dos nossos conselhos. E, depois, lá está o chapéu do João na cabeça da Maria e por aí adiante. É impossível controlar este problema entre as crianças mais pequeninas”, sublinha. “Digo-o porque enquanto mãe e professora já fiz de tudo e continuo a não ter sucesso”, lamenta.
Os piolhos são parasitas que podem infestar o couro cabeludo e causar comichão intensa e irritação. Eles são comuns entre crianças e adolescentes, incluindo estudantes, devido ao contacto próximo em escolas e ambientes similares. Para prevenir ou tratar piolhos, existem pontos-chave como a higiene pessoal (lavar o cabelo regularmente e mantê-lo limpo pode ajudar a prevenir infestações), não partilhar objetos pessoais (evitar a partilha de pentes, escovas, chapéus e outros objetos de uso pessoal pode reduzir o risco de transmissão) e o tratamento (se alguém estiver infestado, é importante usar um tratamento adequado, geralmente um champô ou loção específica para piolhos, e lavar a roupa e roupas de cama em água quente).
O tratamento de piolhos pode ser mais complicado e dispendioso do que muitas pessoas imaginam. Embora alguns produtos anunciem uma eficácia de 100%, muitas vezes é necessário repetir o tratamento, conforme indicado nas letras miúdas das embalagens. Aqueles que tiveram piolhos na infância ou cuidaram de crianças infestadas podem oferecer conselhos adicionais, como usar vinagre ou óleo ao pentear. No entanto, a despesa pode acumular-se rapidamente, sem garantia de uma solução rápida. A infestação de piolhos, conhecida como pediculose, é comum em crianças, especialmente durante os períodos escolares. Após um período de desaceleração durante a pandemia, houve um aumento nas infestações no final do último ano letivo e agora no regresso às aulas, o que é típico devido à sazonalidade. No entanto, muitas vezes existe uma relutância em falar abertamente sobre o problema, apesar dos custos significativos que as famílias enfrentam sem qualquer apoio financeiro.
De acordo com dados fornecidos pela IQVIA Portugal, há um ano, ao i, as famílias gastaram um total de 7 milhões de euros em produtos relacionados com piolhos e lêndeas em farmácias e parafarmácias nos então últimos 12 meses, um aumento de 31% em comparação com o ano anterior, quando a pandemia afetou as interações sociais. Isso inclui uma variedade de produtos, como loções, champôs e pentes elétricos. As vendas de produtos antiparasitários aumentaram em 28%, o que indica um aumento na procura.
Antes da pandemia, os gastos das famílias eram ainda mais elevados, chegando a cerca de 8,9 milhões de euros no mesmo período de 2019/2020. No entanto, a tendência de aumento nos gastos persiste. No total, foram vendidas 380 mil unidades de produtos antiparasitários nas farmácias naqueles 12 meses, o que pode significar que mais de 120 mil pessoas foram tratadas, com um gasto médio de cerca de 18 euros por produto.
Por todas estas razões, quem concorda com Mónica é Susana Silva, de Faro, mãe de dois adolescentes que, para além de terem sofrido com piolhos em pequenos, enfrentam agora outro problema: dores na coluna. “Como se não bastasse andarem com as mochilas carregadas, ainda passam horas em frente aos ecrãs. Telemóveis, tablets, computadores… Não me surpreende nada que fiquem mal. Aviso-os e repito os avisos todos os dias, mas de nada serve porque inventam sempre uma desculpa para estarem online”, confessa. “O meu filho tem 15 anos e a minha filha vai fazer 18 e estão os dois constantemente a queixar-se de dores nas costas. Espero que, pelo menos, a mais velha, com a entrada na universidade, mude um bocadinho os hábitos”.
Este panorama não é surpreendente, na medida em que, em Portugal, um problema de saúde comum entre crianças e adolescentes é a ocorrência de dores lombares. Estima-se que cerca de 15% dos adolescentes enfrentem esse problema, e aproximadamente 60% das crianças e jovens já tenham sentido dores nas costas em algum momento das suas vidas. Existem várias razões para essas dores, incluindo o uso inadequado de mochilas pesadas, má postura ao utilizar dispositivos eletrónicos e posições inadequadas durante o estudo. A campanha ‘Olhe pelas Suas Costas’ está empenhada em ajudar os pais e responsáveis a adotarem melhores práticas para a saúde das costas dos seus filhos, especialmente nesta época de regresso às aulas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais da metade das crianças em idade escolar transporta mochilas com excesso de peso. Isso ocorre porque carregam diariamente livros, cadernos, material escolar e, às vezes, até roupas e calçado para aulas de educação física. A OMS recomenda que o peso da mochila não ultrapasse 10% do peso corporal da criança. Portanto, se uma criança pesa 30 quilos, a sua mochila não deve exceder 3 quilos.
No entanto, o problema não se limita ao peso das mochilas, mas também ao seu formato e à forma como são usadas, como carregá-las apenas num ombro, o que pode causar problemas de postura. Para prevenir problemas nas costas das crianças e jovens, é importante que os pais e responsáveis façam escolhas adequadas ao escolher uma mochila para eles, levando em consideração os seguintes fatores: optar por mochilas com duas alças e acolchoamento para evitar contraturas musculares ou, alternativamente, mochilas com rodinhas; escolher mochilas com vários compartimentos para distribuir o peso de maneira uniforme e não sobrecarregar os ombros; garantir que o tamanho da mochila não ultrapasse o nível superior dos ombros e que seja posicionada centralmente na coluna da criança e recomendar o uso de dossiês em vez de cadernos sempre que possível, para reduzir o peso na mochila.
Além de selecionar a mochila certa, a prática regular de exercício físico também é essencial para a saúde das costas das crianças, pois a obesidade e o sedentarismo podem ser prejudiciais. O exercício físico é crucial nessa fase, pois é quando os primeiros sinais de problemas na coluna podem surgir.