Enquanto o ritual da abertura do novo ano judicial ainda tarda, com os discursos da praxe, sem romper com a paralisia que transformou a Justiça num poço sem fundo de processos congelados ou adiados, implicando libertar presumíveis incendiários por esgotamento de prazos ou a arquivar amanhã, sem julgamento, suspeitos de mega corrupções ou de falências culposas de bancos.
Enquanto uma ex-ministra, que arrasou o SNS em nome das suas obediências ideológicas, se prepara, afanosamente, para disputar o município da capital, convencida de que os lisboetas são amnésicos e que com a ajuda de uma nova ‘geringonça’ arruma o assunto a seu favor nas próximas autárquicas.
Enquanto a TAP se converteu numa low cost, renacionalizada a mando de António Costa, indiferente aos custos gigantescos para o país em milhares de milhões de euros irrecuperáveis, para sustentar os prejuízos acumulados da nossa ‘companhia de bandeira’, com péssimo serviço a bordo e em terra (sem que se vislumbre o ‘génio aeronáutico’ do cineasta António Pedro de Vasconcelos, a relançar o movimento ‘não TAP os olhos’…)
Enquanto na escola pública o regresso às aulas se fará, mais uma vez, no meio de todas as incertezas, tendo à cabeça a competição sindical, a ver quem convoca mais greves de professores, ‘nas tintas’ para a alarmante impreparação dos alunos.
Enquanto a Saúde pública continua aos trambolhões, agora com a ajuda de uma ‘direção executiva’, um zeloso biombo do ministro e que, por isso mesmo, precisa de fazer prova de vida, ao anunciar mais uma ‘grande reforma’, já contestada por médicos e outros profissionais do setor.
Enquanto se prepara o anúncio de mais uma localização ‘definitiva’ para o novo aeroporto de Lisboa, graças a uma ‘comissão independente’, entretida em conciliar um novelo de poderosos interesses contraditórios, bloqueadores de qualquer decisão política.
Enquanto Marcelo Rebelo de Sousa, intensifica a sua atividade de ‘comentador residente’ em Belém, crítico do Governo – que Costa finge não perceber -, desdobrando-se, incansável, entre universidades de verão social democratas e a Festa do Livro, sem nunca perder de vista as televisões.
Enquanto tudo isto acontece, num país ‘pobrete, mas alegrete’, mergulhado pela incompetência política nos últimos lugares da tabela da União Europeia, emergiram, subitamente, na agenda do dia, as Presidenciais de 2026.
Hábil, Luís Marques Mendes, tomou a dianteira na televisão, convencido, talvez, de que atrás de um ‘comentador’ em Belém outro virá, e forçando a possível concorrência a sinalizar o terreno. Enfim, prioridades inadiáveis para a Nação.
A antecipação de Mendes causou tal frisson político que até António Barreto não foi de meias medidas e proclamou, sem rebuço «convido, proponho e solicito a candidatura de António Guterres à Presidência da República».
O desafio é uma grande maldade, ao desinquietar quem se libertou do ‘pântano’ nos idos de dezembro de 2001, após uma pesada derrota do PS nas autárquicas, trocando a ‘choldra’ lusitana, como diria Eça, pelos confortos de uma carreira internacional.
A maldade de Barreto deve ter caído mal à esquerda, onde Augusto Santos Silva ou Mário Centeno se perfilavam já na ‘grelha de partida’, e na contagem de apoios.
Cada um conta com o seu bunker. Centeno no Banco de Portugal, Santos Silva na presidência do Parlamento. Falta a ambos um elementar carisma para se exporem numa eleição direta e personalizada. Mas que importa?
Num registo mais amplo, Santos Silva ‘mandou às malvas’ o desejo de terminar a carreira na sua Universidade do Porto, após ter demonstrado ser ministro para qualquer pasta. Na mesma linha, confessa agora que «não enjeito em absoluto qualquer candidatura, seja a ela a que cargo for, incluindo à minha junta de freguesia». Os fregueses que se cuidem…
Claro que a conversa muda de figura quando se trata de Guterres, ‘laureado’ com o cargo de topo na ONU, depois de circular por outros ofícios internacionais, algo a que o eleitor português costuma ser sensível.
Resta saber se Guterres, quase octogenário em 2026, quererá submeter-se à maçada de uma campanha eleitoral e às contingências de um sufrágio, em vez de gozar a vida.
Na peugada de Marques Mendes, à direita, há quem não diga nem sim nem não, como Paulo Portas; quem ande por aí, como Santana Lopes, sem excluir nada (inclusive o regresso ao PSD); quem afaste liminarmente essa hipótese, como Durão Barroso; e há quem se reveja em nova candidatura, como André Ventura.
Finalmente, há quem se resguarde em silêncio, sobre presidenciais e outros regressos políticos, como é caso de Pedro Passos Coelho, um dos principais ativos do PSD, que mais aflige as esquerdas, e que lidera as sondagens sem nunca ter dito uma palavra sobre a matéria. É obra!…