por Eduardo Baptista Correia
O PSD não descola nas intenções de voto. Essa é uma evidência para qualquer cidadão minimamente atento. Esta incapacidade só não parece ser reconhecida pela sua direção que se congratula, frequentemente, pelo facto de, e nas suas palavras, «só se falar do PSD» e «no largo do Rato nem dormem de tão preocupados que estão com as propostas do PSD».
Não estou nada convencido que a realidade seja essa e na minha opinião a direção do PSD dedica excesso de tempo a falar do adversário. O comentário depreciativo em vez dos argumentos com distinção e propriedade não tem capacidade de mobilização e exaltação do eleitorado. A rota da crítica não convence, não distingue e é manifestamente insuficiente. Isso, qualquer um faz, bem feito, na conversa de café.
É doloroso, para o cidadão social democrata, para o militante social democrata menos envolvido nas distribuições de cargos, o chamado militante de base, preocupado com os destinos do país a incapacidade que o PSD tem em criar agenda. A expectativa do reaparecimento, que teima em não reaparecer, do ADN de origem deste partido que tanto já deu à democracia e ao desenvolvimento do país, tem vindo ano após ano a ser responsável pela fragilidade eleitoral que o PSD tem apresentado. O PSD, que vemos, não tem um comportamento alinhado com a sua história nem com as suas características intrínsecas. O PSD que vemos é uma versão fragilizada e ténue do PSD de outros tempos; tempos mais difíceis. Faz-me até lembrar um dizer que diz assim: «Tempos difíceis, criam pessoas fortes; pessoas fortes criam tempos fáceis; tempos fáceis criam pessoas fracas; pessoas fracas criam tempos difíceis». Parece-me que estamos no tempo onde se criam gradualmente tempos mais difíceis para o PSD.
A responsabilidade de uma governação socialista tão fraca e prolongada a que o país tem sido submetido reside na fragilidade da alternativa que, aos olhos dos portugueses, consegue ser ainda mais fraca.
É evidente e esquisito que o PSD não tenha entendido o quão diferente é trabalhar e falar da realidade e projetos de mudança que o país necessita para se desenvolver, e dessa forma falar para o eleitor. O PSD fala e congratula-se com a realidade interna dos militantes, principalmente aqueles que estão lá sempre, em todos os encontros, em todos os jantares, em todos os comícios, em todas as rentrées e, por norma também, em todas as listas eleitorais. Eles são importantes, mas a direção ao ficar confortável nesse pequeno contexto ilusório (tão ilusório que nas últimas legislativas todos estavam convencidos da vitória) deixa de fazer bem feito o trabalho essencial para ganhar a confiança, a esperança e o apoio incondicional do eleitorado.
O foco e a especialidade na luta interna e no domínio do voto do militante que caracteriza a atual geração de responsáveis pelos partidos, essencialmente PS e PSD, que tem por objetivo a conquista do poder e a distribuição de fatias e parcelas desse poder, tem vindo a demonstrar uma enorme ineficácia na capacidade de exaltação e convencimento do eleitor e, ainda mais grave, tem sucessivamente demonstrado, e já vão umas décadas desta infeliz demonstração, uma enorme impreparação para governar. Uma enorme impreparação para fazer o trabalho bem feito.
Vai ser difícil sairmos do lugar ‘paradinho’ onde nos encontramos.
Sem fazer bem feito, é impossível.