Pelo amor de Deus não percam!

Editores apresentaram na semana passada as novidades da rentrée literária. Os dados estão lançados.

História, ciência, biografia, thriller, romance, infantil, BD, saúde, auto-ajuda, poesia, ensaio e até um «livro-bomba»: na semana passada, alguns dos maiores grupos editoriais do país revelaram as suas apostas até ao fim do ano e estão previstos lançamentos para todos os gostos.

Começando pelo grupo Leya, já publicados e à venda estão O Italiano, de Arturo Pérez-Reverte, romance passado na II Guerra Mundial; Um Golpe no Céu, de Jeanine Cummins; Noite, o clássico de Elie Wiesel sobre a sua experiência em Buchenwald; Seios e Óvulos, de Mieko Kawakami, passado na Tóquio contemporânea; Cidade da Vitória, o mais recente romance de Salman Rushdie; e A Verdadeira Guerra – A Invasão da Ucrânia e a defesa nacional portuguesa, de Nuno Rogeiro.

Mais para a frente, em português, podemos contar com o segundo volume das crónicas de Lobo Antunes, romances de Germano Almeida (Desventuras de um governador nos Trópicos), Mia Couto (Compêndio para desenterrar Nuvens) e Rodrigo Guedes de Carvalho (As cinco mães de Serafim). Em tradução, SAS – Heróis Fora da Lei, de Ben Macintyre. O autor, que tem assinado algumas das melhores histórias verídicas de espiões dos últimos anos, agora debruça-se sobre «a unidade especial do Exército britânico que tinha carta branca para lançar ações temerárias […] durante a campanha do Norte de África». Ainda no capítulo da história, Terra Sangrenta – A Europa entre Hitler e Estaline, de Timothy Snyder, A Hora dos Lobos – A vida dos alemães no rescaldo do III Reich, de Harald Jähner, e uma concisa História de Portugal de Cor e Salteada, de Maria João Lopo de Carvalho.

No campo da BD, haverá novos Lucky Luke, Asterix – O Íris Branco e uma edição comemorativa do 60.º aniversário de Tintin – As Joias de Castafiore, a partir dos originais restaurados.

Livros, comida e poesia

O grupo Bertrand-Círculo apresentou as suas novidades na Casa dos Bicos quinta-feira – nada menos do que 80 títulos nas mais diferentes áreas. Destaque para Aquilino Ribeiro, nos 60 anos da sua morte, com a publicação do seu primeiro romance, A Vida Sinuosa, com introdução de João Soares, a que se seguirá Geografia Sentimental, com prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa.

Especializada nas ciências humanas, a Temas & Debates propõe A Terra tem Sede, de Erik Orsenna, um retrato de 33 rios da Terra; No Fio da Navalha – Portugal e a Defesa do Império (1961: abril a novembro), do «grande mestre Valentim Alexandre», como se lhe referiu a editora Guilhermina Gomes; uma história dos povos nómadas, de Anthony Sattin; Uma Nova história da Europa Central – Os Reinos do Meio, do historiador Martin Rady, de quem a chancela já publicou o excelente Os Habsburgos; Rebeldes Magníficos – Os primeiros românticos e a invenção do eu, sobre a geração romântica, por Andrea Wulf, autora que já nos deu uma biografia do naturalista Alexander von Humboldt; Os Rostos que Tenho, o «testamento literário» de Nelida Piñon; e, por fim, A Bíblia tinha mesmo razão? As Histórias de Israel e o Israel da História, de Francisco Martins, «um jovem padre jesuíta» que estudou por toda a Europa, Israel e EUA e se encontra atualmente no Vaticano.

Computação quântica (Supremacia Quântica, de Michio Kaku), a revolução cultural chinesa (Memória Vermelha, de Tania Branigan), a história de um espião duplo na Guerra Fria (O último homem honesto, de Benjamin Cunningham) e a vida do filho ilegítimo de Cristóvão Colombo (o premiado O memorial dos livros naufragados, de Edward Wilson-Lee) são tema de outros tantos livros da Bertrand.

Com o selo da Quetzal, já saiu o «livro-bomba» O Sexo das Mulheres, de Anne Akrish, sendo publicadas ainda este mês as Memórias de uma menina bem comportada, de Simone de Beauvoir. Em outubro chegam romances de Sérgio Godinho (Vida e morte nas cidades geminadas) e Henrique Raposo (As três mortes de Lucas Andrade) e uma biografia de um homem que é também uma biografia de um país, Vidas e Mortes de Abel Chivukuvuku. Uma biografia de Angola, de José Eduardo Agualusa. Francisco José Viegas, o editor da Quetzal, anunciou ainda a tese de doutoramento de Mario Vargas Llosa, sobre García Márquez, Horácio. Poesia Completa, traduzida por Frederico Lourenço, e a Poesia Completa de Roberto Bolaño. «Vamos ser todos despedidos», gracejou, terminando com um livro sobre comida, A Mercearia do Mundo, de Pierre Singaravélou e Sylvain Venayre (orgs.). «Pelo amor de Deus, não percam!», apelou. «É uma história da globalização da comida, desde o século XVIII até hoje».
Os fãs de bestsellers podem esperar livros de Jeffrey Archer, John Grisham, James Rollins, Stephen King e Danielle Steel, que atingiu este ano a marca dos mil milhões de exemplares vendidos.

Nomes de peso

Na quinta-feira, foi a vez do grupo Penguin Random House mostrar ao que vem. Entre os novos títulos sobressaem, na ficção, Um lugar para Mungo, de Douglas Stuart, autor vencedor do Booker; Caro idiota, de Virginie Despentes; Shy, de Max Porter; e O nome que a cidade esqueceu, de João Tordo. Na coleção Penguin Clássicos, será publicada a autobiografia de Frederick Douglass, um antigo escravo que privou com Lincoln e teve um papel fundamental na emancipação dos negros americanos. Também na não ficção, a biografia Elon Musk, por Walter Isaacson (biógrafo de Steve Jobs e Leonardo da Vinci) e dois livros de memórias de figuras bem distintas: Eduardo Ferro Rodrigues, Assim vejo a minha vida, e de Britney Spears, A mulher que há em mim.

A este catálogo justam-se ainda outros nomes de peso: Pedro Almodóvar, James Baldwin, Olga Tokarczuk, Neil deGrasse Tyson, Quino, Marjane Satrapi, Jon Fosse, Colleen Hoover e Yuval Noah Harari.

Da guerra ao cárcere

Nas novidades do Grupo Almedina para setembro, referência para História da Medicina – Uma Introdução Escandalosamente Breve, de Jacalyn Duffin; Fugitivos – Uma História dos Mercenários Nazis durante a Guerra Fria, de Danny Orbach; A Zona Interdita, de Mary Borden, os horrores da Grande Guerra descritos por uma enfermeira que os testemunhou de perto; Neve, de John Banville; e Cadernos do Cárcere – A Filosofia da Práxis Vol. 1, do filósofo marxista italiano Antonio Gramsci.