Por José Cabrita Saraiva
Algumas pessoas passam o ano todo à espera dos saldos da Zara ou do Corte Inglés para comprarem roupas e sapatos de que não precisam. Outras, como eu, aguardam pacientemente pela Feira do Livro para fazerem as suas compras. E depois há as promoções da Taschen.
Diga-se de passagem que a editora de Colónia já pratica preços muito acessíveis, especialmente se tivermos em conta a alta qualidade dos seus livros. Mas com os descontos praticados nesta época tornam-se ainda mais tentadores.
No ano passado adquiri a metade do preço The Charlie Chaplin Archives, a vida e obra do genial ator contada em 560 páginas de textos e imagens, incluindo entrevistas ao próprio e aos seus colaboradores mais próximos.
Há dois anos tinha sido um álbum de grande formato com as obras completas de Pieter Bruegel, o Velho, que alia aos estudos dos maiores especialistas reproduções espantosamente detalhadas das suas pinturas de camponeses, bêbedos, mendigos e crianças.
Supostamente, os livros em saldo seriam exemplares com pequenos defeitos, mas o facto é que nunca notei nada. Em qualquer dos casos o livro chegou imaculado, pelo que desconfio que a história dos defeitos é só um pretexto para escoar material que de outra forma ficaria demasiado tempo a ocupar espaço em armazém. Não esqueçamos que, para praticar os seus preços democráticos, a Taschen tem de imprimir em quantidades industriais.
Para este ano tinha planeado adquirir Libraries, de Massimo Listri, um volume imponente e luxuoso que proporciona uma viagem pelas mais belas bibliotecas do mundo. Um sonho para qualquer bibliófilo. Mas esse livro, que no ano passado estava com 50% de desconto, este ano estava ‘só’ com 40% – com a agravante de que acaba de sair uma edição de pequeno formato que custa uma fração do preço da original. Na dúvida, não adquiri nem um nem outro.
Mas passar os olhos pelas promoções da Taschen é sempre um prazer, e deparei-me com outro exemplo tentador. Trata-se do catálogo de antiguidades da coleção de Sir William Hamilton (1731-1803), um aristocrata, diplomata e arqueólogo britânico a quem Susan Sontag chamou ‘O Amante do Vulcão’. Enquanto esteve colocado em Nápoles, Hamilton dedicou-se a estudar o Vesúvio e a colecionar antiguidades, ora comprando a marchands, ora participando ele próprio em escavações. Antes de enviar a sua coleção para Londres, encomendou uma espécie de inventário ilustrado a um negociante, historiador e colecionador francês. Originalmente publicado em quatro volumes, este The Complete Collection of Antiquities from the Cabinet of Sir William Hamilton surge agora num volume único, lindíssimo… e a metade do preço.
O que fazer? Dei voltas à cabeça e cheguei a uma conclusão: é certo que comprar esse belo livro me permitiria poupar metade do seu valor; mas não o comprar também. Lembrei-me de uma frase atribuída a Benjamin Franklin: «Um dólar poupado é um dólar ganho». O que disse no início, sobre as pessoas que passam o ano à espera dos saldos para comprarem coisas de que não precisam, não se aplica só aos outros.