UE vai continuar a canalizar dinheiro e armamento para a Ucrânia. Quanto ao processo de adesão, a presidente da Comissão Europeia foi ambígua. Ursula von der Leyen piscou ainda o olho a África e deixou um aviso à China.
A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, dirigiu-se, nesta quarta-feira em Estrasburgo, ao Parlamento Europeu com o discurso anual do estado da União. Numa intervenção que durou cerca de uma hora, von der Leyen fez o balanço dos últimos quatro anos e desenhou os futuros desafios da União Europeia.
No último discurso antes das eleições foram abordados temas estruturantes como o apoio à Ucrânia, a economia, a ação climática, a inteligência artificial, o apoio industrial e agrícola, a reforma da migração, o alargamento e os jovens. A presidente adotou uma postura otimista, focando-se nas realizações da sua administração e, ainda que não tenha expressado o desejo de reeleição, vários aspetos do discurso podem levar a essa interpretação. É uma manobra normal, já que assumir a recandidatura e apresentar promessas com um ano de mandato pela frente é arriscado, podendo ser vítima de bloqueios durante a campanha política.
Ucrânia e alargamento
Quanto ao conflito na Ucrânia, von der Leyen manteve a posição que defende desde o início: as ajudas vão continuar a chegar, em dinheiro e armamento. Já as sanções económicas foram abordadas de forma breve, o que pode significar que a UE já fez tudo o que estava ao seu alcance para atingir a economia russa e espera pelo efeito das medidas que, até à data, não têm tido relevância significativa na robustez económica do Kremlin. A presidente apontou o dedo a Vladimir Putin na matéria das migrações e de segurança, acusando a Rússia de estar «tanto a influenciar como a beneficiar do caos» em África, principalmente na região do Sahel, tendo referido a «sucessão de golpes militares» que ali se tem registado. Na sequência destas declarações, von der Leyen ‘piscou o olho’ a África, afirmando que se deve «demonstrar em relação à África a mesma unidade de objetivos» que foram demonstrados à Ucrânia e acrescentando que é necessário «desenvolver uma parceria mutuamente benéfica e que se centre em questões comuns à Europa e à África». Se dúvidas houvesse de que a Europa quer afirmar-se como garante da estabilidade internacional, elas ficaram desfeitas.
O alargamento da UE, principalmente a adesão ucraniana, foi também um tema em relevo. Von der Leyen reconheceu que não será fácil, mas que a Ucrânia e outros países candidatos mostram «determinação […] em fazer reformas». Sem se comprometer com uma data, a presidente assumiu que o «alargamento pode ser alcançado mais rapidamente» e que é um «catalisador de progressos». Estas declarações salientam a linha otimista adotada por Bruxelas, mas são ambíguas. Na história da UE, os alargamentos foram feitos em enquadramentos geopolíticos favoráveis, o que não é o caso; além disso, é necessária a aprovação do Parlamento e do Conselho, ficando assim refém dos resultados eleitorais.
IA e desafios económicos
A ação climática e o Pacto Ecológico Europeu também foram temas em destaque, com a responsável a reforçar que a ambição neste sentido é para manter. Relativamente à transição digital e à Inteligência Artificial, alertou para os riscos e a consequente necessidade de criação de um órgão regulador. Já no plano económico, apontou três grandes desafios: a inflação, a escassez de mão-de-obra e a necessidade de facilitação a empresas europeias. Deu ênfase a Christine Lagarde e ao BCE, assegurando que «estão a trabalhar arduamente para manter a inflação sob controlo». No que à competitividade europeia em relação à China diz respeito, von der Leyen anunciou uma investigação da Comissão aos subsídios estatais a veículos elétricos vindos da China. «A Europa está aberta à concorrência, não a uma corrida ao fundo do poço», afirmou.