Faz espécie que todos os anos a saga seja sempre a mesma e os problemas se reeditem, com os políticos e os não políticos a repetirem os mesmos discursos, de justificação ou de reivindicação, sem que nada, mas mesmo nada mude.
Como é possível???
A abertura de cada ano letivo é uma sequela da anterior sem tirar nem pôr, a não ser para pior.
Milhares e milhares de alunos não têm professores a todas as disciplinas. A uma, a duas, alguns a mais cadeiras.
Após dois anos de pandemia, com todos os seus efeitos negativos que se repercutiram nos processos de aprendizagem dos alunos, o que está a passar-se na educação pública em Portugal é uma calamidade.
O ministro da Educação, João Costa, em entrevista à RTP, veio dizer que «o problema não é novo, é estrutural e está identificado».
Aliás, sempre que se viu mais apertado e sem argumentos, lá veio a tentativa de remeter as responsabilidades para o Governo de… Passos Coelho – Senhores, o PS está no poder há oito anos, ou seja, já o dobro do tempo que esteve o último Governo PSD-CDS que estava amarrado aos compromissos assumidos pelo PS com os credores internacionais que nos salvaram da bancarrota após uma governação desastrosa nos últimos anos socráticos.
Ao contrário do que diz o ministro, o problema da falta de professores não é ‘estrutural’ nem foi herdado de Passos Coelho coisa nenhuma.
Quem não se lembra do que a esquerda malhou no então primeiro-ministro quando aquele, perante dezenas de milhares de professores sem colocação e desempregados em Portugal os convidou a abraçarem o desafio da cooperação com Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa e a participarem em programas de alfabetização e instrução de milhares de crianças e jovens, por exemplo em Angola, que não tinham quem os ensinasse?
Caiu o Carmo e a Trindade, porque, para essa esquerda que enche a boca com a necessidade de criar oportunidades para os jovens e dar condições dignas de trabalho aos professores bem como a todos os profissionais dos outros setores, com a urgência da cooperação com os povos mais desfavorecidos, com o diálogo norte-sul e outras nobres e louváveis causas, o primeiro-ministro e líder do PSD estava apenas a apelar à emigração dos nossos jovens docentes. Tudo o resto é mero verbo de encher.
Acontece, por outro lado, que todos os censos e estudos apontam para um preocupante envelhecimento da população portuguesa e para uma grave crise demográfica, com a galopante diminuição da população jovem e ativa.
Então, se a população em idade escolar está a diminuir e há 10 anos havia dezenas de milhares de docentes excedentários – e sem hipótese de colocação –, como é que o ministro João Costa diz que o problema de arrancarmos o ano letivo com mais de 80 mil alunos pelo menos sem professor a uma disciplina é ‘estrutural’ e herdado do passado?
Não, não é. É fruto, sim, da falta de estratégia e de políticas públicas do Governo PS tanto para a Educação, como para a Saúde ou para a Justiça, onde, por erro e omissão do poder executivo, os serviços públicos estão cada vez mais degradados.
João Costa está no Governo e com responsabilidades na Educação há oito anos – primeiro como secretário de Estado e, desde a maioria absoluta, como ministro. A responsabilidade pela degradação progressiva do Ensino e da instrução pública é, por isso, dele e de quem o nomeou, ou seja, o primeiro-ministro, António Costa.
É, pois, politicamente desonesto procurar assacar responsabilidades a outrem.
A César o que é de César. Ou, no caso da Educação, a Costa o que é dos Costas.
Nestes tempos já pós-pandemia, houve vários milhares de alunos que não tiveram professor a uma, duas ou mais disciplinas durante um período, dois períodos ou mesmo todo o ano letivo.
É inconcebível!!!
Mas este ano letivo que agora começa, volta a ter demasiados casos com idênticos contornos.
Não pode ser!!!
E se ainda lhes juntarmos as greves e manifestações de professores e demais profissionais da Educação que não param com o STOP, a escola pública, se já estava à beira do abismo, está mesmo a dar o passo em frente fatal.
E João Costa angustia-se é quando visita as escolas e vê «os alunos isolados e cada um agarrado ao seu telemóvel»?
Como se esse não fosse também um dos males dos ministros e secretários deste Governo, como já está mais do que visto.
Quem vira as costas aos nossos jovens estudantes é quem depois se vangloria de termos hoje uma geração mais qualificada.
Até pode ser que sim, mas não é à custa de um sistema de ensino público lastimável em que a qualificação se resume a um papel passado com timbre mas sem substância.
E aqueles que efetivamente a têm – apesar de todas as falhas do ensino público ou quem a obteve por ter a hipótese e o privilégio de frequentar o ensino privado –, perante a falta de oportunidades e de condições dignas de trabalho e de remuneração neste país, dá corda aos sapatos, porque não são uns bilhetes de comboio e uma semana numa pousada da juventude que servem de incentivo para ficar.
Antes pelo contrário!