Não é necessário ter estudado economia para saber que é a escassez que gera valor. Mas Marcelo acha que o valor é a soma dos anos vividos e que tem tanto valor quanto o valor que dá a si próprio. A psiquiatria tem nome para isto: Narcisismo.
Que nem tudo o que é contado conta e que nem tudo o que conta pode ser contado; que a compulsão de ser o primeiro a chegar é o contrário do saber esperar para que o espetáculo possa terminar. Mas Marcelo não é o ator, ele é o palco. A psicologia tem nome para isto: Egocentrismo.
Soares dizia-se o ‘gajo que lhes atira mais às trombas’, a ‘válvula de segurança’ para evitar os excessos de Cavaco. Marcelo vê-se a representar o mesmo papel, mas mudar-se para um Palácio não faz dele um rei. A Antropologia tem nome para isto: Difusionismo.
Confúcio dizia que homem sem constância não pode ser consolador nem médico e Aristóteles que o prudente não diz tudo quanto pensa, mas Marcelo acha que a sensatez lhe rouba o desatino e não ouve ninguém. Começa a ganhar mais olhares do que respeito. A Sociologia tem nome para isto: Vulgarismo.
Caetano já cantava que o narcisista acha feio o que não é espelho, Djavan que os vulgares se ferem de vaidade e Ney Matogrosso que o egocêntrico se acha Napoleão. Sim, os egocêntricos e narcisistas nunca estão errados e o mundo só gira quando eles andam. Na política há quem queira chamar astúcia à vulgaridade – os vulgares são falaciosos e os egocêntricos vingativos. E com os anos, as carências só tendem a agravar. Chama-se Idade.
Se Marcelo leu Walter Benjamim já esqueceu que a ‘Aura’ se perde na reprodução; que a autenticidade vacila e murcha quando perde a exaltação da essência. O abuso da palavra multiplicou-a em desprestígio – a aura desvaneceu-se e já não se leva a sério. Chama-se Credibilidade.
Marcelo tem os media do seu lado porque os alimenta e não tem redes sociais porque sabe que não as controla. Ele pode fazer quase tudo, que quase tudo lhe é desculpado – os jornalistas gostam dele porque ele dá sempre boas estórias. Basta esticarem-lhe o microfone. E quem pensa que com ele há improvisos, desengane-se – com Marcelo tudo é pensado para o espetáculo das televisões. Chama-se Frivolidade.
O Presidente tem a última palavra, mas Marcelo quer ter a primeira palavra; Costa tem a maioria, mas Marcelo diz que é ele quem mais ordenha; Belém faz a omissão da verdade e São Bento a sugestão da falsidade. E se um diz que o que importa são os jovens, o outro diz que mais importantes são os idosos; e se um se cala, o outro gargalha. Chama-se Infantilidade.
Enfim, enquanto o ‘pato cazumbi’ rebuliça e faz ‘coé-coé’, reboliça o ´pássaro rapapé´ que do seu galho recusa fazer ‘mé-mé’. Cavaco via sorrisos nas vacas que pastavam nos prados verdejantes; Marcelo não acredita que elas voem, mas depois de um moscatel já tudo pode acontecer. Chama-se Sanidade.
Queremos um Presidente que perceba que as atitudes determinam o seu valor e não de um agitador ‘filho de Deus e do Diabo’, como lhe chamou Portas; nem de um ‘génio inútil’, como o definiu Júdice – muito menos de um ‘taki-tali-takolá’ que deforma as leis da física e não sabe estar quieto sem fazer nada. Chama-se Hiperatividade.
E ainda faltam três anos de chocalho.
Jornalista