O minarete de 69 metros da mesquita de Koutoubia, fundada no século XII, um dos ícones turísticos de Marraquexe, foi uma das estruturas afetadas pelo sismo com magnitude de 6,8 na escala de Richter de 8 de setembro.
Com epicentro no Alto Atlas, trata-se do maior abalo dos últimos 60 anos na região, que já regista 2862 vítimas mortais.
A corte real decretou um luto nacional de três dias e os esforços de resgate continuam a todo o gás.
Os sismólogos acreditam que o terramoto foi uma consequência do embate entre a placa tectónica africana e a da Eurásia, estando prevista a continuidade de ondas de choque nas próximas semanas até à estabilização dos níveis de atividade sísmica.
Ainda que localizada num país propício à atividade tectónica, a região de Marraquexe não é, regra geral, a mais afetada por catástrofes desta natureza.
O sul de Espanha e o norte de Marrocos, devido à sua proximidade com a convergência das placas, têm sido as zonas que registam o maior volume de terramotos ao longo do último século (seis em nove), tendo sido o mais grave, com magnitude de 7,8, em Granada, no ano de 1954.
A sismóloga Paula Marques Figueiredo disse à Al Jazeera que a zona do Atlas Norte é um sistema complexo de falhas que se estende por 100 quilómetros composto por várias falhas menores, o que estará diretamente relacionado com o sismo.
Consequências
O terramoto, que segundo a Organização Mundial de Saúde afetou cerca de 300 mil pessoas, arrasou localidades e monumentos históricos e aumenta o risco de crises de infraestruturas, de escassez de alimentos e até de água potável.
Apesar do epicentro ter sido a apenas 75 quilómetros de Marraquexe, a quarta maior cidade do país não foi a que mais sentiu os efeitos devastadores do sismo.
Zonas rurais, como Ouarzazate, Azilal, Chichaoua, Taroudant e principalmente Al-Haouz, foram as que mais sofreram com a catástrofe.
As equipas de resgate têm evidenciado as dificuldades nos trabalhos dada a escassez de meios, o que está a motivar críticas ao governo marroquino.
O tipo de construção utilizado no país é também um fator preponderante no insucesso dos resgates: edifícios em barro e tijolo não permitem «bolsas de ar onde as pessoas podem aguardar pelo socorro», explicou o comandante Jorge Mendes na CNN.
Os danos ao património foram também consideráveis, e até maiores do que o esperado, confessa Eric Falt, diretor regional da UNESCO para o Magrebe.
Além das fissuras no minarete da mesquita de Koutoubia, verificou-se «a destruição quase completa do minarete de Kharbouch», referiu Falt à agência France Presse.
A cidade histórica de Ait Ben Haddou, que serviu de cenário a Lawrence da Arábia e à Guerra dos Tronos, também sofreu danos, mas o responsável da UNESCO disse ser difícil «ter um inventário preciso» dos estragos provocados.
Reação internacional
Como seria expectável, a reação internacional foi imediata. «Continuamos em comunicação próxima com as autoridades em Marrocos para oferecer apoio na avaliação, coordenação e resposta ao terramoto», declarou a Organização das Nações Unidas. António Guterres reiterou a «solidariedade com o governo e a população de Marrocos nestes tempos trágicos». A ONU já fez chegar a sua ajuda aos marroquinos através de uma equipa da Unidade de Avaliação e Coordenação de Desastres.
Os marroquinos pediram oficialmente apoio a quatro nações e Portugal, que se disponibilizou para ajudar, não é uma delas: Espanha, Reino Unido, Catar e Emirados Árabes Unidos.
O que causa estranheza nesta curta lista, porém, é a ausência de França, antiga potência colonial onde vive uma extensa comunidade marroquina e, à data, maior investidor externo no país.
As relações Marrocos-França têm historicamente altos e baixos desde a independência marroquina, em 1954, e ainda que estejam estabilizadas hoje em dia, funcionando à base do comércio, investimento e turismo, esta exclusão faz soar alarmes de tensões entre os dois países.
No entanto, Emmanuel Macron desvalorizou a questão, expressando «emoção e solidariedade com a população marroquina».
Editado por José Cabrita Saraiva