1. E m janeiro de 2019, Estado e ANA SA acordam investimento de €1.300 milhões no aeroporto dual Portela + Montijo, previsto para 50 milhões de passageiros em 2050, sem recurso a fundos públicos e com acesso fácil pelo Tejo e acesso dedicado à Ponte Vasco da Gama.
Até outubro de 2022, a irresponsabilidade política ignora esta solução de aeroporto real e escolhe cinco ‘ou mais’ localizações alternativas de aeroportos virtuais. A Comissão Técnica Independente (CTI) alarga a nove ‘opções estratégicas’, após picaresca consulta ao povo português, e elabora a Avaliação Ambiental Estratégica (AAE).
A localização de um aeroporto exige base técnica sólida. Foi assim em 2007, com o Centro de Tiro de Alcochete. Não é passível de irresponsabilidade política ou alegadamente técnica.
Compreende o leitor como se empobrece o país?
2. O Governo pede à CTI opção entre ‘modelo dual’ de ‘Aeroporto Humberto Delgado e aeroporto complementar’ e um ‘novo aeroporto de Lisboa’.
A CTI exclui o ‘modelo dual’ por ‘ineficiente’ e ‘inadequado’. É erro grave por o modelo existir em cidades europeias, de Paris (Orly e Charles de Gaule) a Roma (Fiumicino e Ciampino), passando por Bruxelas (Zaventhem e Charleroi). A CTI ignora a segmentação do tráfego em Lisboa e outras cidades da Europa. Há tráfego intraeuropeu ponto a ponto de companhias low cost e tráfego de hub da companhia nacional mais o de outras companhias full service. O erro da CTI exclui liminarmente Portela + Montijo e escolhe Alcochete, única localização viável de aeroporto único.
3. A CTI transforma o ‘novo aeroporto de Lisboa’ em ‘hub’ (Cidade Aeroportuária), que atrai atividades económicas da ‘creative class’, que tirariam a economia portuguesa da estagnação de vinte anos, segundo o paradigma do ‘made in ao created in’, definido por Fernando Alexandre em estudo para a FFMS, com o qual concordamos.
Rosário Macário, responsável do Planeamento Aeroportuário na CTI, foi coautora de estudo científico de 2011 sobre os quatro fatores críticos na promoção de cidades aeroportuárias. Alcochete falha em todos. Mesmo com economia a mudar de paradigma, não se forma a Cidade Aeroportuária em espaço rural.
4. A CTI prevê 52 a 67 milhões de passageiros entre 2023/50. Doze anos de estrangulamento do tráfego no AHD implicam crescer cerca de 19 ou 34 milhões entre 2035/50, o que exclui Alcochete. Pior e inaceitável, são 12 anos de perda de receita e dano na reputação de Portugal como país, de Lisboa como cidade e destino turístico e da Economia, turística e outra. Inaceitável.
Exclusão do modelo dual, inviabilidade do aeroporto único e erro na previsão de tráfego questionam a validade da AAE. Mas, há mais.
5. A CTI ignora o planeamento urbano de Alcochete, que evite especulação imobiliária na urbe dos 12.000 trabalhadores do aeroporto e dos milhares da cidade aeroportuária. Gonçalo Byrne, presidente da Ordem dos Arquitetos, com a independência da sua vida e dos seus oitenta e três anos, é voz única a alertar para as ‘pressões urbanísticas brutais’ de Alcochete. A CTI devia exigir ao Governo ‘plano diretor’ que controle especulação imobiliária e capte mais valias para financiar infraestruturas publicas. Não o faz.
6. Montijo é pois, o aeroporto de transição que a CTI ignora, mas prioritário por limitar os danos para Portugal, Lisboa e Economia, e não excluir um futuro NAL com base em possível crescimento do tráfego. A decisão já tarda e hoje é política. l
Analista sénior turismo e transporte aéreo e militante do PS