Assisti presencial, atentamente, às duas últimas intervenções públicas do ex primeiro-ministro e ex-Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. Trazem-nos uma lucidez, coerência e intensidade a que deixámos de assistir. As intervenções que os responsáveis pela política do país nos remetem são no estilo, no modo e no conteúdo, frequentemente fraquíssimas.
Estou muito à vontade para tecer este elogio porque na realidade nunca trabalhei com o ex-primeiro-ministro e ex-Presidente e, ao longo dos anos, nem sempre me identifiquei com algumas das ações políticas por si protagonizadas. Aníbal Cavaco Silva mostra do alto da sua experiência acumulada, enquanto investigador, professor universitário e político de maior sucesso eleitoral da história portuguesa, através da escrita e publicação de mais um livro, que a responsabilidade pelo período de maior desenvolvimento socioeconómico a que Portugal assistiu desde 1974, assenta num conjunto de metodologias rigorosas na gestão governativa que acompanharam os seus mandatos. A sua experiência e ensinamentos devem não só fazer-nos refletir quanto à ausência de filtros meritocráticos para o exercício de funções governativas e, também, à forma como os grandes senadores deveriam contribuir para a solidez da continuidade dos modelos governativos. Deixar para trás o contributo da experiência e ensinamentos dos melhores é, em minha opinião, um desperdício a que não devíamos dar-nos ao ‘luxo’. Independentemente das cores políticas que cada um representa.
Na mesma senda e de algum modo proveniente de escola governativa idêntica, José Manuel Durão Barroso tem um percurso, e uma presença no mundo que justificariam, pelo menos em tese, colocar o seu nome num patamar de distinção quanto à possibilidade de ser quem, oriundo do território da política, melhor preparado está para assumir o próximo mandato de Presidente da República. A má comunicação social tem-se encarregue de trazer para a ribalta potenciais nomes para ocupar a presidência que de algum modo refletem um grau de exigência inferior e no limite alguma descortesia para tão importante cargo.
As observações anteriores tornam-se ainda mais pertinentes, numa fase em que considero existir uma indefinição e aparente falta de organização por parte do PSD em matérias centrais ao futuro do país e ao futuro eleitoral de tão importantes atos. Essa forma de estar será objeto de julgamento, positivo ou negativo, por parte dos portugueses nas próximas eleições europeias.
Perante o cenário de uma governação absolutamente desnorteada e que tanto tem contribuído para o atraso relativo da economia portuguesa, considero que a continuidade da atual direção do PSD obriga a uma vitória clara e expressiva nas eleições europeias. Só um alto nível de exigência, inovação e resultados assegurará a tão ambicionada vitória nas próximas legislativas. Para já as referências chegam em doses muito robustas de um passado saudoso construído por quem, no seu tempo, se preparou técnica e politicamente muito bem ao longo da vida e por isso mereceu a confiança dos portugueses e no caso de Durão Barroso, até dos europeus.
CEO do Taguspark, Professor universitário