Portugal à deriva

A democracia e tudo o que ela representa é o nosso maior tesouro.

Todas as Revoluções têm um objetivo, derrubar o Regime em vigor, por outro, com características opostas. Aconteceu em 1910, quando a Revolução Republicana destituiu a Monarquia Constitucional e implantou um Regime Republicano. O mesmo ocorreu com o Golpe de Estado de 1926, o derrube de um Regime Revolucionário e o início de um Regime de Ditadura, que terminou com o Golpe de Estado de abril de 1974.

A Revolução de Abril de 1974, foi sem dúvida o maior acontecimento da República Portuguesa desde a sua implantação em 1910. Deu dignidade ao ser humano e muitos direitos para todos os cidadãos. Turmas mistas, liberdade de expressão, voto livre, enfermeiras, hospedeiras, telefonistas, professoras com o direito de casar sem a necessária autorização governamental. Grupos de pessoas a poderem falar ou discutir ideias, o Dia do Trabalhador passou a ser festejado, as mulheres a ter acesso a profissões que lhe eram vedadas. Um Serviço Nacional de Saúde para todos os cidadãos independentemente da sua condição económica ou social. Um ensino público infantil, secundário e universitário para todos e tantas outras coisas que eram proibidas no Estado Novo.

A Democracia e tudo o que ela representa é o nosso maior tesouro. Mas passado mais de 48 anos será que os partidos políticos estão a consolidá-la ou a destruí-la? Muitos políticos exteriorizam que a intelectualidade, licenciados, investigadores e cientistas devem cá permanecer, mas são eles que não os solicitam para participarem no nosso desenvolvimento.

A emigração intelectual ou operária faz parte da globalização, nenhum país pode viver encerrado no seu território. Portugal ao exportar jovens recém-licenciados de qualidade, não é uma preocupação, mas um orgulho de um país desenvolvido. O Governo ou os partidos da oposição, referem sempre a dificuldade em fixar esses jovens e que é preciso criar condições de retorno. Portugal não vive com essas carências, temos médicos, enfermeiros, professores e outras grupos de ensino bem preparados, forças de segurança e outras profissões de excelência, hospitais bem equipados, universidades e institutos com tecnologia a nível global. Vias terrestres de topo, uma costa marítima de entrada para a Europa, temos bom clima e paz. Mas continuamos a ser dependentes dos subsídios europeus.

O problema é termos governos formados por comissários políticos incompetentes, com organização e gestão de mercearia. Termos uma justiça que ainda não chegou à democracia igualitária, é forte com os pobres que são presos por roubar uma galinha e fraca com os ricos e poderosos que pouco importa a natureza do crime, com bons advogados e recursos e a prescrição tudo resolve. Um país que não trata os cidadãos em igualdade nas leis e na justiça será sempre um país diminuído no seu desenvolvimento.

Existem exceções, exemplo do juiz Carlos Alexandre. Cumpre a Constituição «a justiça é igual para todos os cidadãos» ser rico, poderoso ou ocupar os mais altos cargos da Nação, para este juiz, nunca foi impeditivo de ouvi-los e julgá-los pelo delito independentemente sua condição económica, social ou política. Dou-lhe os meus parabéns pela sua retidão. Os portugueses estão gratos por esta postura.l

Professora universitária  de Gestão e Economia