OChalet Ficalho, um dos edifícios icónicos de Cascais que foi residência de veraneio de uma família nobre, foi recuperado e agora ganhou uma nova vida. A sua reabilitação valeu-lhe o Prémio Gulbenkian de Recuperação do Património – Teresa e Vasco Vivalva de 2023.
Este prémio com a chancela da Fundação Gulbenkian, no valor de 50 mil euros, distingue projetos de excelência na área da conservação, recuperação, valorização ou divulgação do património português, imóvel ou móvel.
«Notícias da Corte. Parece que sua Majestade, a Rainha, vai para Cascais, na segunda-feira, e que El-Rei a acompanhará», escrevia o Jornal do Comércio, a 11 de setembro de 1870. Foi assim que esta vila de pescadores se tornou num dos destinos de veraneio da elite portuguesa nas últimas décadas do século XIX.
O facto de a Família Real e a Corte escolherem Cascais para se instalarem parte do verão, mudou por completo a história desta singela povoação à beira-mar. Uma dessas grandes mudanças foi a construção de palácios e palacetes – a que se designa Arquitetura de Veraneio – para a instalação sazonal das famílias nobres. Um deles ainda hoje se destaca pela sua arquitetura: o Chalet Ficalho.
O edifício foi mandado construir em 1887 por António Máximo da Costa e Silva, barão e visconde de Ovar, e a mulher Maria Josefa de Mello, futura condessa de Ficalho. O pedido foi aprovado e as obras de construção arrancaram no início de 1898. O quarteirão do clube da Parada, o local onde a família real passava os dias em jogos e outras atividades, foi o escolhido para implantar o edifício. Com os telhados de forte inclinação cinzento-esverdeados, as janelas altas, as portadas vermelhas e o jardim botânico com espécies exóticas, é um dos mais emblemáticos edifícios da região.
O palacete que começou por ser residência dos Condes de Ficalho, passou depois a ser residência de férias das sucessivas gerações que o herdaram. A última dessas herdeiras Maria Chaves faz parte da quarta geração da família. A dimensão do edifício requeria uma enorme recuperação e um trabalho de restauro profundo que era necessário rentabilizar. Pelo que a sua viabilidade passou por adaptar o Chalet a uma unidade promotora do turismo.
É de realçar que a recuperação do património edificado por privados está em perfeita consonância com as políticas urbanísticas do concelho de Cascais que têm vindo a fazer uma contenção dos perímetros urbanos e a reabilitar património com grande valor histórico. A Casa Sommer, vizinha do Chalet Ficalho, o Edifício Cruzeiro, o Forte de Santo António, e, mais recentemente, o Mosteiro de Santa Maria do Mar ou mesmo o Casal Saloio, são alguns dos exemplos, entre muitos outros, do trabalho que Cascais tem vindo a fazer na preservação do seu património, não só edificado, como natural.
A recuperação e requalificação do edificado tem sido uma realidade, quer por iniciativa municipal, quer por privados, reforçando assim as condições de atratividade e competitividade do concelho, ao mesmo tempo que cria postos de trabalho e gera cadeias de valor.
Com resiliência, chegará o dia em que todo o nosso edificado histórico estará recuperado.