Sem a expressão mediática e a atenção que merecem, o país teve nas últimas semanas, a par de inúmeras realizações locais associadas à diversidade da capacidade produtiva do setor agroalimentar, dois eventos de afirmação do Mundo Rural que importa sublinhar, por serem uma importante expressão do Portugal positivo que, por regra, não é notícia.
A AgroGlobal, agora no CNEMA em Santarém, e a AgroSemana, na Póvoa do Varzim, são expressões do melhor que a nossa agricultura e pecuária têm, sendo dois bons exemplos de eventos que conciliam a dimensão profissional e comercial com atividades lúdicas que contribuem para um melhor conhecimento da realidade rural, dos seus desafios e do seu enorme potencial para a afirmação da soberania alimentar e para as exportações nacionais.
São ainda a expressão de iniciativas que, tendo partido das associações de produtores, nas suas diversas formas de organização, percorreram um caminho de crescimento, consolidação e generalização na defesa de produções específicas, como acontece com o leite na AgroSemana, ou na projeção geral do trabalho, dos desafios e dos produtos de quem trabalha a terra. Têm a assinatura de quem produz e organiza, mas já são parte do património regional e nacional do Portugal positivo.
Naturalmente, com as incertezas globais que tocam todos os setores e realidades humanas, enfrentam dificuldades e constrangimentos, mas perpassa nestes eventos uma energia positiva, uma resiliência e um sentido de compromisso com a produção nacional, de qualidade, com cheiro e sabor diferenciadores, que importa acarinhar como consumidores e responsáveis políticos.
Foi o que fiz como presidente da Comissão de Agricultura, mas também como cidadão comprometido com a defesa do Mundo Rural, das suas tradições, do enfrentar das dificuldades e de um sentido de futuro decisivo, onde se integra a inovação e a sustentabilidade.
Enfrentamos grandes desafios na produção agroalimentar, alguns globais, mas temos de ter duas preocupações especiais com as pontas da fileira, com os produtores e os consumidores.
Os produtores, porque o seu contributo para o país, que também é modo de vida, tem de ser sustentável para assegurar uma remuneração digna e padrões de qualidade de vida adequados a quem para além da atividade económica acaba por ter um papel em termos ambientais e da promoção da sustentabilidade, sobretudo quando tem um sentido de equilíbrio presente em muito do território que tradicionalmente produz com noção da biodiversidade. Tal como na gestão da floresta, a atividade e os resultados têm de ser apetecíveis, sob pena de a deriva da sobrevivência poder degenerar em estagnação e abandono dos territórios.
Os consumidores, porque podem apoiar mais a produção nacional, contribuindo ainda para a redução da pegada ecológica dos alimentos, a diversidade das culturas e a adequada distribuição dos produtos nacionais. Há hoje maior consciência e sensibilização para o produto nacional. O preço pode fazer a diferença, mas na dúvida é optar pelo que é nosso, pois também contribui para a manutenção da capacidade produtiva própria do país. É que também nesta área, a da distribuição e do consumo, há cada vez mais oportunidades digitais que fazem a ligação digital direta entre os produtores e os consumidores, com bons resultados nos rendimentos e no acesso a produtos tradicionais ou inovadores de excelência.
Conscientes das dificuldades e constrangimentos, saúda-se esses impulsos do Mundo Rural, de quem produz e de quem dá expressão ao melhor da nossa capacidade produtiva como aconteceu na AgroGlobal e na AgroSemana.