Regresso às aulas

Por cá o assunto principal foi o “Regresso à Aulas”. Ou deverei dizer “regresso aos problemas do costume”?

Querida avó,

Que semana esta com notícias catastróficas.
Terramoto em Marrocos (sempre com referência a “quando será em Portugal”?), inundações na Líbia e regresso às aulas.
No meio de tantas desgraças, existem sempre notícias que nos emocionam.

Não pude deixar de me emocionar ao ver a história de um homem, que escavou os escombros da sua casa até conseguir encontrar a mulher e os filhos, que estavam vivos.

Por cá o assunto principal foi o “Regresso à Aulas”. Ou deverei dizer “regresso aos problemas do costume”?

Efetivamente, deu-se o arranque do ano letivo, já o início das aulas, para milhares de alunos, começa um dia destes.

Não posso deixar de sentir uma certa nostalgia, sempre que se fala de regresso às aulas.

Há quarenta e cinco anos entrei pela primeira vez na escola primária. Num edifício muito velho, que hoje já não existe. No mesmo local nasceu um supermercado. Podemos não ter escola, mas que não nos falte a alimentação! A minha professora chamava-se D. Ana. Fiz parte das primeiras turmas onde os meninos e as meninas já estavam dentro da mesma sala de aula.

Passados estes anos nem preciso de fechar os olhos para me lembrar de como era a escola, as secretárias, o crucifixo, que na altura ainda estava pendurado em cima do quadro… e alguns (poucos) colegas, com quem ainda hoje me relaciono. 

Lembro-me, acima de tudo, da emoção nos olhos da minha mãe. Espelhavam a ansiedade e o receio desta nova etapa da minha (nossa) vida. Novas rotinas, novas obrigações, saber lidar com professores e novos amigos, muitas festas de aniversário de colegas… e os pais também com novos amigos.

Não foi fácil lidar com a ansiedade e a insegurança. Será que vou gostar? Será que vão gostar de mim?

Recordo a alegria que tal me proporcionou e, no final do primeiro dia de aulas, concluir: «Gostei muito destas novas experiências. Amanhã quero voltar».

Hoje, tudo se esfumou.

Bjs

Querido neto,

Foi uma semana intensa de notícias e nenhuma delas foi animadora! O terramoto em Marrocos (não imagino como ficará aquele país onde fui tantas vezes), as mortíferas inundações na Líbia e, como não podia deixar de ser, o Regresso às Aulas (e às greves dos professores).

Se os miúdos de agora soubessem que, há muito tempo (na pré-história…) o regresso às aulas era só na 2ª semana de outubro, também faziam greves e manifestações em todo o país a exigirem imediatamente o regresso ao passado.

É verdade! Três meses de férias! Lembro-me de passar um mês na Praia do Guincho, outro mês em Caldelas (campo) e o outro nas vindimas.

Dava para estarmos cheios de saudades da nossa escola, dos nossos colegas, das empregadas, e até (só às vezes… ) das professoras.

Agora, mal tiveram tempo de esvaziarem as mochilas… e já estão a enchê-las novamente. Digamos que agora as férias são assim uma espécie de fim de semana (muito) prolongado.

Claro que, para os pais, as férias de agora devem ser uma bênção! Noutros tempos, três meses com a miudagem em casa – e eles a terem de ir trabalhar, e a pensarem onde é que os vão deixar…

Mas, no meu tempo, o regresso às aulas era uma alegria! Havia uma sessão solene, uma professora fazia o discurso da praxe (havia uma professora de Moral que acabava sempre «e quero que saibam que seja onde for estarei sempre pronta a servi-las»).

E quase todas recebíamos prémios e diplomas. Bastava nunca termos faltado – e recebíamos o “Diploma de Assiduidade”.

Se ficávamos no “Quadro de Honra” (quando tínhamos tido numa ou várias disciplinas médias superiores a 14 valores) recebíamos livros, um por cada disciplina com essa média. E eram livros muito bons, nada chatos, nada para “nos ensinarem coisas”. E éramos muito aplaudidas e beijocadas.

Palavra que ainda hoje, quando me lembro desse regresso às aulas, ainda sinto saudades desses tempos.

Bjs