A frase era dita na brincadeira pelo meu amigo Gigi, que gostava de me ‘picar’ sempre que se discutia algum assunto mais polémico: «A culpa é dos jornalistas», dizia. Nos velhos tempos de sacanagem eu não deixava de rir, discordando, obviamente, e argumentava que os jornalistas têm a obrigação de informar, dando os diferentes pontos de vista em discussão. Sou do tempo, e já pareço o Velho do Restelo, em que a notícia não se confundia com a opinião. Hoje, infelizmente, sou obrigado em concordar com o meu amigo em muitas ocasiões.
Vejamos o caso das eleições da Madeira. Miguel Albuquerque disse, antes das eleições, várias coisas, algumas contraditórias, até para não se comprometer. Ao Nascer do SOL, uma semana antes, depois de questionado sobre as contradições, disparou: «Se não tiver maioria absoluta tenho muito poucas condições de formar governo». Interrogado se fosse ‘forçado’ a fazer uma coligação, esclareceu: «Com a Iniciativa Liberal é mais fácil entendermo-nos». Mas apesar destas afirmações ao SOL e a outros meios, os novos donos da verdade insistiram que Albuquerque tinha sido muito claro ao dizer que só governaria com maioria absoluta. Os jornalistas de serviço, principalmente os palpiteiros televisivos, já não querem saber da verdade, apenas lhes interessa olhar para o seu umbigo e transformarem as suas palavras em lei. Estão piores do que Cavaco, que dizia que não lia jornais. Peçam então o cliping antes de ditarem sentença definitivas e absurdas. E, confesso, não percebi por que razão não foi realçado um dos grandes vencedores da noite, o Juntos Pelo Povo, que quase dobrou a votação, tendo conseguido eleger cinco deputados. Para terminar este assunto, é completamente insólito que um caçador, como lembrava o Correio da Manhã, tenha feito uma coligação com o Partido dos Animais e Natureza (PAN). Imagino o que será um hipotético jantar com Albuquerque e a jovem do PAN, Mónica [queijo Limiano à moda do Funchal] Freitas. A ementa terá caça e masturbação, uma atividade muito querida para a deputada amiga dos animais e, ao que se diz, do Pai Natal.
Por falar em animais, agora que as férias estão a chegar ao fim, quando saí da praia, vi um cenário que me deixou baralhado e me levou a pensar se o sol me tinha afetado a visão. Então não é que vejo uma mulher com um carrinho de bebé com um cão lá dentro tentando o pobre bicho, de todas as maneiras, saltar para o chão. Um dia depois, um homem que estava nas proximidades na praia discutia ao telefone com a mãe. A conversa estava a deixar-me indisposto e ainda fiquei mais quando o homem desligou a chamada, e passou a explicar à sua mulher a razão de tanta fúria: «A minha mãe não percebe que não pode andar sozinha na rua e isso deixa-me doido. Como é que não entende isso?», vociferava o homem. Pelo meio percebi que a mãe chorava com a insinuação do filho que o melhor seria ela era ir para um lar. O mundo está mesmo de pernas para o ar. Os cãezinhos ocupam os lugares dos bebés, os velhos são despejados em lares. l
P.S. – Voltando à culpa dos jornalistas, as três jovens histéricas que atiraram os ovos com tinta ao ministro Duarte Cordeiro são consideradas ativistas. Se, por acaso, o ministro tivesse sido atingido nos olhos e ficasse com problemas de visão os jornalistas continuariam a dizer o mesmo? E se fossem do Chega? Continuariam a ser ativistas? É este duplicidade na informação que fortalece as forças extremistas.
vitor.rainho@newsplex.pt