A recente moção de censura que o CHEGA apresentou foi mais uma prova do desnorte do PSD. O debate nunca foi se o PSD deveria ou não, votar favoravelmente a moção de censura que o CHEGA apresentou. O debate deveria estar neste ponto: merece o governo do PS, liderado por António Costa, levar com uma moção de censura pela governação desastrosa que tem conduzido o país ao caos? Há alguma dúvida que este governo já deveria ter caído e que já deveríamos ter ido para eleições antecipadas? Que o PS desprestigiou as instituições políticas, arrastou para a lama o nome do país, que degradou os serviços público e que não é capaz de responder aos problemas dos mais pobres e vulneráveis da sociedade que são cada vez mais e em piores condições? O PSD não estaria a alinhar-se com o CHEGA, estaria a mostrar-se contra a governação do PS. Não era uma moção sobre o seu posicionamento em relação ao CHEGA, era uma moção sobre a governação de António Costa. Tão simples quanto isto.
É evidente que a reação de Luís Montenegro foi péssima: “Não somos o partido das moções, somos o partido das soluções”. Ficou-lhe mal, porque provavelmente terá de apresentar uma moção de censura até ao fim da legislatura e porque não percebeu quem é o seu verdadeiro adversário. No fim, vamos concluir que Luís Montenegro não é tão diferente de Rui Rio no essencial, ambos acreditam que o poder vai cair ao PSD nas mãos em qualquer ponto da História. Têm mais medo de perder do que vontade de ganhar.
Por outro lado, é evidente que as mais recentes eleições na Madeira e os seus resultados, trazem um problema muito grave para o PSD. Ao coligar-se com o CDS, ao falhar a maioria absoluta e ao aliar-se com o PAN. Uma coisa deve ficar clara: o PSD escolheu este caminho e pelo meio, deixou o CDS numa posição ainda mais delicada. Ou seja, pouco conta o CDS. Fazer um acordo com o PAN não era a única alternativa. Devia ter procurado entender-se com o CHEGA! ou podia ter-se encontrado com a IL. Poderia ter negociado com o PS, um acordo de “moderados”. No limite, poderia não negociar com nenhum, levava o seu programa a votos no parlamento regional e deixava a oposição com o ónus de permitir a viabilidade governativa. Não o fez. Escolheu o PAN, foi uma traição grave ao património social-democrata. Ainda não li o acordo, irei ler, mas o princípio será muito complicado de ultrapassar, é a subjugação do personalismo cristão ao animalismo radical. É uma fronteira que se for ultrapassada, dificilmente poderá ser ignorada no futuro.
Numa semana, Luís Montenegro e o PSD cometeram dois erros de cálculo imperdoáveis: abdicaram do espírito de iniciativa política e a ânsia de manutenção de poder valeu-lhes de tudo, até o que jamais poderia ser aceite em tempo algum. Se até aqui, o PSD esteve num dilema entre, vencer eleições e governar ou agradar a socialistas, parece-me que agora o rumo é irreversível. A degradação do PSD será mais lenta do que a do CDS, por isso mais penosa para o país, mas está em marcha. O PSD começou a semana a abster-se na moção de censura que o CHEGA apresentou, a excluir um acordo com o CHEGA na Madeira, e por fim, a excluir qualquer acordo com o CHEGA para o futuro do país. O PSD começou o ano político forte no combate ao CHEGA, muito fraco no combate ao PS. Escolheu o seu caminho, poderá ser o tempo de ter de pensar noutras soluções à Direita, mais estruturais, menos circunstanciais.