Na ausência de desígnio estratégico cimentado em convicções alicerçadas em pensamento filosófico, em princípios claros e estruturais, surgem as posições de ocasião relativamente às quais se torna difícil a compreensão e o contraponto. É assim que entendo o modo de funcionamento, nas últimas décadas, do debate e decisão política em Portugal. O nível de exigência e o resultado são muito fracos.
A fragilidade dos argumentos e a velocidade com que se apresentam, avulso, ideias e propostas constituem a demonstração de uma enorme irresponsabilidade e falta de maturidade por parte da classe política dominante. A atualidade portuguesa mostra de forma muito clara a impreparação para a governação reformista e estratégica dos líderes políticos, com particular destaque para os do PS e do PSD. Demonstram, ambos, um grau de incapacidade para pensar, refletir e tomar decisões que coloquem como prioridade a estrutura de resolução dos diversos problemas, evidentes, que a sociedade enfrenta.
Na habitação, nenhum dos dois foi capaz de assumir a necessidade de revisão da lei dos solos. Um por receio da reação da esquerda mais radical, irresponsável e perita na desinformação, o outro, porque essa lei foi aprovada pelo Governo Passos Coelho e a matriz de pensamento básico determina que não se coloca em causa medidas de uma governação aparentemente ‘sagrada’. Um desastre que afeta essencialmente os jovens e as famílias mais carenciadas. Apenas a título de referência e bom exemplo, a Câmara Municipal de Oeiras tem demonstrado uma capacidade ímpar, em Portugal, para contrariar essa tendência, e o seu presidente, Isaltino Morais, tem, publicamente, explicado o modo como a grave crise de habitação em Portugal pode ser resolvida. Seria de bom tom, para o bem da sociedade portuguesa, ouvir e aprender com quem tem provas, inequívocas, de fazer bem feito.
Na educação temos assistido de forma inteiramente irresponsável à manutenção de um regime soviético que em nada promove o desenvolvimento do sistema educativo e que em última instância prejudica gravemente a educação dos jovens e a sustentabilidade de futuro, num mundo mais global, da sociedade portuguesa. Dar mais autonomia a cada escola no modo como recruta professores, como implementa currículos e como se adapta às circunstâncias socioeconómicas e familiares da região onde está inserida constitui um incentivo à responsabilidade e melhoria do ensino. Ao Ministério da Educação compete, nesse modelo, avaliar e recomendar práticas, processos e materiais. Os líderes do PS e do PSD preferem acusar-se mutuamente em vez de entenderem que, no ensino o modelo de centralidade e planeamento soviético constitui o entrave ao desenvolvimento e pacificação do sistema. Nenhum dos dois tem capacidade para colocar em causa o sistema de jobs for the boys que invadiu os ministérios e que emperra, por incompetência, o desenvolvimento.
Por fim, da Madeira, veio a demonstração da ausência de estratégia no PSD e a falta de estima e reconhecimento pela capacidade de liderança do ‘líder’ do partido. A decisão de Miguel Albuquerque no acordo com vista à constituição de governo regional é demonstrativa de um espírito mais aberto e criativo, que faz falta na política portuguesa. Deixa, contudo, a nu e ridiculariza a posição e forma de estar da atual liderança. Os tempos não se avizinham fáceis para o PSD e espanta-me a incapacidade e lentidão que o partido ostenta perante a evidência da incapacidade.
CEO do Taguspark, Professor universitário